Uma bela rapariga de vestes simples mas coloridas, lava a loiça na água do rio, debruçada sobre uma passadeira que sai de uma casa de madeira, assente em estacas. O barco passa a escassos metros, quase permitindo contar os talheres que tinha dentro do alguidar. Levanta o rosto, até então reflectido num espelho de águas sujas, e esboça um sorriso complementado com um leve aceno da cabeça, como que a dar-nos as boas vindas.

A simpatia é irradiante em cada cantinho, desde as ruas ao rio, desde a zona mais cosmopolita da cidade ao mais pobre bairro de lata.

Mais à frente duas senhoras, com as pirogas encostadas, uma à outra, conversam alegremente no meio do rio, com a mesma naturalidade que teriam se estivessem a tomar chá, na sala de estar confortavelmente sentadas.

Ao longo do percurso e até chegar ao mercado, fui invadido por um conjunto de cenários que rejubilavam dentro de mim a autenticidade da população, na sua forma de viver, de estar e encarar a vida.

Os sorrisos que distribuem a quem se cruza com eles, são sinónimo de felicidade.

Chegados ao mercado, procedemos à troca de barco. Passo para um barco de madeira achatado e comprido, e começamos a navegar pelos labirintos de estreitos khlongs (canais).

Enquanto alguns comerciantes dormem recostados, com o chapéu de palha a cobrir-lhes os rosto do sol, outros tentam vender os seus produtos hortícolas, a quem passa. A maior parte dos barcos são conduzidos por mulheres, vestindo camisas azuis tradicionalmente usadas pelos agricultores, e na cabeça usam chapéus de palha com um formato cónico. Na sua grande maioria os produtos aqui vendidos são provenientes das quintas, e são os próprios que vendem o que cultivam.

Cada barco que passa por mim, parece estar mais bem ornamentado que o anterior, tal é a harmonia como as frutas estão dispostas. Visto de cima parecem arco-íris flutuantes, irradiando frescura, beleza e o desejo voraz de as provar, a todas.

As frutas além de serem extremamente belas, dado o seu aspecto exótico, também são deliciosas.

Provei os mangostões e fiquei viciado. É uma fruta pequena e muito brilhante, quase vidrada, com uma polpa doce que se derrete na boca. Por alguma razão os Tailandeses consideram-na o rei da fruta. Curvei-me perante ela, mas procurei outros sabores.

Os loganos de cor alaranjada são doces e têm uma polpa transparente e suculenta.

Os peludos Rambuntan vermelho vivo, têm um aspecto bastante melhor que o seu sabor.

O fruto preferido dos Tailandeses é o Duriango, parece uma espécie de ouriço pendurado numa árvore, e têm um aroma e um sabor capaz de fazer escorrer uma lágrima, pela cara abaixo.

Além de todas estas frutas, existem mil e uma variedades de bananas, ananases, mangas, goiabas, e muitas outras mais vulgares entre os ocidentais.

Estar neste mercado foi para mim uma experiência única de vivência pessoal, que sempre fez parte do meu imaginário quando idealizo certas viagens. Talvez por ser diferente de tudo a que estou habituado a ver e a sentir. Tudo aqui, desde o primeiro ao último minuto permitiu-me fazer uma introspecção, uma descoberta de mim próprio, no mais fundo do meu ser.

Fiquei fascinado com o mercado, com os vendedores, com os barcos que considero verdadeiras obras de arte, com os sabores das frutas, os aromas que me deixaram extasiado, e com os sorrisos que fizeram com que o meu coração sorrisse também.

Ainda dentro do barco, perguntam-me.

”Gostou de mercado?”

”Adorei, é uma preciosidade.”

”E de Banguecoque? Está a gostar? Ou se ama ou se odeia!”

Não dei qualquer resposta, limitei-me a sorrir e desejar cá voltar, com a esperança que este amor fosse correspondido.