Depois de quase duas semanas de viagem no norte do Laos, uma região pobre mas muito autêntica, orientei-me para sul e rumei a Luang Prabang, uma das pérolas e mais importantes cidades do país. Património Mundial da Unesco desde 1995, a cidade é pequena, acessível e é atravessada pelo rio Nam Khan, que logo ali se une com o grandioso Mekong, um dos principais recursos hídricos do país e responsável pelo sustento de 30% da população.

Passei cinco dias a deambular pelos recantos da cidade, sempre muito bem passados e quase sempre na companhia de um grupo que conheci da Catalunha. Luang Prabang é um lugar encantador, onde há uma grande harmonia e onde o turismo está bem inserido no dia-a-dia das pessoas. Com um casario colonial bem recuperado, um par de museus, bibliotecas, espaços para a realização de workshops e bares onde prevalece a serenidade – é certo que há música, mas nada de Lady Gaga ou Gangnam Style –, Luang Prabang é um lugar lindíssimo para relaxar à beira rio, comer bem e com variedade. É ainda uma das poucas cidades da região onde podemos comer pão com uma variedade muito semelhante à que encontramos na Europa, com principal destaque para as boulangeries em França, ou não fossem os franceses os antigos colonizadores da região.

Névoa matinal ao nascer do dia em Luang Prabang.
Névoa matinal em Luang Prabang.
Vários pratos de comida num mercado nocturno de Luang Prabang.
Mercado de comida nocturno.

Para além da cidade em si, a natureza que a rodeia é igualmente muito elegante, com principal destaque para as cascatas de Kuang Si. Normalmente este percurso de 30 kms é feito de tuk-tuk – uns veículos táxi muito semelhantes aos que recentemente invadiram Lisboa –, mas eu e os catalães decidimos aventurar-nos com uma bicicleta citadina, aquelas que nem mudanças têm. Demoramos aproximadamente 2 horas em cada sentido, visto existirem inúmeras subidas e descidas, mas a satisfação não poderia ser melhor. Depois de tanta pedalada, cinco ou seis problemas técnicos e 30 graus de um calor extremamente húmido, a chegada às cascatas é muito mais proveitosa do através de qualquer outro modo de transporte. Não tenho pois qualquer dúvida em recomendar a todos os que venham a Luang Prabang e queiram visitar as cascatas de Kuang Si, que o façam obrigatoriamente de bicicleta. Vão ver que vale mesmo a pena!

Depois de horas a mergulhar desde as muitas lianas que caiam das árvores, estava na hora de regressar e fazer o caminho inverso, mas a motivação não era das maiores. Arranjamos uma! Como às 19h uma das bibliotecas de Luang Prabang tinha agendado a projecção do filme mudo “O Artista” – uma produção a preto e branco, oscarizada em 2012 e muito recomendada –, lá subimos para a bicicletas e daí em diante a motivação foi sempre em crescendo. À hora prevista estávamos sentados, já todos com banho tomado, a beber um delicioso chá de gengibre e preparadíssimos para acabar com chave de ouro um dia maravilhoso. E se há dias maus na vida, depois há estes que superam tudo e fazem esquecer o que na realidade não tem grande importância.

Cascatas Kuang Si a alguns quilómetros de Luang Prabang no Laos
Cascatas Kuang Si.