Joinville é a maior cidade de Santa Catarina em território e população. É também o maior polo industrial do estado, pois tem mais de 40 bairros, vários acessos terrestres, um aeroporto e está a aproximadamente 50 km do mar. Alguns dizem que até faria mais sentido esta ser a capital do estado e não Florianópolis, mesmo que ela preserve seu ar de cidade interior. Das quatro vezes em que estive lá, três foram durante o Festival de Dança, o acontecimento mais importante do seu calendário tradicional de eventos. Por quase duas semanas, a cidade vira palco de dança, literalmente! São apresentações que decorrem durante a manhã, tarde e noite, em várias praças, shoppings, hospitais e teatros. É uma época particularmente vantajosa para visitar a cidade, já que os participantes do festival têm descontos (às vezes até nem pagam) ao visitarem alguns dos principais pontos turísticos. Bem, eu visitei o máximo que consegui e deixo-vos aqui algumas das opções.

O Museu dos Bombeiros é um dos espaços museológicos mais interessantes, não só por contar a história da primeira corporação em Joinville, mas também porque contextualiza a profissão em diversas épocas, das mais antigas às mais contemporâneas. Relata ainda incêndios recentes; meios de se prevenir contra eles e de como simples distrações cotidianas, como esquecer uma panela no fogo, pode resultar numa tragédia. Essa é a mais antiga corporação de bombeiros voluntários do Brasil. Sim, voluntários!

Átila Muniz dentro de camião de bombeiros vermelho.
Antigo camião no museu dos bombeiros de Joinville.
Rua das Palmeiras em Joinville
Rua das Palmeiras

Usar um dos bancos do calçadão da Rua das Palmeiras, é uma excelente oportunidade para fazer uma pausa a qualquer momento do dia ou da noite. É no final desta rua que encontramos o Museu da Imigração, repleto de peças de uso cotidiano e referências aos meios de transporte dos primeiros moradores da cidade. É um jeito interessante de imaginar o mundo de há mais de um século, quando a vida era mais simples e descomplicada (pelo menos é nisso que nós aqui do século XXI acreditamos).

Disputando com a Rua das Palmeiras o título de ponto mais visitado de Joinville, está o Mirante (miradouro) do Morro da Boa Vista – boa vista mesmo! Do topo do monte, uma elevação com uma altitude equivalente a um prédio de quatro andares, é possível obter um um panorama de 360 graus sobre a cidade, sendo possível avistar o mar e outras cidades vizinhas. A entrada é livre e o local para avistamento está aberto das 7h às 19h. Recomendo subir de ônibus, pois é um morro intenso e, com exclusão dos táxis, os carros não podem subir. A passagem custa R$3 (0,75€) e não é necessário pagar o regresso. Bem junto ao morro podemos ainda encontrar o Parque Zoobotânico, uma espécie de minizoológico.

Bicicleta com rodas quadradas no Instituto Juarez Machado
Obra em exposição no Instituto Juarez Machado.

Voltando a falar de museus, no bairro América, a poucos metros de distância um do outro, você pode conhecer dois espaços: o MAJ – Museu de Arte de Joinville, onde encontramos exposições no interior e exterior, bem como um pátio que, para além de expor obras de vários artistas, é também um espaço perfeito para descansar à sombra, no caso junto a um lago; e o Instituto Juarez Machado, casa onde viveu Juarez Machado, artista plástico brasileiro hoje está instalado em França, mas que mantém um grande reconhecimento na cidade por toda sua produção, inclusive para televisão e cinema. A casa é maioritariamente dedicada ao próprio, com obras dispersas inclusive pelo jardim, mas conta também com um salão onde estão expostas obras de outros artistas. Na loja do museu estão à venda camisas, pinturas e livros, entre outros. O Instituto Juarez Machado é o único museu onde se paga ingresso, no caso R$8 (2 €), mas para os participantes do Festival de Dança de Joinville a entrada é gratuita.

Nas imediações dos dois museus podemos ainda encontrar a Cidadela Cultural Antártica, um espaço de exposição de arte contemporânea que ocupa as instalações da antiga fábrica da Cerveja Antártica.

Igreja Matriz do Puríssimo Coração de Maria, em São bento do Sul.
Igreja Matriz do Puríssimo Coração de Maria, em São bento do Sul.

Entre os museus que abordam os assuntos mais curiosos, na minha opinião, estacam-se o Museu do Ferro de Passar e o Museu da Bicicleta, mas ambos estavam fechados para reforma. Curiosamente, o tempo gasto no trajeto até não foi dado por perdido, pois acabei por visitar a antiga Estação Ferroviária, um prédio recém restaurado junto aos dois museus encerrados, que também vale a pena conhecer. A coleção museológica centra-se não só a história da ferrovia, mas também no período que antecede a chegada dos colonizadores à região, ou seja, um período histórico que atravessa vários séculos. Os poucos trens (comboios) que ainda atravessam a estação, não efetuam qualquer paragem e são essencialmente trens de carga. Isto significa que se quiser passear de Maria Fumaça (comboio com locomotiva a vapor), precisa ir até Rio Negrinho, cidade próxima, onde acontecem passeios uma ou duas vezes por mês. As condições e datas podem ser verificadas no site da ABPFSC – Associação Brasileira de Preservação Ferroviária Regional de Santa Catarina.

 

A Estrada Dona Francisca é o caminho que o leva a Rio Negrinho e está repleta de belezas naturais, casas construídas em estilo próprio da região, ou restaurantes de gastronomia alemã, que servem o famoso marreco, um dos pratos mais solicitados tanto por turistas, como por joinvilenses. O Restaurante Hübener vem referenciado na maioria dos guias e não é caro. Continuando a subir a serra, num passeio bucólico e de agradável clima rural, não há como evitar o mirante de onde pode ver-se o Vale do Rio Seco.

No centro de Joinville é ainda obrigatório visitar a Rua Visconde de Taunay, uma rua repleta de restaurantes que também é conhecida como a Via Gastronômica. É ainda um ótimo lugar para o divertimento noturno, pois existem vários pubs e bares da moda.

Para os menos endinheirados, é possível almoçar barato no centro da cidade, já que se encontram restaurantes com refeições entre R$10 e R$15 (2,5 € e 3,8 €), algumas vezes com buffet livre, outras com prato feito. Uma coisa curiosa que acabei por fazer, foi almoçar no Mercado Municipal, num restaurante que serve habitualmente pratos com peixes ou frutos do mar, por valores entre os R$30 e R$40 (7,5 € e 10 €). A diferença é que, em vez de pedir a comida do restaurante, preferi escolher peixes e camarões frescos na peixaria do mercado, alguns vegetais da feira e, só depois disso, pedir ao atendente (empregado) que fritasse os peixes e cortasse os legumes. Paguei pelo serviço R$15 (3,8 €). De referir que o Mercado tem o seu interesse e já foi um porto bastante movimentado, mas hoje está em acelerado declínio, pois o Rio Cachoeira, que passa por trás, está morto de tão poluído.

Ruas e casario da região de São Bento do Sul.
São Bento do Sul.

A distância de Joinville até o mar ou até a serra catarinense é a mesma, ou seja, você pode optar pela parte do estado que lhe parecer mais fascinante. Durante os oito dias que estive em Joinville, deu para fazer uma breve visita a Blumenau, cidade a 100km, que pode ser alcançada em duas horas de ônibus. Uma alternativa ao ônibus é negociar o valor de uma diária, diretamente com um taxista ou motorista profissional, já que é uma solução que permite visitar várias cidades num único dia e ir direto aos lugares mais emblemáticos. É uma excelente sugestão para os turistas mais apressados e foi o que eu fiz. Por R$350 (88,7 €), o motorista ficou nove horas à minha disposição.

A região tem cidades muito interessantes para se conhecer, mas, ao mesmo tempo, dependendo do ritmo que você costuma ter numa viagem, pode ser um pouco entediante passar todo o dia em cidades tão pequenas. É por isso que ter um carro com motorista é muito mais versátil e dá para se ver muito mais coisas.

No Parque Malwee, uma referência ambiental com aproximadamente 1,5 milhões de m², instalada no município de Jaraguá do Sul, visitei o outlet da famosa fábrica de roupas Malwee; almocei depois em Pomerode e terminei o dia em Blumenau.

Pomerode, conhecida como a “cidade mais alemã do Brasil”, conta com uma arquitetura tipicamente germânica e 300 mil brasileiros descendentes de alemães pomeranos, onde uma grande parte fala um alemão bastante próximo do alemão-padrão (Hochdeutsch). A principal festa da cidade acontece todos os anos, durante o mês de janeiro, sempre com forte influência na cultura e costumes germânicos. Entre outras atrações, pode visitar a Porta Sul e Norte, a Casa do Emigrante, o Museu Pomerano e o Memorial da Porcelana Schmidt. A Rota Enxaimel, um roteiro com 16 km, é ótima para conhecer parte da cidade, belas paisagens rurais e um dos principais aglomerados de casas construídas sob o modelo enxaimel (Fachwerk).

Quadro preto na cervejaria Brahma, em Blumenau.
Cervejaria Brahma, em Blumenau.

Tal como Pomerode, e todo o sul do Brasil, Blumenau foi colonizada principalmente por italianos e alemães. A principal atração da cidade é conhecer o parque onde acontece a Oktoberfest (festival da cerveja inspirado no que se faz em Munique), mesmo que não seja outubro. Em julho, também acontece a Festitália, mas pouco se sabe dela de tanto que a cidade é associada apenas à Oktoberfest. O Museu da Cerveja é outro ponto de paragem importante e rápido, mas suficiente para conhecer instrumentos antigos, fotos e documentos que contam a história de fabricação da bebida – também chamada de “pão líquido” – que mais atrai turistas à cidade. Na mesma praça onde está instalado o museu, existe uma bela cervejaria (Brahma) e, mesmo que não goste de cerveja, entre e peça alguma coisa. A visão da varanda é bem bonita, de frente para o rio, que também já foi navegável um dia.

Como é fácil de perceber, a culinária destas três cidades tem grandes influências alemãs, com pratos à base de carne de porco e alguns ingredientes doces para acompanhamento. Durante a manhã ou tarde, a melhor sugestão é mesmo o famoso Café Colonial, uma refeição completíssima, com várias opções de sucos, vinhos, tortas e cucas (bolos de origem alemã). Da mesmo vontade de experimentar um pedacinho de tudo!

Voltanto a Joinville, outra maneira de se conhecer as cidades vizinhas é por via marítima. Diariamente (é sempre bom conferir, caso você vá no inverno) o barco Príncipe, com capacidade para mais de 300 pessoas, liga Joinville a São Francisco do Sul, pela Baía da Babitonga, passando por 14 ilhas. A visão é belíssima do início ao fim e acaba superando as expectativas, pois não se espera realmente uma visão natural tão exuberante em uma cidade que não é referência em ecoturismo.

Durante as quase duas horas de viagem (cada sentido) há tempo para almoçar, já que a refeição está incluída no ingresso; assistir às apresentações de um músico humorista, instalado no último piso, que procura entreter os passageiros; ou ficar observando a paisagem, que foi o que fiz na ida e na volta e não me cansei. Os ingressos variam de R$80 a R$140 (20 a 35 €), dependendo de época e do dia da semana.

Casario colonial no centro histórico, visto do mar, em São Francisco do Sul, estado de Santa Catarina.
Centro Histórico, em São Francisco do Sul.
Pontão sobre o mar na ciade de São Francisco do Sul, em Santa Catarina.
Pontão em São Francisco do Sul.

O barco fica apenas uma hora e meia em São Francisco, na minha opinião tempo insuficiente para observar as casas históricas, visitar o Museu do Mar ou senta-me à beira mar com um sorvete na mão. Em todo o caso, vale bem a visita.

A região deixa muito boas recordações. Há que voltar a São Francisco, Blumenau e Joinville.

:: Escrito de acordo com a ortografia brasileira ::