Embora já tenhamos falado do Carnaval do Rio, não falamos propriamente da cidade do Rio de Janeiro. Quando chegamos os nossos sentidos foram consumidos pela enorme euforia do Carnaval, o que na prática se traduziu na falta de tempo para desenvolver actividades mais relacionadas com o “passeio”. Durante a festividade do Carnaval houve tempo para percorrer algumas zonas de Copacabana, Ipanema e Leblon, mas sempre no meio da multidão e sem grandes oportunidades para nos apercebermos do pormenor e das características intrínsecas de cada lugar.

Depois, com mais calma, procurámos conhecer a cidade maravilhosa e há desde logo um aspecto que merece o nosso destaque: os areais dourados que percorrem a orla costeira da cidade. Não podemos deixar de reconhecer a grande beleza das praias, mas não tanto pelas suas águas, pois são muito semelhantes às nossas. Aliás, se entrarmos no campo das comparações, parece-nos que o mar tem uma ondulação semelhante há que encontramos na costa litoral portuguesa, ou não estivessem os dois países separados pelo mesmo oceano. O que não temos em Portugal é a envolvente fantástica como a que existe, por exemplo, na praia do Leblon, onde se avistam as montanhas gémeas. A paisagem é de grande beleza, com particular destaque para o período do pôr-do-sol, onde o espectáculo de cor e formas merece o deslumbre de quem por ali se encontra.

De qualquer modo, na nossa modesta opinião, aquilo que se passa fora de água é mesmo a parte mais interessante da actividade que se desenvolve na zona das praias do Rio de Janeiro. Com as temperaturas ao rubro, pois há que não esquecer que nos encontrávamos em pleno verão, a envolvente humana é considerável. As pessoas, que são aos milhares, são lindas e de aparência saudável, características que resultam da enorme cultura desportiva dos cariocas. Não será pois por acaso a abundância de infraestruturas para a prática desportiva na zona das praias. Desde os campos destinados ao futebol, voley e “jogos com raquetes”, passando pelas pistas para as bicicletas, skate e patins, e acabando nos espaços criados para prática de alongamentos, há uma variedade de opções para todos os gostos e vontades.

Escadaria de Selaron no Rio de Janeiro
Escadaria de Selaron

Durante os dias que permanecemos no Rio de Janeiro, houve uma clara tentativa para tirar partido da época do ano e do que a cidade tinha para oferecer. Neste sentido optamos por intercalar a nossa actividade diária entre a praia e o passeio pela cidade. Como não poderia deixar de ser, passámos também por uma série de favelas que, segundo o que ouvimos, já não são nada do que se via antigamente. Há a velha questão da violência e criminalidade do Rio, mas apesar de tudo o que nos possam ainda dizer, as coisas já não são bem assim. É claro que continua a haver um índice elevado de criminalidade, mas as medidas que têm vindo a ser implementadas têm contribuído para uma melhoria significativa de todos os indicadores. Sinal desta mudança de paradigma é o percurso que tínhamos habitualmente de fazer até chegar a casa, pois não estando nós no centro da cidade havia, ainda assim, que fazer mais de uma hora de caminho. Estamos a falar de um conjunto alargado de ruas, onde encontrámos sempre uma grande quantidade de “policiais”, factor mais do que suficiente para nos ter transmitido um total sentido de segurança.

Mas voltando à cidade, há que voltar a falar da zona sul do Rio, que compreende as praias e todo aquele calçadão incrível cheio de gente a fazer exercício – esta cidade é como um íman até para aqueles que têm como exercício preferido ficar no sofá. Nós também fomos levados por esta quase “febre” pela prática de exercício físico, mas não o praticámos. Apenas assistimos a um evento de futevoley e voley que decorreu na praia do Leblon, mas desta feita não nos limitamos à bancada: entramos para a zona reservada, porque acabamos por contactar o Diamantino Martins, um viajante e escritor de viagens que também se encontrava no Rio. Valeu por nos termos conhecido, pois antes desta viagem já tínhamos lido bastantes livros deste autor. Aliás, um dos seus livros faz parte da nossa biblioteca dedicada às viagens.

Esta cidade não pára e há sempre algo que fazer. As ruas estão sempre repletas de gente e a maioria das pessoas com que nos cruzávamos tinham um sorriso estampado da cara. Durante a nossa estada no Rio passamos ainda pela zona da cidade onde se inserem os conhecidos bairros da Lapa e Santa Teresa e, como não podia deixar de ser, subimos ao Corcovado para ver a cidade pelos olhos do Cristo Redentor. A cidade é maravilhosa e as vistas são de cortar a respiração. Depois de passarmos pela floresta da Tijuca, onde tudo é denso e verde, pudemos admirar uma floresta urbana que engloba prédios, favelas, montanhas e mar. É uma experiência sensorial espectacular. Agora sim, percebemos porque todas as pessoas que visitam o Rio de Janeiro se deixam apaixonar pela cidade. Nós também deixámos. Sem dúvida que o mais interessante e belo é a geografia da cidade. Sem ela o Rio seria outra coisa qualquer, mas não a maravilhosa cidade que o Cristo Redentor observa a cada segundo e protege de braços abertos.

Cristo Redentor no Corcovado
Cristo Redentor no Corcovado

Fica aqui uma curiosidade. O nome “Rio de Janeiro” tem origem com a chegada ao Brasil dos navegadores portugueses que, ao fundearem as suas naus, confundiram a Baía de Guanabara com um rio. E como descobriram as novas terras no mês de Janeiro, deram ao local o nome de “Rio de Janeiro”. A verdade é que o tal rio não existe para além do nome, visto ser apenas uma baia. Melhor, uma baia deslumbrante.

Outra coisa sobre a qual ainda não falámos é a casa onde estivemos a viver estes dias. Já referimos que o alojamento se deveu ao sistema de CouchSurfing, mas não mencionámos as pessoas com quem estivemos. Nesta casa conhecemos gente extraordinária que nos ajudou a conhecer um pouco melhor a cultura brasileira e nós, numa atitude reciproca, partilhamos também um pouco do que é a cultura portuguesa. São muitas as pontes e os laços que nos ligam. Aprendemos ainda muito sobre a linguagem e o significado das palavras que damos em Portugal e que ali podem ter um significado distorcido ou completamente diferente. O clima na casa era de tal maneira acolhedor, que acabamos por ser completamente integrados e contribuir para muitas das tarefas diárias. Nos dias que nos mantivemos na casa, conhecemos três mordomos, dois entretanto despedidos, e mais de 30 pessoas que entraram e saíram ao longo de um mês. Uma verdadeira mescla de cultura brasileira, fluminense e carioca.