Viajar. Desbravar o desconhecido. Provar novos sabores. Sentir novos cheiros. Ouvir outras línguas e arranhar outros sons. Experimentar. Sem medo. Conhecer outros como nós. Mas diferentes. Gostar da diferença. Viajar é isto, para mim. Claro que gosto de conhecer novas paisagens mas, entenda-se, para mim viajar é conhecer pessoas. Puxar-me através do fio pequenino que nos une uns aos outros e sorrir com a descoberta.

E é por isso que, nos intervalos das viagens “à séria”, permito-me viajar por aqui através do Couchsurfing.

Este projecto, nascido em 1999 na cabeça de Casey Fenton e posto em prática em 2003, consiste numa ideia tão simples como dar alojamento a um viajante que passa pela nossa cidade. E o que ganhamos com isso? Fazemos parte da jornada, ouvimos relatos de outras viagens, provamos novas comidas, ouvimos outras músicas, aprendemos novas línguas e, com sorte e sem dificuldade, ganhamos mais um amigo. E quem sabe se, um dia, quando formos nós em viagem, poderemos até rever os amigos que conquistámos. Por experiência, e um bocadinho como o karma, recebemos muitas vezes o dobro daquilo que demos.

O Couchsurfing pode ser usado à medida da vida e das preferências de cada um. Podemos abrir a nossa casa a estranhos. Ou não. Podemos estar só disponíveis para “beber um café”, mostrando a nossa cidade, tal e como a vemos. Ou não. Podemos só usar o Couchsurfing para, quando viajamos, ficar em casa de alguém, sentindo como é a vida real nessa paragem. Ou não. Ou até podemos só pedir a alguém que nos mostre a sua cidade, tal e como a vê. Mostrar aquilo que não vem em nenhum guia. Aquela iguaria imperdível naquele restaurante pequenino, aquele café escondido com o melhor ambiente da cidade, aquela esplanada com o melhor pôr-do-sol. Não há Lonely Planet que possa competir… Podemos, também, utilizar o Couchsurfing para entrar em contacto com outros viajantes, como nós, que estejam no mesmo sítio e propôr descobertas conjuntas. Ou então, contactar locais de determinado sítio para nos aconselharmos e tirarmos dúvidas quanto à viagem que pretendemos fazer.

A minha experiência com o Couchsurfing começou em 2006 e, devo confessar que foi a medo. Mas os nossos receios desvaneceram-se depois da primeira amizade.

Juntar à mesa argentinos, coreanos, venezuelanos e portugueses e discutir o sistema de ensino em cada um dos países. Fazer a Ruta 40, no norte da Argentina, com dois amigos, outrora em viagem pela nossa casa, a comer o farnel argentino que nos prepararam e a chamarem-nos che. Aprender a temperar salada com uma francesa. Aprender a fazer empanadas com dois porteños. Pôr uma coreana a comer mão de vaca e a adorar. Mostrar o nosso país e ver coisas que nunca tínhamos reparado. Passear com uma americana e um holandês pela feira da Ladra, beber café num miradouro a ver o Tejo e ouvir esta dupla, que já viajou pelo mundo inteiro, dizer que Lisboa, a nossa Lisboa, é incrível. E aqueles amigos. Aqueles amigos.

Por isso, se me permitem o conselho, aqui vai: larguem os medos e as âncoras e vão, ou fiquem, mas viajem sempre.