Saímos da Argentina rumo ao Chile. Deixámos o primeiro país, mas com a promessa de regressar. Depois da aventura que foi a chegada à estação de autocarros de Bariloche, o longo percurso até Valparaíso foi mais uma experiência onde testámos os nossos limites. São quase 1600 quilómetros de estradas, nem sempre nas melhores condições, percorridos ao longo de infindáveis horas e com paragem obrigatória em Osorno – ponto de ligação para esta rota –, também por um período demasiadamente prolongado.

A entrada no Chile seguiu, mais uma vez, os seus preceitos habituais: as pessoas têm de se alinhar numa fila, com as malas e volumes colocados no chão, para que os cães da polícia fronteiriça os possam farejar. Nesta zona há muito tráfico de droga, em parte pela existência da Cordilheira Andina, pelo que as autoridades chilenas procuram desenvolver estratégias de forma a evitá-lo ao máximo. Além da droga, há ainda uma enorme preocupação com a propagação de doenças pois, caso não sejam suficientemente controladas, podem ter um efeito devastador para a economia do país. Um dos casos mais conhecidos deste tipo impacto é a doença responsável pela morte de metade da criação de salmões, peixe em que o Chile era à data o segundo maior exportador mundial.

Escadas de prédio utilizadas para expressão artística
Escadas de um prédio aproveitadas para a expressão artística.

Como chegámos pela manhã, ainda num período talvez demasiado madrugador para falarmos com um couchsurfer, optamos por começar a caminhar e conhecer a cidade. A primeira impressão foi: “Estamos no Rio de Janeiro”, dizíamos nós que nunca estivemos no Rio. Ou talvez no Funchal!? Valparaíso é uma cidade interessante, com o centro localizado ao nível da água do mar e vários montes a circundá-la. Estes montes, ou “Cerros”, estão cheios de pequeninas casas, cada uma com a sua cor e dispostas nem sempre da forma mais ordenada.

Seguimos para o porto da cidade. Valparaíso foi o primeiro porto do Chile, por isso, não é de estranhar a dimensão e o movimento dos marinheiros um pouco por todo o lado. Além das características comuns a todos os portos, encontramos particular interesse nas aves que buscam os restos piscatórios. Aqui, para além das comerciais gaivotas, também existem pelicanos. É um espectáculo vê-los voar lado a lado.

Depois de vermos a parte plana da cidade, começamos a percorrer parte do Cerro da Concepcíon e Alegre – os montes e bairros neles situados são Património Mundial da UNESCO. A vista desde os montes é uma maravilha. Entretanto decidimos continuar a subida do cerro, não sem antes produzirmos uma pequena discussão sobre se o deveríamos fazer. Afinal, as distâncias até são mais pequenas do que parecem, pois, quando demos por nós estávamos a entrada da casa de Pablo Neruda. Infelizmente era segunda-feira e o azar bate-nos à porta. À semelhança do que a acontece em Portugal, o governo chileno aprovou recentemente uma lei que decreta o encerramento dos museus neste dia da semana. De qualquer modo, passeamos bastante e como já referimos, a vista desde os “cerros” é muito bonita.

Depois da tarde de passeio, fomos para casa do Edmundo, o anfitrião de Valparaíso que entretanto havíamos contactado. Como tínhamos tempo e vontade, fizemos o jantar: um frango de caril. O Fred tratou do segredo que tinha o molho e ficou uma maravilha. Estávamos prontos para ir conhecer a noite. Valparaíso é uma cidade universitária. E Boémia. Por isso, há festa todos os dias da semana. Provamos o tradicional “Terramoto”: uma mistura de vinho branco doce, com groselha e gelado de ananás. Noutro bar, provamos o shot chamado “Sacrifício Maya”. Uiii… Muito forte! E para terminar, passamos para um licor local de nome “Pisco”. Claro que terminámos a noite a andar ligeiramente de lado.

Furgão pintado em Valparaíso
Arte da cidade expressa num furgão.

No dia seguinte acordámos tarde, sob o efeito de uma ligeira ressaca. Estava na hora de ir apanhar ar. Como já tínhamos feito o passeio maior, voltamos a Valparaíso para decidir o próximo destino. Seguimos caminho para a cidade mesmo ao lado, Viña del Mar. Como ouvimos falar bem, não se levantaram grandes dúvidas. É uma cidade normalíssima, talvez sem a confusão de Valparaíso, mas igualmente com muita vida. Diria que é uma cidade mais moderna, ao estilo daquelas cidades turísticas espanholas, em que Benidorm é um bom exemplo. A cada sinal vermelho é comum ver jovens nas passadeiras a desenvolverem vários ofícios: desde malabarismo a ginástica artística, tudo é possível. Sem dúvida muito bonito. Melhor, só mesmo os trocadinhos que recebem no final de cada actuação.

De regresso, o aproximar da noite diz-nos que são horas de jantar. Decidimos comer qualquer coisa tradicional, enquanto o autocarro não chegava. Foi-nos sugerido a Charrillana: um prato à base de um refogado com cebola, salsichas e carne cortada aos pedaços, acompanhado por batatas fritas.

Chegou a hora de partir para o nosso próximo destino. Fica a 6h daqui. Chama-se La Serena (A Sereia). Como é hábito, vamos viajar de noite. Não só para evitar a estadia num hostel ou assim, mas também para não desperdiçarmos o dia com grandes viagens.

Até lá, tenham o resto de uma boa semana.