Em França, mais concretamente na cidade corsária de Saint Malo, teve lugar o festival internacional do livro e do filme, um certame dedicado às viagens. Trata-se do festival “Étonnants Voyageurs” que durante 3 dias (23, 24 e 25 de maio) juntou escritores, cineastas, artistas, jornalistas, aventureiros, editores, celebridades da televisão, amantes das viagens, oriundos dos quatro cantos do mundo. Este ano, festejava-se o 25º aniversário deste evento fundado por Michel Le Bris. Os grandes nomes da literatura de viagens não faltaram ao encontro. Podíamos encontrá-los quer no salão do Palais du Grand Large, onde se realizavam os encontros com escritores, designados por cafés literários, quer nos expositores das editoras dando autógrafos enquanto apresentavam as suas obras aos interessados. Só para citar alguns, com livros publicados em Portugal, destaco Olivier Weber (O falcão afegão), Gilles Lapouge (A missão das fronteiras), o incontornável Luís Sepúlveda que para grande espanto da sala de conferências fez questão de se exprimir em espanhol apesar de dominar perfeitamente a língua francesa.

Mas nem só de viagens se fez este encontro. As literaturas do mundo também marcaram presença com a homenagem aos grandes do romance americano como Philipp Meyer (Ferrugem Americana), Russell Banks, Anthony Doerr (Toda a Luz que não podemos ver), prémio Pulitzer 2015, e tantos outros que nos é impossível mencionar. De acordo com a organização estariam presentes mais de 300 escritores e artistas neste encontro.

Para o visitante, o programa das festividades é colossal. As escolhas são difíceis. Para além do salão do livro, onde se pode passar um bom par de horas folheando as novidades, conversando com os escritores, descobrindo sempre publicações insuspeitas como Bouts du Monde, uma revista feita por viajantes independentes, existem muitas outras possibilidades. Por exemplo: deambular pelas diferentes exposições patentes ao público, assistir a documentários verdadeiramente espantosos, ver filmes onde a viagem rima com aventura, ouvir relatos de expedições extremas. Para isso, há que calcorrear os espaços do festival, que tanto podem ser as salas do Cinéma Le Vauban, o Hotel Le Nouveau Monde, a casa internacional dos poetas e dos escritores, a casa do imaginário, assim como a escola nacional marítima, e muitas outras possibilidades ainda.

Podemos dizer que toda a vila de Saint Malo fica direccionada para o festival de modo a acolher da melhor maneira os 70.000 visitantes esperados. Com tanta gente, o melhor é prepara bem a viagem com alguma antecedência. É possível comprar os ingressos através da internet, o que poupa um bom par de horas nas filas intermináveis para as bilheteiras. Convém também reservar hotel atempadamente porque, apesar de uma grande capacidade hoteleira, as reservas fazem-se de um ano para o outro pelo que as dormidas esgotam rapidamente. Também é necessário selecionar no programa os eventos aos quais se quer mesmo assistir e chegar cedo aos lugares porque o maior pesadelo do viajante é encarar um letreiro indicando complet. Nesse caso, a Bretanha tem uma costa fabulosa, ao mesmo tempo selvagem e misteriosa, pelo que também pode ser uma boa opção descobrir os encantos e recantos das suas enseadas, nomeadamente com uma deslocação ao Mont Saint Michel. Seja como for “Étonnants Voyageurs” é um festival deveras espantoso onde mesmo antes de ter partido, já apetece voltar, porque há coisas que não gostamos que acabem.