É sabido que a culinária é uma excelente forma de viajar através dos sabores do mundo. E se há países onde esta prova de sabores faz parte do leque das recordações fugazes de uma viagem, outros há onde a degustação da gastronomia típica é uma experiência absolutamente inolvidável.

A Índia, que é um dos expoentes máximos na profusão de sabores, é um excelente exemplo no que toca à diversidade, intensidade e surpresa que, por exemplo, um simples prato de Turka Daal pode representar. Na culinária indiana tudo é pensado meticulosamente para atingir as mais recônditas sensações do paladar, mesmo nas mais simples das receitas.

Sendo um país quase continente, com uma população que já terá ultrapassado os 1300 milhões de habitantes, e várias regiões profundamente marcadas pela influência período colonialista – Goa é um excelente exemplo das alterações introduzidas pelos portugueses à culinária local –, a Índia apresenta-se ao mundo com um rol infindável de receitas, destinadas a omnívoros ou vegetarianos, pobres ou ricos, gordos ou magros, determinados ou desconfiados.

Os indianos, para além dos pormenores característicos da cultura, orgulham-se das receitas e pratos típicos da sua região, sempre caracterizados por aromas muito próprios, temperos que definem como especiais – as conhecidas massalas – ou, para não omitir a verdade, nomes muito pomposos para uma receita que é partilhada com outras regiões da Índia.

É por isto que não será excessivo afirmar que estamos num país onde é evidente a importância da gastronomia e, talvez mais do que isso, onde a experiência de comer na rua, provavelmente um dos locais mais inusitados para o mundo ocidental, tem um significado acrescido na vivência do viajante.

Os pontos de venda ambulante, com tachos e panelas dispostos linearmente, a fervilhar de odores que exaltam o palato, espalham-se através das ruas das cidades, oferecendo samosas e pakodas, deliciosos snacks para começar a degustação; daals e curries, sempre acompanhados de um perfumado arroz basmati ou por abundantes quantidades de chapatis – pão típico indiano; ou biryanis, os pratos de arroz frito em óleo ou ghee, característicos pelo seu apurado sabor, onde se adiciona vegetais ou carne marinada e várias especiarias. Mas se para os noviços a vontade é mesmo experienciar o quão pujante é a culinária indiana, talvez um thali – prato de grandes dimensões que combina uma quantidade generosa de pão, vários acompanhamentos, molhos e iogurte – seja a melhor forma de começar a aventura. Para os mais aflitos com as experiências mas apimentadas, diz-se que o palato pode ser aliviado com cebola crua mergulhada em iogurte ou com o famoso lassi, bebida feita à base de água e iogurte, servido doce, salgado ou na versão lassi de manga.

E se sublinho que uma viagem à Índia nunca poderá ser verdadeiramente entendida sem vencer esta prova, que é o acto de “comer na rua”, não posso deixar de lembrar que o desafio só será vencido se for feito com as mãos, sempre e sem qualquer objecto a servir de intermediário. É assim que manda a cultura indiana. É assim que a devemos viver.