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Low-cost, economia alta

As companhias low-cost revolucionaram e estão a revolucionar a forma como nos relacionamos com a ideia de “estrangeiro”. “Ir ao estrangeiro” é uma expressão que felizmente nos parece cada vez mais antiquada e hoje já não é sinónimo de um acto de luxo ou burguesismo. Pode até mesmo representar um acto de economia. A deslocação em automóvel de Lisboa a Bragança, ou do Porto ao Algarve, é mais cara do que muitos voos propostos pelas companhias low-cost para uma série de capitais europeias. Ou talvez não! Tudo depende da abordagem de cada um, pelo que este será um dos aspectos fundamentais a serem aqui aprofundados.

O advento da internet, sem o qual eu não estaria aqui a escrever, nem o leitor desse lado a ler estas linhas, expandiu a par das companhias low-cost as nossas relações profissionais, lúdicas e amorosas além fronteiras. Hoje, a mobilidade é mais uma questão de astúcia mental e não tanto uma carteira recheada de euros. Assim, vemos cada vez mais intercâmbios de profissionais e estudantes, cada vez mais casais binacionais, novas formas de relacionamentos comerciais e afectivos.

As companhias low-cost promoveram indirectamente essas relações. Agora que somos cada vez mais dependentes delas, as companhias tornam-se também cada vez menos low-cost, encarecendo as viagens de forma discreta e eficaz; com um suplemento aqui e outro acolá; poupando nisto e naquilo; aumentando as suas capacidades financeiras e diminuindo as nossas. De alguma forma elas têm que ter entradas de capital e não devemos esquecer que o capitalismo é a lei vigente. As low-cost têm de ganhar o que ganham as companhias tradicionais, senão deixam de voar e ficam a olhar o céu a partir da terra.

Como passageiro aéreo frequente uso as low-cost com muita regularidade. Contudo, para que estas se mantenham verdadeiramente low no bolso, há uma série de procedimentos a tomar. Segue-se a tentativa de abordar as principais derrapagens económicas high-cost proporcionadas pelas companhias low-cost ao viajante.

Comecemos por pensar na data da viagem. Quanto maior for a antecedência com que comprar o bilhete, mais barato este será. Há medida que os lugares disponíveis no avião forem cada vez menos, mais caro será o bilhete. Trata-se no fundo da lei da oferta e da procura. É sempre bom ter flexibilidade nas datas de viagem uma vez que, um dia antes ou depois, os preços podem ser mais baratos. Caso prolongue a estadia para ter um bilhete mais barato, não se esqueça de avaliar o quanto lhe vai custar esse tempo extra em alojamento e alimentação. Os alemães costumam comprar bilhetes, por vezes, com seis meses de antecedência, já os portugueses e espanhóis fazem-no com menos de um ou dois meses antes da partida, o que lhes encarece de imediato as férias.

Depois da data pensemos no destino. Algumas companhias usam aeroportos que ficam bastante longe do nosso destino final, encarecendo assim o preço total da viagem devido ao uso de transportes diversos – comboio, autocarro, táxi – que somos obrigados a utilizar até chegarmos ao destino final. A Ryanair é uma especialista nesse assunto, pelo que se um dia vierem a voar para Lisboa, não ficarei surpreendido que aterrem em Évora.

Se não está familiarizado com a cidade para onde vai e o aeroporto não é o mais utilizado pelas companhias tradicionais, informe-se antecipadamente sobre o custo dos transportes locais. Desconfie também dos preços muito baratos para voos madrugadores, pois face ao antecipado da hora, poderá não haver outro transporte público para além do táxi, o que inevitavelmente poderá sair mais caro que o próprio bilhete de avião.

Efectuar a simples compra do voo, é um dos actos que mais exponencialmente tem aumentado em certas companhias. Na easyJet, por exemplo, o uso do cartão de crédito por cada transacção é agora de 16€. Não há muito tempo, este mesmo custo rondava os 5€. Há no entanto algumas formas de evitar este custo, difíceis porém para o consumidor português. Os alemães têm a possibilidade de pagar por transferência bancária a custo zero; os franceses se utilizarem a Carte Bleu conseguem o mesmo; aos ingleses basta-lhes usar o Visa Electron, que funciona para o Reino Unido mas não em Portugal. Se vai para algum destes destinos e tem amigos a quem possa pedir este favor, não hesite. Caso não lhe reste outra solução senão comprar os bilhetes a partir de Portugal, certifique-se das datas para todos os voos que necessita e opte por fazer uma compra única, pois assim apenas pagará uma só taxa.

Outra regra para poupar é utilizar apenas a internet e evitar sempre os centros de atendimento telefónico, onde não só a chamada poderá ter um valor acrescentado, como pagará certamente uma taxa sobre o serviço que esta a subscrever ou contratar.

Quer viaje por poucos ou muitos dias, irá inevitavelmente fazer-se acompanhar de alguma bagagem. Ora aqui está uma das áreas que se tem revelado um dos grandes “filões de ouro” das companhias low-cost, que acredite, montam nos dias de hoje uma verdadeira e rígida operação de fiscalização na busca de alguns euros extra. Os valores e procedimentos aqui referidos dizem respeito directamente à companhia EasyJet, não querendo com isto dizer que o mesmo não seja aplicável a outras low-cost, com uma ou outra diferença.

A vantagem easyJet é podermos transportar gratuitamente uma – e apenas uma – bagagem de mão sem restrições de peso. Porem, há restrições de tamanho que são levadas muito a sério. Caso durante o embarque lhe seja dito que a sua mala excede as dimensões e esta tiver de ir para o porão, surpreenda-se, o custo poderá chegar até ao 40€. Esta avaliação poderá contudo estar dependente do aeroporto e ficará entre a boa vontade do chefe de cabine e das funcionárias do aeroporto, que decidirão, ou não, pela cobrança da mala fora do standard.

Assistente de bordo easyjet.

Normalmente o custo de colocar a mala no porão é de 11€ para cada trajecto, quando reservado na internet. O preço poderá no entanto variar consoante os trajectos e em alguns casos pode chegar aos 17€. No aeroporto custa-lhe o dobro. Se ao marcar o voo se esqueceu da reserva para a mala, pode sempre faze-lo posteriormente via internet – obviamente antes do voo -, ou em guichés electrónicos que existem para o efeito em alguns aeroportos. A taxa pelo uso de cartão de crédito não será exigida.

Tenha também muita atenção ao excesso de peso. Se ultrapassar os 20kg definidos, por apenas mais 3 quilos de excesso de peso pagará uns impressionantes 27€. Quer isto dizer que uma bagagem de porão com 23kg lhe custara no total 38€. Uma forma de evitar este excesso, e já que a easyjet não tem limite de peso para a bagagem de mão, será colocar os artigos mais pesados dentro desta mala, desde que não violem obviamente as regras de segurança impostas.

Se por acaso a sua mala de mão está a ultrapassar as dimensões porque tem demasiados objectos, retire do interior aquele casaco mais volumoso e vista-o; ponha a camisola à cintura ou sobre os ombros; e na pior das hipóteses – isto é mesmo um segredo e fora-da-lei -, arranje um saco de compras duty-free e ponha os objectos a mais lá dentro. Muito provavelmente será bem sucedido e entrara no avião sem que lhe seja retirada a sua bagagem de mão. Note-se que o saco do duty-free é permitido para além da bagagem de mão, mas uma mala de senhora a tiracolo já não.

Com estas técnicas e advertências já teremos poupado alguns euros que poderão representar algo entre a metade e o valor total do bilhete. Mas há mais onde poupar. Nas low-cost não há lugares marcados, pelo que o atendimento preferencial ou prioridade no embarque têm obviamente um custo adicional. No Speedy Boarding, por exemplo, a taxa varia consoante os trajectos e pode-lhe custar até cerca de 13€. Não é obrigatória, mas dá-lhe como principal vantagem a possibilidade em ser um dos primeiros a entrar no avião e evitar as filas de espera. Se for um passageiro habituado a andar de avião, você já sabe quais são os melhores lugares, pelo que rapidamente poderá chegar a eles. Curiosamente, eu que nunca sou dos primeiros e muitas vezes sou até dos últimos a entrar no avião, para minha grande alegria, constato com frequência que alguns dos melhores lugares estão muitas vezes ainda vagos.

Quais são os melhores lugares num avião? Embora este seja um assunto subjectivo, numa companhia low-cost não há lugar para muitas dúvidas: são aqueles onde há mais espaço para as pernas e/ou onde há menos ruído. Mas este assunto será alvo de uma abordagem numa próxima oportunidade.

Caso nunca tenha reparado, num avião low-cost o espaço entre filas é menor do que num avião de uma companhia tradicional. As cadeiras são menos confortáveis, algumas não se podem rebater e outras são mais estreitas; não há classe executiva ou qualquer outra classe intermédia. No fundo, não passa de uma estratégia para transportar no mesmo espaço um maior número de passageiros, tudo na busca do mesmo lucro final. Eu vejo o Speedy Boarding como algo facultativo, até porque se estiver acompanhado de crianças, você terá sempre direito em ser um dos primeiros a embarcar.

Se já tiver utilizado uma companhia tradicional e depois viajar numa low-cost, onde sentirá uma grande diferença, é no serviço de refeições a bordo. Por pequeno que seja o repasto, prepare-se para acenar com alguns euros: numa low-cost tudo se paga. Tudo menos a única coisa que provavelmente se irá manter gratuita a bordo: um simples copo com água. Geralmente na dianteira e traseira do avião há duas torneiras com água potável. Ali poderá pedir para saciar gratuitamente a sua sede, mas não se entusiasme. As ofertas ficam-se mesmo por aqui. Se acha que vai ter fome a bordo, não hesite em trazer a sua comida. Para além de ser permitido, será provavelmente muito mais barato. Também poderá comprar comida no aeroporto, e bebida depois de passar o controlo da segurança, mas será sempre uma vítima dos inflacionados preços das estruturas aeroportuárias.

Acima de tudo, não fique assustado com todos estes suplementos e tarifas adicionais, pois apesar de tudo, as low-costs continuam a ser mais baratas que as companhias tradicionais. Além da estrutura empresarial diferente, poupam em escritórios, pessoal, serviços dispendiosos de catering e imensos outros serviços que passam despercebidos aos passageiros. A AirBerlin, por exemplo, evita despesas de manutenção com os aviões devido a manterem a frota muito nova e sempre dentro do período de garantia. Quando esta expira, os aviões são vendidos e substituídos por aparelhos novos.

Espero que este conjunto de métodos e estratégias lhe permitam economizar uns euros e viajar verdadeiramente low-cost. Tal como as companhias poupam, também nós temos de aprender a poupar. Com ou sem low-cost, resta-me partir para uma Próxima Viagem.