Depois de infindáveis horas enfiado em autocarros que me chocalhavam o corpo, através de sinuosas e intermináveis estradas, cheguei a Muang Sing, uma pequena vila situada a norte do Parque Nacional Nam Ha.

A uma distância não superior a 10 quilómetros da fronteira com a China, este pequena vila é casa de algumas das tradicionais tribos do sudoeste asiático. São tribos provenientes maioritariamente do Tibete, Myanmar, China, Tailândia, Vietname e do próprio Laos, que encontraram nas montanhas do norte do país um lugar para viver e semear a sua própria sobrevivência.

As principais fontes de rendimento que garantem a sua subsistência são provenientes da plantação de arroz, banana, cana-de-açúcar e ópio; criação de vacas, búfalos, porcos e galinhas; e, imagine-se, da recolha da “caca” de esquilos, castores e ratos. Todos estes produtos podem depois ser encontrados no mercado, onde todas as tribos se reúnem, sem excepção, para os venderem.

Relativamente à plantação do ópio, e ainda que a mesma seja ilegal e dê pena de prisão, o certo é que é possível encontrar mulheres da tribo Akha, que tentam vendê-lo a todo o custo, esteja escondido por debaixo das pulseiras ou num canto das suas mãos. É ilegal – pode representar a tal pena de prisão ou uma multa de aproximadamente 500 dólares, o que representa um mínimo de 6 meses de salários –, mas é para elas uma forma de ganhar dinheiro fácil!

Reflectindo mais tarde sobre o assunto, deduzi que se eu soube do comercio ilegal de ópio logo no dia em que cheguei, seguramente que a vila de Muang Sing também o saberá. E se assim é, será impossível que a polícia também não esteja ocorrente da situação. Diria pois que haverá muito provavelmente uma “espécie de parceria” entre as senhoras da tribo Akha e os polícias corruptos de modo a dividirem o proveito das vendas. Como não sou interessado, isto não passa de especulação até porque não comprovei nem conheci ninguém que o fizesse. Ficam apenas os rumores que partilho convosco.

Passei 5 belos dias em Muang Sing, onde tive a sensação de retroceder 100 ou 200 anos no tempo, sem que nada tivesse mudado. Acredito que se tivesse a faculdade de viajar no tempo, seguramente que iria encontrar as mesmas construções em madeira, sem electricidade e água potável; as ruas em terra batida, onde as pessoas tomam os seus banhos; os porcos e galinhas que vivem felizes e passeiam por onde querem; ou uma dieta onde a variedade alimentar é muito limitada. E o que é que motiva o atraso no desenvolvimento de Muang Sing? Diria que, para além das limitações ao investimento naturais de um país pobre como é o Laos, são principalmente os efeitos de quase nunca se verem turistas que funciona como bloqueio ao investimento. Há talvez aqui um efeito perverso, mas talvez seja por isso que fui tão bem tratado e alimentado.