Passear por esses bairros um pouco afastados do centro são uma boa forma de conhecer uma cidade mais autêntica e com menos turistas. No leste da cidade, bairros como Shoreditch, Hoxton e Whitechapel tem se reinventado e atraído cada vez mais visitantes que procuram por atrações para além do circuito mais popular da cidade. Mas conhecer tudo isso a pé talvez seja cansativo, por isso, não é preciso falar da eficiência do transporte público londrino, metrô e ônibus, que são sua espinha dorsal e tornam o deslocamento pela cidade mais fácil, rápido e confortável. O viajante pode adquirir um Oyster Card e viajar de forma ilimitada pela cidade. Os ônibus de dois andares são uma excelente forma de se passear pelos bairros mais distantes, pois com eles você pode apreciar a vista e descansar enquanto percorre a cidade. Quando quiser desça e ande pelas ruas.

No metro algo que sempre me marcou foram os artistas dentro das estações. Me impressiona como eles são capazes de humanizar algo que dentro da rotina se torna maçante. No meu último dia em Londres saí de um pub e tomei o metro para o aeroporto, passando pela estação de Piccadilly Circus, onde havia um rapaz tocando teclado e cantando. Conforme andava pelos corredores fui cantarolando a música que rolava como som ambiente e, ao chegar na plataforma, instalei-me junto a um grupo de três mulheres. Uma delas me ouviu cantar e veio falar comigo perguntando como eu conhecia aquela música. No final das contas fui conversando com as três até o ponto que elas desceram do trem. Se não fosse aquele artista talvez eu tivesse enfrentado longos 45 minutos até o aeroporto sem qualquer companhia. Outra opção de transporte bastante popular em Londres são as bicicletas. Apesar do pouco espaço nas estreitas ruas da cidade, e da falta de ciclovias, o terreno plano e o clima tornam a ida ao trabalho, faculdade ou um simples passeio de bike uma ótima opção. São milhares de ciclistas que todos os dias tomam as ruas da cidade. Uma diferença fundamental que pude perceber da capital britânica em relação a São Paulo, no Brasil, – cidade em que vivo e pedalo – é o fato de que mesmo com menos ciclovias que a cidade brasileira, o ciclista londrino é muito mais respeitado pelos motoristas de carros e ônibus, o que faz com que o medo em pedalar seja menor e a cidade possa pensar em novas formas de inserção das magrelas na sua vida cotidiana.

Para o viajante que ficou com vontade de pedalar pela cidade a melhor opção é alugar uma das bicicletas que são disponibilizadas pela prefeitura em parceria com bancos. Com muitas estações por toda Londres, o viajante pode alugar por algumas horas ao preço de poucas libras. Um passeio imperdível é pedalar pelo Hyde Park e arredores. É possível começar o passeio pela Speaker’s Corner, atravessar o parque, apreciando a vista da “The Serpentine”, passar pelo Memorial em homenagem a Princesa Diana, pelo Kensington Palace, local onde Diana e o Princípe Charles moravam e terminar a pedalada no Natural History Museum ou no Science Museum, ambos a duas quadras do parque. Quem ainda tiver fôlego pode seguir pedalando até o charmoso bairro de Nothing Hill, célebre após o filme com Julia Roberts e Hugh Grant, mas que atrai milhares de turistas por suas casas coloridas, lojas de antiguidades e feiras de rua.

mulher a escolher fruta num mercado de rua em Londres
Os mercados e feiras de rua, espalhados pelos diversos bairros, ajudam a deixar a cidade mais colorida.

Por fim, algo que se destaca, e muito em toda a cidade, são os londrinos. Os vejo em dois grandes grupos distintos: aqueles que lá nasceram e lá vivem e aqueles que adotaram a cidade como morada, seja por um tempo ou por uma vida. E ao passar algum tempo na cidade se nota como os ingleses aparentemente são duros e frios. Entretanto, isso se mostra ser um estereótipo, pois estes são em sua maioria muito educados, gentis, atenciosos e muito divertidos. Claro que de uma maneira bastante fleumática. Uma dica: os londrinos são verdadeiros adoradores do sol – para mim foi marcante ver um senhor com seus 50 anos, na hora do almoço, ir a um parque e tirar as meias quando o dia estava ensolarado e a temperatura chegava no máximo a 15 graus.

Entretanto a vida é diferente e pode ser muito dura para os londrinos que escolheram a cidade como morada. O lado B dos serviços da cidade geralmente é ocupado por muitos imigrantes que aceitam empregos com menor remuneração, mais horas de trabalho e geralmente moram nas periferias da cidade. Tais trabalhadores, homens e mulheres, me fizeram pensar no como Londres é uma cidade que parece funcionar (e muitas vezes funciona) perfeitamente. Deve muito disso aos imigrantes que como relatei passam por maus bocados para estar ali e poder ao mesmo tempo construir e desfrutar dessa cidade única.

:: Escrito de acordo com a ortografia brasileira ::