O dia foi terminado no Hotel de Sal que, como o próprio nome diz, é um espaço inteiramente feito de sal, excepção feita aos colchões e cobertores. Estávamos às portas do Salar de Uyuni. Ao contrário da primeira noite de estadia, neste Hotel havia água quente. Mas, tal como é hábito na generalidade dos locais mais inóspitos, também aqui a água e electricidade só estão disponíveis em certos períodos do dias, sempre por tempo limitado. Assim, não restou outra alternativa se não termos que racionalizar os recursos, para que ninguém ficasse sem se lavar.

O amanhecer de dia 15 de Dezembro traz-nos um dia especial. É dia dos anos da Catarina. São momentos onde se desenvolvem sentimentos contraditórios pois, se por um lado, estar na Bolívia, a fazer algo que não sei se um dia se repetirá, é algo de verdadeiramente inesquecível, por outro, a presença da família também lhe faz falta. De qualquer modo, tivemos acesso ao telefone no final do dia, facto que permitiu mitigar alguma da tristeza causada pela ausência dos seus entes queridos. Voltando ao desenrolar do dia em si, começámos com um delicioso pequeno-almoço, onde aproveitei para fazer umas velas improvisadas com a cortiça da garrafa de vinho do dia anterior. Como para mais até havia um bolo, cantámos todos os parabéns.

Depois de carregarmos mais uma vez o jipe, seguimos para o tão esperado Salar de Uyuni: o maior deserto de sal do mundo. Durante os dias de viagem tivemos muita sorte porque não apanhamos chuva, embora na noite anterior tenha trovejado e chovido um pouco. Pior, o Celso disse-nos que caso tivéssemos optado por fazer o tour três dias depois, não seria possível entrar no deserto. Uma vez mais tivemos a sorte do nosso lado. O Salar de Uyuni é qualquer coisa de espectacular e de difícil descrição. É como olhar para o Oceano; não se consegue ver o horizonte. Creio que é o único sítio no mundo onde é possível observar tal efeito, excepções feitas ao mar ou lagos muito grandes. O imenso vazio, reflectido na água, aliado à presença das nuvens e, por vezes, de uma ou outra montanha, dá-nos a sensação liberdade. Apesar de termos ficado todos molhados e cheios de sal, andámos por aqui mais de 5 horas para percorrer parte do salar e tirar algumas fotografias engraçadas. Foi uma tarde única e cheia de diversão. Revelador do quanto estava a ser inesquecível, foi o facto do dia de anos da Catarina, até aquele momento, estar a ser muito bom, segundo a própria. Para almoçar, dirigimo-nos a uma pequena vila onde, além do repasto, todos aproveitaram para presentear a aniversariante. Ofereceram-lhe um cachecol e umas pedras de sal. Não estava à espera.

Aldeia no Salar de Uyuni
Aldeia no Salar de Uyuni

Havia que continuar para a fase final: o cemitério de comboios. Trata-se de um lugar sem nada de especial, onde apenas se podem encontrar velhos comboios estacionados. O tour terminou na cidade de Uyuni, lugar onde chegou a hora de dizer adeus a muitos dos que nos acompanharam ao longo dos últimos dias. Ficámos nós, o casal de holandeses e o rapaz dinamarquês. Depois de arranjarmos um local para dormir, fomos passear e beber umas cervejinhas. Ao jantar experimentamos carne de lama, que é quase como a carne de vaca, mas um pouco mais doce e talvez mais saborosa. Após a deliciosa e suculenta refeição, e como ainda era o dia de anos da Catarina, decidimos sair os cinco. Fomos até um bar, onde bebemos mais umas cervejas e jogamos um jogo de cartas. Foi um dia bem passado. Seguramente um dia diferente.

Inicialmente pensámos ficar em Uyuni por um par de dias, mas acabamos por resolver ficar apenas uma noite. Pormo-nos seguir no caminho de outras paradas. Segue-se Potosi.