Quem está planejando uma viagem para a Rússia, dificilmente inclui a Sibéria no itinerário. Mesmo que a região represente 60% da área territorial russa, a maioria dos turistas opta por conhecer a parte europeia do país, restringindo-se à Moscou e São Petersburgo. Quando a Sibéria não é esquecida, ela é lembrada como uma região inóspita onde só há neve e iglus.

Mas, para os aventureiros de plantão, aí vão algumas razões para se arriscar a desembarcar na parte asiática da antiga União Soviética.

Acreditem, é possível encontrar vida em meio aos rigorosos invernos de -40°C. Mais que isso, no coração da Sibéria está situada Novosibirsk, a terceira maior cidade russa – atrás apenas de Moscou e São Petersburgo –, com 1,5 milhões de habitantes.

Fundada em 1893 com a construção da ferrovia Transiberiana, Novosibirsk consolidou-se como importante centro comercial e financeiro na região. A cidade, localizada às margens do rio Ob, reafirma a tradição nacional de grandeza em suas atrações turísticas.

Rio Ob congelado
Rio Ob congelado e ponte do sistema metropolitano de Novosibirsk ao fundo
Praça Lenine em Novosibirsk
Fachada do Teatro Ópera e Ballet de Novosibirsk, localizado na Praça Lenine

O Teatro Ópera e Ballet de Novosibirsk é o maior teatro da Rússia em termos de dimensões. Maior até que o Teatro Bolshoi, em Moscou, a casa de espetáculos localiza-se no centro da cidade, na Avenida Lenine. Na mesma avenida, encontra-se o Museu de Estudos Regionais, com uma coleção que ilustra os mais de 150 mil anos de história da Sibéria e descreve a cultura nativa da população.

Em um ponto, porém, o senso comum é verdadeiro: na Sibéria faz mesmo muito frio. O que nem todo mundo sabe é que lá também faz calor. No auge do inverno, os termômetros marcam -40°C, enquanto no verão, alcançam 30°C positivos. Segundo o estudante de Direito Gustavo Gomes, que realizou um intercâmbio em Novosibirsk em janeiro último, é necessário um período de adaptação para o inverno siberiano. “No começo, até os dentes doem ao se andar na rua”, recorda-se.

As vestimentas para enfrentar o clima são uma característica local marcante. Apesar de existirem tecnologias têxteis sintéticas para situações de frio extremo, grande parte da população ainda preserva o hábito de vestir-se de maneira mais primitiva. Os mais velhos, em especial, usam ushanka, os tradicionais gorros confeccionados com peles de animais, assim como enormes e pesados casacos de pele. Pessoas de regiões mais geladas da Sibéria, como a república de Altai, possuem botas feitas de pele de urso.

Anna Afanasyeva mora em Novosibirsk, mas nasceu em Yakutisk, a cidade mais fria do mundo, que fica na Sibéria Oriental. Habituada a temperaturas de até -60°C, ela mostra suas botas de pele de urso e explica que é um item que se utiliza por décadas. “Uso a minha há uns dez anos.” De acordo com ela, a atitude de matar animais para fazer roupas pode parecer cruel, mas os nativos não fazem isso por maldade e, sim, para sobreviver.

Mulher em Novosibirsk
Senhora com casaco de pele e vestimentas pesadas para suportar o rigoroso inverno siberiano.

Além de ballet russo e invernos propícios para esportes no gelo, como patinação e esqui, a terceira maior cidade russa também oferece aos visitantes uma arquitetura tipicamente soviética preservada, ao contrário do que ocorre em Moscou e São Petersburgo. Os prédios são, em sua maioria, funcionalistas, inspirados na arquitetura de unidade de habitação do urbanista franco-suíço Le Corbusier. Baseados em ideais socialistas, as construções foram erguidas com o intuito de saciar as necessidades humanas e manter a igualdade e padrão entre os cidadãos.

Os turistas que gostam de descobrir a cultura do lugar através da culinária, podem se aquecer com uma porção de borche – tradicional sopa de beterrabas – e uma dose da famosa vodka russa. Afinal, a crença de que russos bebem muita vodka não é de todo falsa. Muitos deles apelam à bebida para esquentar o corpo diante das baixas temperaturas.

Para quem gosta de extremos e aceita desafios, visitar a Sibéria e Novosibirsk é fugir do lugar-comum, permitir-se ver a Rússia com outros olhos e explorar um paraíso ainda não descoberto pelo resto do mundo.

:: Escrito de acordo com a ortografia brasileira ::