O Guardião do templo dos Macacos

Esta foto foi realizada em Jaipur, Índia, 2007. Depois desta imagem ter sido utilizada na capa do meu livro “FOTOGRAFIA”, passou a ser frequente perguntarem-me a história por detrás deste registo, sobretudo devido ao olhar do homem e ao contexto que o envolve.

Assim, em rigor, a narrativa tem origem noutro senhor, que não está na imagem, um guardião do templo dos macacos, o qual, simpaticamente, me pergunta se queria fumar “algo”. Eu não fumo, por isso gentilmente recusei. Ainda assim, ele acendeu um enorme cigarro de erva, fumou-o brevemente e passou ao homem na fotografia, também ele um guardião do designado tempo. Este último, entusiasmado pelo facto de eu lhe estar a fazer fotografias de forma contínua, pois procurava registar a sua face envolta pelo fumo, concluiu o cigarro de forma ávida e apressada. De seguida, o homem convidou-me para entrar numa pequena casa de cimento, situada no interior do templo dos macacos, onde me ofereceu chá. Não querendo recusar pela segunda vez uma oferta, aceitei o seu gentil convite e entrei. Enquanto o chá aquecia, o homem começou a cruzar as pernas, configurando-se numa das tradicionais posições de meditação e levantando a mão direita. Subita e inesperadamente, os seus olhos abrem-se e começa a emitir uma espécie de guinchos murmurados, entrando numa espécie de transe, fortemente influenciado pelo cigarro fumado poucos minutos antes.

Perante este cenário, tive tempo de fazer duas fotos: esta e outra de plano mais aberto. Segundos depois, estava a agradecer o convite e a sair. Não queria interromper o transe, até porque não sabia bem onde iria parar.

A Índia é um país incrível, não apenas por esta história, mas também por todas as outras, onde se sente a humanidade e a generosidade do povo indiano, numa inesquecível lição de vida.