Do nosso grupo só caíram dois. O alemão e eu… Pois! Eu também caí. E o que se pode dizer desta queda? Bem, vi uma pedra no meu do caminho e penso que me deu medo. Fui ao chão porque possivelmente travei como não devia, mas foi mais forte do que eu! E, como não quis deixar a bicicleta, acabei por ainda levar com ela na cabeça. Fiquei com o braço direito bem magoado, em ferida, mas como tinha protecção não foi nada de muito grave. De qualquer forma não voltei a conseguir mexê-lo, pelo que não pude continuar. É por situações como esta que a carrinha, que inicialmente nos transporta até ao Cumbre, segue-nos o caminho todo. Foi pois assim que tive de fazer o resto da viagem. À excepção do braço, toda a parte direita de meu corpo ficou lastimada e com umas valentes nódoas negras. Também acabei por me sentir um pouco mal porque o Fred saiu do trilho para vir ao meu encontro e a partir daqui já não quis continuar. Enfim, bem que que podia ter caído dez minutos antes do fim e não a meio da descida! Mas foi assim que aconteceu e estou contente que tenha, pelo menos, tentado e passado por esta incrível experiência. Agora sei que eu e bicicletas não somos as melhores amigas!

O Natal foi muito bem passado com a “nossa família” boliviana. Fomos todos juntos à sua igreja, onde vimos teatros, ouvimos canções e jantámos. Éramos mais de 150 pessoas. Alguns deles levaram alguns pitéus. A família Parrado levou um grande peru com mais de 8 quilos, que previamente recheou de carne estufada picada, pimentos, cebola, passas e nozes. “Estava muy rico”. No nosso caso, e como eu ainda estava mal do braço, foi o Fred que cozinhou algo para também levarmos. Ainda pensámos em fazer sonhos para não repetir os também por aqui famosos arroz doce e filhoses, mas como tínhamos de sujar e utilizar a cozinha toda – também estava a ser utilizada para a confecção do peru, que demora cerca de 7 horas a estar pronto –, decidimos fazer um salame de chocolate. Adoraram! Fomos nós que partilhamos entre todos, com prioridade para as muitas crianças, pois queríamos que todas conseguissem um bocadinho de chocolate. Não sobrou nada!

Após a da meia-noite e toda a partilha de comidas e sabores, fomos para casa de um familiar dos nossos anfitriões. Aqui sim… Comemos o tradicional prato de Natal, a Picana. Trata-se de um prato parecido com a nossa sopa de carne, pois é feito com carnes de porco, vaca e franco, leva legumes, como a batatas, onde se destaca a Tunta: uma batata branca desidratada e seca. Ficámos junto à irmã da “nossa mãe”. Uma senhora muito distinta com dois filhotes que ansiavam por abrir mais prendas. Não tiveram de esperar muito, pois assim que terminámos de comer, chegou a hora dos “regalos”. Que maravilha, que sorrisos e alegria.

Era tarde, talvez umas 3h30 da madrugada quando chegámos a casa. A recomendação, em tom de brincadeira, era que os visitantes têm de se levantar cedo para ir ao mercado! Já num tom mais sério, lá nos informaram que antes do meio-dia, afinal, ninguém se levantava. Que sorriso que fizemos. Dormimos muito bem e mais ou menos à hora marcada, reunimo-nos à mesa para beber um chocolate quente e comer Panetone, pois trata-se de uma tradição, tal como em Itália. O resto da tarde de Natal foi passado em família, ao que se juntaram uma rapariga Coreana e outra Belga, que entretanto haviam chegado. Afinal, estamos a falar de uma casa internacional cheia de pessoas com um coração enorme, que oferecem o que têm e o que não têm a todos os que por aqui passam.

Durante os dias que por ali nos mantivemos, tivemos uma aprendizagem muito bonita e uma troca intercultural espectacular. Vimos filmes com várias músicas e danças tipicamente bolivianas, como a Diablada, Morenada, Cueca, Kullavada, Llamerada e Caporale, bem como as interpretações de um grupo que fez muito bem à Bolívia chamado “Los Kjarkas”. Quanto a pratos tradicionais, esta “nossa família”, também fez questão que provássemos a sua maioria. Entre eles estavam, o Wistupiku, a Empanada recheada com queijo, o Pique Macho, o Silpancho, o Plato Paceño, típico de La Paz, as Salteñas, o Api, o Moco Chinchin (sumo de pêssego) e a Marrequeta (o pão feito em La paz). Uma verdadeira experiência a não esquecer.