Potosi. Aqui tudo é barato. Uma viagem de autocarro, com a duração de 6 horas, custou-nos 3 euros. Uma refeição completa, com entrada, sopa, prato principal e sobremesa, custou-nos 1 euro e meio. Como se costuma dizer, comemos à grande e à francesa! Embora o repasto estivesse muito delicioso, não é isso que me traz aqui hoje. Trata-se de uma matéria que falarei mais adiante.

No dia 17, depois da tal viagem de 6 horas a que nos referimos, sempre percorrida numa estrada de terra batida, chegamos a Potosi: cidade conhecida pela grande produção de prata e cobre, mas também pelo património arquitectónico, com é o caso da Catedral Gótica, da Universidade Tomás Frias ou da Casa da Moeda.

Na companhia de alguns membros do grupo que nos acompanhou nesta cansativa viagem, fomos arranjar um quarto para ficarmos. Disseram-nos que deveríamos visitar as minas locais. Assim fizemos. No dia seguinte, ainda muito cedo, deram-nos o equipamento necessário para que fizéssemos a visita em segurança. À medida que fomos avançando através das entranhas da mina vimos o quão duro é trabalhar por aqui. Sem luz solar e com muito pouco para comer, as condições são francamente más. A dieta básica dos mineiros é constituída pelas ofertas que os turistas trazem; falo de sumos, tabaco e folhas de coca. A folha de coca tira-lhes o sono, a fome, e permite mantê-los suficientemente activos; com força para trabalhar. É trabalho duro! Existem crianças com 14 anos que aqui trabalham como gente grande. E as que não trabalham na mina vendem algodão doce na rua, cantam canções de natal ou ajudam os seus pais nas lojas locais. É realmente um país de terceiro mundo.

Extracção minério em Potosi
Extracção de minério nas minas de Potosi

Ainda que não tenha sido uma experiência nova, a visita às minas não foi algo de que tivesse gostado particularmente. Antes pelo contrário. Devo reconhecer que sou um bocado contras as minas. Como diria Thomas Moore, se a mãe natureza escondeu todos estes minérios debaixo da terra, por alguma razão foi. Escondeu os minérios, mas deu-nos os vegetais e as árvores de fruto. É certo que pode parecer um pouco idealista, mas não é só este o motivo pelo qual sou contra.

Nos dias de hoje há muita gente que deixa de comer para ter uma peça de ouro ou de prata. São opções de vida, que não posso deixar de respeitar, até porque cada um é responsável por definir as suas opções e daí fazer as suas escolhas. Um dos principais motivos que me leva a opinar contra as minas, diz respeito à quantidade do minério extraído, em grande parte destinado à produção energética, e o dano causado a quem as trabalha. As energias daqui extraídas não são renováveis e, na generalidade dos casos, as pessoas que aqui trabalham morrem precocemente (cerca dos 30 anos) com doenças pulmonares.

Não quero ser radical, mas apenas pragmático na opinião que defendo sobre o assunto. Em contraste com a exploração do minério, temos a energia nuclear. É certo que quando algo de mal acontece, o assunto é muito mais falado. Espalha-se como um acidente de avião, que em quase nada percorre o mundo inteiro. Mas qual é afinal a probabilidade de qualquer coisa de errado ou grave acontecer com uma central nuclear? É diminuta. Morrem muito mais pessoas a trabalhar em minas ou a conduzir automóveis do que em acidentes nucleares ou aéreos. E para além das inúmeras estatísticas, que a podem beneficiar, a energia nuclear é limpa.

Entendo que a indústria mineira é responsável pelo emprego de muita gente, mas são contrariedades que teriam de ser objectivamente assumidas. Acho que uma fonte de energia nuclear, bem posicionada – ao contrário do que se veio a revelar recentemente em Fukushima, no Japão, ou em muitas outras construídas há algumas décadas –, é uma das melhores soluções a nível energético e ambiental que podemos dispor no mundo. Revendo tecnicamente as centrais nucleares e as suas actuais localizações, será possível tornar (ainda) mais segura esta produção de energia quase inesgotável.