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    Categories: 2013, Destino Nova Iorque

Liberty Enlightening the World: de Manhattan à Estátua da Liberdade

Dois ferries cheios e uma quantidade de minutos depois, lá conseguimos embarcar em direcção à Ilha da Liberdade, através de uma navegação suave feita sob o estuário escuro do rio Hudson que, a par do East River, são os rios de banham e atravessam Nova Iorque.

Passavam poucos minutos das 10h30, já com o ferry preso ao cais, quando a turba se precipitou sobre a pequena liberty – uma ilha federal situada na parte alta da baia de Nova Iorque, rodeada pelas águas de Jersey City, Hudson County e New Jersey – talvez na ilusão de alcançar rapidamente a base da majestosa e sempre vigilante Estátua da Liberdade.

A ilha é relativamente pequena e a primeira paragem é efectuada na Praça Flagpole. A brisa corria lenta e a envolvente era de perder o fôlego. Diria que se gerou um misto de sentimentos que se apoderou de nós, enchendo-nos o coração e fazendo-nos acreditar que viajar é isto… É ser surpreendidos a cada instante e ver com os olhos aquilo que a alma sente.

À esquerda da Ilha da Liberdade, a poucas braças marítimas, fica a mítica Ilha EllisIlha Ellis, que foi ao longo do século XIX e princípio do século XX a principal porta de entrada nos Estados Unidos para quem aportava pelo lado atlântico. Falo de pessoas provenientes de inúmeras origens; brancos, pretos e das mais variadas raças ou etnias; com cabelos loiros, castanhos ou ruivos, lisos ou encarapinhados; indivíduos altos, baixos, regulares ou disformes; homens, mulheres, velhos ou novos. Todos eram depois aqui triados e fundidos na forte liga metálica de que hoje é feito o povo americano: o American Way of Life. Falar da Ilha Ellis é, por isso, falar do valor simbólico que tem a imigração do velho para o Novo Mundo. A ilha é visitável mas há data da nossa visita a Nova Iorque, devido aos estragos provocados pela passagem do furacão Sandy, em Outubro de 2012, a mesma encontrava-se encerrada para obras de beneficiação. Soubemos mais tarde que só voltaria a abrir em 28 de Outubro de 2013.

Chegada de um ferry a Liberty Island.
Ellis Island.

Voltando à Praça Flagpole, não pudemos abandonar o local sem antes fazer dezenas de fotografias ao skyline que enquadra a baixa de Manhattan – ligeiramente para nordeste – e de nos lambuzarmos com uns deliciosos gelados da Ben & Jerry´s.

São apenas unas dezenas de metros até à entrada da Estátua da Liberdade, monumento cujo nome oficial é Liberty, Enlightening the World – A Liberdade Iluminando o Mundo. E não, não vou repetir os milhentos adjectivos que já foram proferidos para descrever aquela senhora vestida com uma Palla – um manto que as mulheres romanas usavam sobre a túnica –, representando a deusa romana Libertas. Num primeiro impacto, a mim pareceu-me mais o Colosso de Rhodes do século XX, de inspiração maçónica pelos símbolos que apresenta: uma tocha flamejante erguida bem alto com a mão direita; uma tabuleta com leis na mão esquerda, onde está inscrita a data da independência dos Estados Unidos – 4 de Julho de 1976; e, lá bem no alto da sua cabeça, o tão famoso diadema de 7 espigões.

Há seguramente muita informação de cariz mais técnico e histórico sobre a Estátua da Liberdade, mas isso fica para os livros escolares e guias turísticos. Para a Andreia, a cidade de Nova Iorque é a sua Jerusalém, sendo a Estátua da Liberdade um dos seus locais de culto. Era por isso que ali estávamos!

Decidimos visitar a Estátua da Liberdade em silêncio. Começámos por visitar a base e o pedestal, local onde se encontra a coroa original exposta num amplo espaço. Seguiram-se os 377 degraus metálicos, desde a entrada principal, que nos levaram em espiral até ao miradouro instalado na coroa da estátua. O esforço não é pequeno, mas é altamente recompensador. São 25 janelas de onde se alcança uma vista soberba, que parece querer alcançar o infinito e nos faz atravessar um estado de paz suprema.

Tocha original da Estátua da Liberdade.
Escultura representativa de Frederic Bartholdi.

A Estátua da Liberdade foi inaugurada por ocasião do centenário da assinatura da declaração de independência dos Estados Unidos e é um presente oferecido pelo estado francês. O projecto foi assinado pelo escultor francês Frédéric Auguste Bartholdi que, para o esqueleto interno do monumento, todo construído em ferro, contou com a colaboração do engenheiro Alexandre Gustave Eiffel, o mesmo que projectou a Torre Eiffel, em Paris, ou a Ponte D. Maria Pia, um dos ex-líbris da cidade do Porto.

E apesar da Estátua da Liberdade ter uma espécie de pai oficial, eu diria que poderia ter muitos outros: Edouard René de Laboulaye, o historiador francês verdadeiro ideólogo da concepção da estátua – sim, o mesmo Laboulaye do filme o Tesouro Perdido com Nicolas Cage; Joseph Pulitzer, o editor americano nascido Pulitzer József, em 1847, na Hungria, criador dos conceituados prémios Pulitzer de jornalismo e principal mentor da angariação de fundos para a construção do pedestal da estátua; ou, por último, a poetisa Emma Emma Lazarus, autora do famoso soneto “The New Colossus”, doado para um leilão de angariação de fundos – este soneto encontra-se hoje gravado numa placa de bronze colocada no interior da estátua.

Passou-se pouco mais de uma hora quando iniciámos o regresso ao cais de embarque para voltar Manhattan, mas não sem antes passarmos pelo Jardim de Esculturas da Ilha da Liberdade, onde é possível apreciar cinco estátuas do escultor Phillip Ratner: são estátuas em bronze e simbolizam, em certa medida, os fundadores da Estátua da Liberdade.

Encontrámos novamente um cais repleto de gente, com todos a atropelarem-se para garantir a sua vez no embarque. Por alguns instantes perguntei-me se estariam com receio de ficar retidos na ilha… Enfim, Manhattan teve que esperar mais algum templo pelo nosso regresso.

Liberty Island junto à base da Estátua da Liberdade.
A deslumbrante Manhattan.