A tarde encobria-se, estava eu sentado num “Dhow”, um pequeno casco de madeira com velas artesanais de forma triangular. Dirigia-me para a capital Stone Town.

Contornávamos as pequenas ilhas verdejantes cobertas de palmeiras e coqueiros, de areias brancas como a cal, que se atravessavam pelo nosso caminho, pontilhando um mar azul-turquesa que me ofuscava os olhos com um brilho deslumbrante.

É difícil pensar numa forma melhor para descobrir esta ilha mágica, repleta de romantismo, encanto e charme.

O seu nome é Zanzibar.

Este nome sempre permaneceu escondido no meu imaginário, mesmo antes de saber onde se situava.

“Z-a-n-z-i-b-a-r”, soletro.

Recordo-me de ter escolhido esta palavra misteriosa, soletrando-a vezes sem conta como se fosse uma fonte de inspiração.

Hoje consigo perceber que este lugar sempre fez parte de mim, mesmo sem nunca ter cá estado antes. Feliz por estar a chegar, estava desejoso para descer do “Dhow” e finalmente poder pisar a terra prometida.

A ilha encantada com nome mágico “Zanzibar” também é denominada de Unguja. Com apenas 85 quilómetros de comprimento e 30 de largura, é juntamente com a ilha de Pemba a principal de um arquipélago a cerca de 40 quilómetros da Tanzânia.

Muito antes de mim, esteve aqui Vasco da Gama que, na sua rota para a Índia vindo de Moçambique, em 1498, descobriu este paraíso perdido no meio do Índico. Zanzibar permaneceu sob o domínio dos portugueses durante 231 anos, período após o qual foram expulsos, em 1729, pelos árabes de Omã que tomaram conta do território em definitivo.

Pouco resta dos vestígios lusos por estes lados, além de dois canhões em bronze expostos na entrada principal da Beit-el-Ajaib (Casa de Assombros).

O Fascínio de Stone Town cria em mim a tentação de imaginar que entrei num conto de fadas. Ao longo dos passeios estendem-se casas apalaçadas, com enormes portões de madeira e ferro, tendo a capacidade de surpreender em cada esquina.

Nas ruas sente-se o fervilhar do povo, normalmente a tomar chá à entrada das lojas ou simplesmente em plena praça.

As ruelas são labirínticas e estreitas, e se estivermos de braços abertos estilo Cristo Rei, resta-nos um palmo de cada lado para tocar em cada uma das paredes, corroídas pelo tempo.

Toda a cidade está envolta em mistério, dando a ideia de que o tempo não passou por aqui. No fundo é como se tivesse continuado sem o contar desde há muitos anos a esta parte.

É uma África maioritariamente muçulmana, o que se constata desde logo na arquitectura e na forma de estar das pessoas, nos seus hábitos, nas suas vestes, no seu linguarejar.

A cidade de pedra transpira misticismo como se estivesse encantada, contagiando quem a visita. Já foi um reino de príncipes e princesas árabes, e talvez por isso crie e sensação de que estamos a viver um conto de fadas.

Percorro as ruas e apetece-me ir atrás do meu olfacto. Cheira a especiarias, café torrado, cravinho e baunilha. O odor é agradável, como se fosse atraído por uma fragrância que deambula pelas ruelas e me obrigasse a segui-la e explorar rua a rua, casa a casa, rosto a rosto.

As crianças são atraídas pela máquina fotográfica, ao contrário das mulheres que têm como primeiro instinto cobrir o rosto com o véu e apressar o passo.

Não resisto e entro no mercado para captar todos aqueles rostos de diferentes origens, os seus traços, a sua tez. São as características que acabam por ser o principal encanto deste lugar.

Olho ao meu redor, vejo as ruelas estreitas, os artesãos, os velhos bazares, as pequenas lojas vazias com os lojistas cá fora a tomar o seu chá e as mulheres cobertas dos pés à cabeça com Kangas de cores garridas. Fecho os olhos, absorvo o pulsar da cidade, inalo o aroma das especiarias e sinto-me um sultão.

O ambiente é das mil e uma noites, coberto de sedas e velas bruxuleantes ao sabor do vento. O sol põe-se ao fundo e ainda é possível vislumbrar a silhueta dos últimos “Dhows” que regressam à cidade encantada.

Sentado num tapete, observo a calma das pessoas em tudo condizente com a música árabe envolvente.

Servem-me lagosta grelhada, o meu prato preferido. Está tudo em consonância. Penso nos pequenos prazeres da vida e nos lugares que o mundo tem para oferecer. São tantos que infelizmente não tenho tempo para os visitar todos, nem que seja pelo menos uma vez.

O dia acorda solarengo e viçoso, como que a querer deixar saudades uma vez que estou prestes a partir.

Deito-me numa cama de rede pendurada numas palmeiras junto à praia, a olhar o mar.

Há uma agradável brisa que me acaricia o rosto. Poderia ir fazer mergulho ou nadar com os golfinhos, mas prefiro continuar a desfrutar este momento único e recordar tudo o que a Tanzânia me ofereceu.