A Transilvânia é uma terra mágica, hoje parte de uma Roménia que tem muito a oferecer ao viajante. Para muitos portugueses existe uma aura negativa associada a este país… as redes de pedintes, os problemas de segurança trazidos pelos emigrantes que se instalaram por aqui sobretudo após o ano 2000… mas para quem conhece a Roménia pode facilmente tornar-se uma das nações favoritas da Europa. O seu tamanho oferece-lhe uma diversidade considerável, o povo é interessante, a cultura é exótica mas não tanto que nos crie desconforto. As paisagens naturais são lindissimas, o património histórico é complexo e surge-nos associado a um imaginário fantástico, de lobisomens e vampiros, de castelos que se erguem sobre bosques envoltos em bruma.

É complicado estabelecer um ponto de partida para uma viagem pela Transilvânia. Há paragens incontornáveis: Sighisoara, Brașov, Sibiu, Cluj-Napoca. E depois há pontos com indiscutiveis atractivos, como Alba Iulia, Medias e Bran, o famoso castelo de Bran, sede do temível Conde Drácula. Neste artigo vamos errar pela região, sem uma rota definida. Todos estes locais são facilmente alcançáveis entre si e por isso…

Brașov

Se tiver que escolher apenas uma cidade desta região, seria mesmo isto, Brașov. Escreve-se assim mas diz-se Bráchove. Foi um amor à primeira vista. É uma cidadezinha pequena, que se atravessa a pé. Mas encontra-se de tudo. Localiza-se no sopé de uma montanha impressionante, que a domina. Por lá habitavam ursos, como de resto em muitas partes da Roménia. Mas há uns anos atrás deu-se um acidente. Um velho macho, enfraquecido, desnorteado, deu cabo de um homem, na orla da cidade. O munícipio organizou uma limpeza total dos ursos que habitavam naqueles bosques. Os animais não foram abatidos, mas foram levados para regiões mais remotas.

montanha junto a Brasov na Transilvânia
Meia encosta da montanha que domina Brasov
© Ricardo Ribeiro

Foi com essa promessa que me convenceram a subir aquela montanha, partindo de cá de baixo, não longe do ponto onde se deu o sangrento incidente, e trepando por trilhos quase a pique, sempre a andar, suando em bica apesar do frio de Outono. O ar era limpo, a floresta cheia de charme, e de lá de cima via-se o mundo. Desci pela encosta oposta, de parca inclinação, usando o estradão disponível.

Nesse dia abracei a vertente natural de Brașov, mas nos outros simplesmente perdi-me pelos bairros históricos, subi a torres medievais repletas de estórias para contar, caminhei até chegar aos subúrbios, que em vez de me mostrarem bairros residenciais pejados de blocos de apartamentos me transportaram até um ambiente rústico, verdadeiramente rural, onde as pessoas levam as vidas simples de outros tempos.

Em Brașov encontrei uma cidade onde os ventos de globalização ainda sopram baixinho. As suas ruas mostraram-me edíficios neglicenciados mas não em ruínas, que mostram as rugas do seu passado com dignidade. Tudo isto me encantou. A variedade, a densidade de maravilhas por descobrir.

Será esta cidade o ponto de partida ideal para uma visita ao castelo de Bran. Não o fiz, simplesmente porque não calhou, mas passei-lhe por perto, vi-o, altivo, na sua posição elevada, vigiando as terras que um dia foram do seu senhor.

Sighisoara

Sighisoara é um símbolo e um orgulho para as gentes da região, talvez mesmo para os romenos, no seu todo, com toda a sua heterogeneidade. Está assim para a Roménia como Óbidos para Portugal, é uma cidade medieval viva, ou pelo menos é-o o seu centro histórico. Estará talvez demasiado moldada ao turismo, marcada pelos hoteis e pensões, pelos restaurantes e lojas de recordações. Como Óbidos começa a perder o carácter genuino que terá há um par de dezenas de anos atrás.

Sighisoara à noite, Roménia
A cidade velha de Sighisoara à noite
© Ricardo Ribeiro

O relógio ricamente decorado que ornamenta a torre da sua principal igreja é um marco incontornável de Sighisoara. Visto este, resta ao visitante calcorrear as velhas ruas da cidadela, recomendando-se que nenhuma fique esquecida. Em todas elas há detalhes que merecem ser observados. Tanto melhor se for às primeiras horas da manhã, quando os turistas não começaram ainda a afluir.

Se a multidão engrossar ao ponto de se tornar opressiva, pode-se sempre sair de entre muros, partir à descoberta da cidade nova e, com um pouco mais de ousadia, alargar a caminhada ao espaço rural envolvente, que tem bonitos campos e quintas para saudar o visitante.

Para o final da tarde, quando o sossego regressa às ruas da cidade, poderá procurar o velho cemitério e sentir o silêncio entre as campas milenares e as roseiras que enfeitam o espaço. Depois virá a noite, e com ela as luzes, que se acendem, engalanando os edíficios de forma magnífica.

Sibiu

Sibiu é uma cidade alemã encerrada no seu corpo romeno. Apesar da desertificação provocado pelo êxodo dos habitantes originalmente germânicos que se mudaram para a Alemanha após a queda do Muro de Berlim, ao abrigo de uma série de incentivos e subsídios oferecidos por Berlim, existe ainda uma enorme influência alemã em Sibiu. Em 2010 o presidente da câmara era um descedente directo dos originais alemães que deram vida à cidade. E por todo o lado se viam nomes bem distantes dos tradicionais romenos. A arquitectura tem muito de saxónica, a gastronomia local lembra outras paragens da Europa, com a cerveja a correr a rodos acompanhando salsichas e todas as iguarias que associamos geralmente à Alemanha.