Ando a viajar pela Polónia. Já visitei cidades antigas, subi ao alto de montanhas com paisagens de cortar a respiração, visitei um lugar aterrorizador e hoje vou conhecer o maior lago de montanha dos Tatras: o Lago Morskie Oko. Os Tatras, que são o sector mais alto dos Cárpatos, formam uma cordilheira na fronteira da Polónia com a Eslováquia. Os maiores lagos destas montanhas situam-se no lado polaco.

Chego de manhã bem cedo ao Parque Nacional dos Tatras. Não são permitidos veículos motorizados dentro do parque. Deixo o carro no parque de estacionamento e tenho duas opções para percorrer os dez quilómetros que me distanciam do lago: vou a pé ou apanho uma carroça puxada por dois cavalos. Opto pela segunda.

À minha espera está o cocheiro envergando as vestes típicas dos montanheiros daquela zona. Subo para a carroça. O percurso é sempre a subir, serpenteando pelo meio da floresta e com o nevoeiro a acompanhar-nos, o que dá um ar místico à paisagem. A certa altura começo a ter pena dos cavalos. É que sempre são dez quilómetros a subir a montanha e a puxarem uma carroça com 13 pessoas lá dentro. Mas a meio do caminho o cocheiro pára junto a um riacho, dá água a beber aos cavalos, molha-os e escova-lhes o pelo. Fico mais tranquila. Pelo menos os cavalos são bem tratados.

Desde o lugar onde termina a viagem de carroça até ao lago ainda são uns 20 minutos a pé. Começo a subir ansiosa para chegar ao destino. Pelo caminho vou-me deslumbrando com tão idílica paisagem. Olho para a direita e vejo árvores; árvores altas e esguias, com folhas muito verdes, carregadas de pingos de chuva e meio escondidas pelo nevoeiro. Olho para a esquerda e oiço o barulho de água, o som dum riacho que acompanha o trilho mas não se deixa ver. De repente enxergo uma clareira delimitada pelo tal riacho e com o nevoeiro como pano de fundo. Vejo ao longe um ponto castanho a mover-se. Fixo o olhar. Não consigo identificar. Aproximo-me. É uma corça! E escondido atrás dela está o seu filhote. Desvio o olhar um pouco para o lado. Vejo outra cria e a sua mãe. Os filhotes aproximam-se, olham-se nos olhos, abeiram-se um pouco mais e começam a correr um atrás do outro. E ali ficam, a correr, a saltar, a pular sobre a relva verde perante o olhar atento das suas mães. Estou encantada. Mas o lago espera por mim. Sigo com o pensamento naquele cenário que mais parecia saído dum conto de fadas.

Por fim chego ao lago. O nevoeiro esta muito baixo. Fico ali parada a olhar para o infinito. Passado uns minutos o nevoeiro começa a levantar. Arregalo os olhos perante tal visão. À minha frente tenho um lago enorme, rodeado de montanhas, com alguns neveiros e cascatas a salpicar as encostas. UAU! Que imagem linda.

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Descubro um trilho que contorna o lago. Ponho pés ao caminho e cá vou eu, por entre árvores e arbustos, ouvindo o silêncio da floresta e com o Lago Morskie Oko como companheiro. A meio do caminho encontro uma placa, com a indicação de outro lago a 30 minutos de distância: o Czarny Staw pod Rysami. Sigo o conselho daquele pedaço de madeira e faço o desvio. Ao fim de 45 minutos de caminhada (e não 30 como estava indicado), de um percurso difícil, irregular e muito íngreme, chego finalmente ao segundo lago com as pernas a tremer de cansaço. Mas valeu o esforço. Apesar de ser um lago mais pequeno, a sua beleza é grandiosa. Sento-me numa pedra a contemplar a vista e a descansar. O nevoeiro envolvia parte da paisagem, ora descobrindo o lago, ora voltando a cobri-lo como se o acariciasse. À minha frente desliza um pato sobre a água tranquila em perfeita harmonia com a natureza. Sinto-me em paz.

Recuperada a força física e com a mente repleta de energia positiva, faço o caminho de volta, desta vez a descer. Chego ao local onde iniciei a caminhada e entro no abrigo de montanha, onde aproveito os últimos momentos para beber um chá quentinho. Vou embora mas antes ainda deito um derradeiro olhar em jeito de despedida.

Sentada na carroça, ao som ritmado dos cascos dos cavalos, vão passando na minha cabeça todos os cenários desta tão grande beleza em estado puro, talvez como se de um filme se tratasse.

Não dou conta que a viagem termina. Saio da carroça e penso: a Natureza não precisa da mão humana para ser perfeita. Ela é perfeita por natureza.