Cruzo a minha perna direita sobre a esquerda, reflectindo o brilho dos raios de sol nos meus sapatos perfeitamente engraxados. O fato impecavelmente engomado, deixa vislumbrar a ponta da manga imaculadamente branca, e o botão de punho reluzente, oferecido em alguma época especial.
Observo o borbulhar do champanhe no copo de pé alto, enquanto o ergo rumo ao céu para lhe apreciar a cor, e o contraste sob o céu azul.
O meu carro, de alta cilindrada e um dos topos de gama de uma marca de eleição, está algures estacionado ao longo da avenida, junto ao lago, enquanto muitos dos transeuntes param especados, para reparar em qualquer pormenor das jantes, do interior ou do design.
Deixo cair um pingo de champanhe sobre o fato caríssimo que tenho vestido, mas não me preocupo minimamente com tal situação, como este, tenho um guarda-fatos cheio.
Ao largo observo os meus amigos que se divertem bebendo sangria enquanto degustam uma mariscada, servidos exemplarmente pelos meus empregados de laço e camisa branca, no meu iate de luxo.
De que vale a vida sem os nossos pequenos luxos.
Cirando pelas ruas na zona comercial, repleta de lojas chiques com artigos de luxo onde reluzem relógios cravejados de diamantes e jóias opulentas.
Lojas de estilistas internacionais e galerias de arte, também se espalham pelas avenidas atraindo a clientela abastada.
Os preços são altíssimos para o mais comum dos mortais, atraindo ricos e famosos de todos os cantos do mundo, principalmente Árabes, mas para mim isso também não é problema.
Poderei comprar o que quiser, onde quiser, mas hoje apenas quero observar, e nada mais.
Genebra é uma cidade muito sofisticada onde impera a qualidade de vida, com uma grande importância no panorama mundial, uma vez que é um dinâmico centro de negócios, além de ser também a sede Europeia das Nações Unidas e da Cruz Vermelha Internacional.
A cidade está dividida pelo lago. Na margem norte situam-se os luxuosos hotéis ao longo da marginal, e a principal zona comercial. Na margem sul situam-se a Cidade Velha, o bairro universitário e o Carouge, um pitoresco subúrbio habitado por artistas.
A Cidade Velha concentra-se à volta da Catedral St Pierre, que em 1536 foi convertida em igreja protestante, onde jaz ainda a cadeira de Calvino, que sentado nela seguramente terá pregado alguns sermões apelando a uma reforma da igreja radical.
A poucos metros, a Praça du Bourg-de four está apinhada de mesas e jovens, embelezada com uma fonte, e rodeada de casas do século XVI, algumas delas transformadas em galerias de arte e restaurantes.
A Praça continua a ser hoje uma das principais atracções da Cidade Velha e um ponto de encontro entre os jovens e turistas, sendo aqui que se realizava o mercado na Idade Média.
Deixo-me andar pela cidade, na minha despedida da Suíça. As ruas estão coloridas com bancas de flores das mais variadas cores. Algumas bandeiras colocadas nas varandas floridas identificam os vários cantões.
Desde lojas de lembranças a livrarias antigas, onde me atrevo a entrar e delicio-me com o cheiro dos livros que me apetece folhear, e a beleza do ordenamento dos mesmos numa estante de madeira. Adoro livrarias antigas.
As relojoarias são imensas, ou não fosse estar no país dos relógios. Será complicado para um Suíço justificar qualquer atraso.
Em Portugal, não vale a pena ser pontual, porque mesmo que alguém seja, ninguém estará lá para comprovar.
Volto novamente à marginal. Os meus sapatos continuam reluzentes, quase que podia ver-me ao espelho neles.
O carro topo de gama continua rodeado de crianças e adultos, que colocam a cabeça junto ao vidro com as duas mãos em formato de concha, espreitando o seu interior. O Iate continua ancorado, enquanto copos de sangria se levantam ao alto num convívio animado.
O Jet d’Eau continua a projectar o seu potente jacto a 140 metros de altura, sendo considerada a fonte mais potente da Europa, e o emblema de genebra.
Talvez inspirado nesta fonte, tenha elevado tão alto o meu ego.
Táxi.
Aeroporto por favor.
E regresso à realidade.
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