Um mar de carros peja as artérias da cidade, como se fossem canais de um grandioso rio que afluem ao sabor da corrente, ramificando-se por todas as ruas, por todos os espaços.

Nos cruzamentos mais caóticos, gesticula um polícia sinaleiro impecavelmente vestido, dedilhando por entre as luvas imaculadamente brancas, as prioridades concedidas. Não que adiante de muito, o trânsito está completamente manietado, sem hipótese de fuga, nem para um lado nem para outro.

O semblante do policia é alegre, não fosse estar no país dos sorrisos, passando a ideia de que tudo corre às mil maravilhas, e que o transito fluí como areia entre os dedos.

Apesar do caos urbano e do trânsito imobilizado, não se ouve uma única buzina. Estranho comportamento, na perspectiva de um Português.

A temperatura é escaldante, preso num táxi com todo este ritmo frenético que me envolve, sinto-me embrulhado numa claustrofobia geral.

O táxi continua parado no mesmo local, passados cinco minutos, não andou nem dois metros.

Decido pagar e continuar a pé, seguramente uma forma mais rápida de me deslocar.

Banguecoque é conhecida entre os Tailandeses como Krung Thep, quer isto dizer “Cidade dos Anjos”, forma abreviada do nome completo com mais de 150 letras.

A cidade não pára, tem um ritmo trepidante. Os cerca de 7 milhões de habitantes não deixam a metrópole dormir, associada também aos elevados níveis de poluição, excesso de ruído, e um trânsito de deixar louco o mais calmo dos Europeus.

O excesso populacional, deriva do facto de muitos aldeões na esperança de uma vida melhor, refugiarem-se na cidade à procura de emprego.

A cidade está sobrelotada. Muitos jovens auferem uns míseros dólares, para viverem esta experiência urbana, residindo em dormitórios onde por vezes habitam mais de 10 pessoas por quarto, na expectativa de enviar dinheiro para as famílias que vivem nas aldeias.

Sentei-me num colorido tuk-tuk, para tentar fintar o caos urbano.

”Para onde quer ir?”

”Para qualquer local mais calmo.”

”Está a gostar de Banguecoque?”

”Não sei. Acabei de chegar.”

”Ama-se ou odeia-se, mas ninguém fica indiferente”, disse rindo-se de soslaio.

Dei comigo junto ao rio Chao Phraya. O tráfego no rio, não deixa de ser frenético também. Tudo o que flutua, pontilhava o rio tentando preencher todos os cantinhos de água a descoberto, desde barcos táxis, barcos a remos, canoas, barcos grandes, barcos pequenos e até motos de água. Fiquei uns minutos a observar e a reflectir, como será possível navegarem a esta velocidade, rasantes uns aos outros sem chocarem?!

O ar é mais respirável, mas a agitação continua aqui como em qualquer outro local da cidade, por mais recôndito que seja.

A vivacidade da cidade contagia de forma indescritível, e sempre acompanhado de um sorriso gentil, que me aguarda a cada esquina.

No lado Oeste do rio, detenho-me perante o Wat Arun. Este monumento é considerado um dos pontos de referência mais notáveis da cidade, também conhecido como o Templo do Amanhecer. O seu nome deriva de Aruna, a deusa Indiana do amanhecer.

A sua imponência é extraordinária. As escadarias íngremes e intermináveis, quase permitem tocar no céu, possibilitando uma visão maravilhosa sobre a cidade, que fervilha cá em baixo.

As paredes de influência Khmer são incrustadas com milhares de pedaços de porcelana, dotando-o de uma beleza única.

O sol continua escaldante, quase que me torra o cérebro. Parado junto ao rio, aguardo o barco táxi que me transportará até ao outro lado. Na outra margem espera-me a cidade antiga, o coração espiritual e histórico onde abundam os templos e santuários.

Fico estarrecido defronte de Wat Pho. É não só o maior, como o mais antigo templo da cidade, datado originalmente do século XVI. Este templo, além de ser um conhecido centro de medicina tradicional, é também o principal centro de ensino público da Tailândia.

O ambiente é acolhedor e silencioso junto do Buda reclinado. É uma imagem de tijolo e gesso dourado com 46 metros de comprimento, preenchendo todo o Wihan. Jovens antes de partirem para a escola, e homens de fato e engravatados no percurso para os seus empregos passam por aqui, para colarem finíssimas folhas de ouro sobre a imagem. Outros há, que preferem oferecer incenso, flores de lótus ou botões de jasmim, impregnando o ar de um aroma perfumado.

Nas solas dos pés do Buda reclinado, apresentam-se notáveis imagens de madrepérola representando os 108 lakshanas, que são os sinais auspiciosos do verdadeiro Buda.

O maior monumento budista do mundo, o Phra Si Sanphet Chedi encontra-se aqui, com a estrutura em forma de sino, contendo os restos de uma imagem sagrada do Buda.