O caril em pó que tão bem conhecemos, de cor amarelo torrado e cheiro intenso, muito associado à culinária indiana, não é mais do que uma invenção extremamente bem-sucedida. Admito que alguns dos leitores estarão neste momento incrédulos, pois haverá seguramente quem suponha que o caril tem origem numa qualquer planta, mas a verdade é que foram os ingleses a encontrar a mistura perfeita de especiarias, há data com interesses sobretudo comerciais, que resulta neste condimento tão apreciado.

A palavra caril aparece referenciada em escritos portugueses desde meados do século XVI, mas não se conhece a sua verdadeira origem. Há quem defenda que se trata da evolução do tâmil e malaio kali, que significa “molho”; da palavra Kari, que caracteriza as folhas de um arbusto utilizado para temperar; ou khari, um prato que se encontra em algumas regiões do norte da Índia.

Originalmente a combinação dos sabores de várias especiarias, feitas pelas famílias de países como a Índia, Sri Lanka, ou dos actuais Bangladesh e Paquistão, tinha muito que ver com o tipo de refeição a preparar e a matriz cultural do povo. Não é pois de admirar que em muitos destes países ainda prevaleçam as chamadas masalas, umas misturas de aspecto, cor e sabor diferentes, sempre destinadas a receitas culinárias específicas.

O caril inventando pelos ingleses é, por isso, inspirado nos estufados oriundos destes países e resulta na combinação específica de diversas especiarias, sementes, raízes e ervas aromáticas, de modo a obter uma mistura complexa em aroma e sabor.

A fama do caril generalizou-se de tal modo ao longo dos séculos que, para além da sua notoriedade enquanto marca e das dúzias de receitas que proliferam pelos mais afamados manuais culinários, até já foram criados os British Curry Awards – entidade que desde 2005 tem juntado empresários e famosos para distinguir os restaurantes de comida indiana, obviamente com pratos de caril, que mais se distinguiram durante o ano.

Nos dias que correm o Caril em Pó goza de todos os inconvenientes comuns às especiarias que são compradas já moídas, pois há uma acelerada perca do sabor com o decorrer do tempo, e há uma apetência para se utilizarem especiarias de qualidade inferior na sua confecção.

No entanto, para os mais desconfiados, existem hoje variadíssimos supermercados de origem indiada onde são vendidos caris de excelente qualidade. Outra alternativa é fazer o seu próprio Caril de Pó. Acha complicado? Veja a formulação que se segue e vai ver que não é.

A receita e preparação do caril

Preparar o seu caril em pó é uma tarefa muito simples, onde a principal exigência é mesmo a utilização de especiarias de qualidade. O resultado final depende muito deste factor, sobretudo no que toca à preservação do sabor e aroma.

Embora existam várias formulações para a elaboração de um bom caril em pó, que dependem muito da região onde foram criadas ou inspiradas, aquela que hoje trazemos é talvez das mais afamadas e utilizadas na gastronomia.

Ingredientes

  • 20g de Curcuma [1]
  • 20g de Sementes de Cominho
  • 20g de Sementes de Coentro
  • 10g de Gengibre em pó
  • 5g de Sementes de Funcho
  • 4g de Cardamomo
  • 4g de Piripíri seco
  • 4g de Nós moscada
  • 2g de Sementes de Mostarda da Índia
  • 2g de Cravinho
  • 2g de Pimenta preta

[1] conhecida em inglês como tumeric e frequentemente confundida com o açafrão.

Preparação

1. Comece por levar as sementes de cominho, coentro e funcho a torrar numa frigideira bem quente, até se começarem a sentir os aromas. Reserve e deixe arrefecer.

2. Com excepção das especiarias que já se encontram em pó, triture todas as outras num processador.

3. Misture agora a totalidade das especiarias e guarde num recipiente hermético até um prazo máximo de 6 meses.

Dica: Para quem não gosta muito de picante, poderá reduzir a quantidade ou variar a proporção do piripíri, das sementes de mostarda da Índia e da pimenta preta.