E se de manhã não tivemos muita sorte de tarde fomos uns sortudos. A ideia era nadar com golfinhos e nós fomos dos poucos que tiveram a coragem de se mandarem à água “preta” daquele rio. O certo é que eles estavam ali connosco, sempre na busca de brincadeiras. Foram belos momentos de diversão, onde a felicidade motivada pela experiência de vida superou a desilusão em não vermos as anacondas pela manhã. Estávamos estafados pelo dia “cheio” que havíamos tido mas, já no final da tarde, fomos ainda para um local onde existia campo de voleibol e futebol. Deu-se então o grande dérbi entre o resto do mundo e a selecção da Bolívia. Com equipas formadas por seis elementos, todos a jogar descalços e sobre um terreno demasiadamente irregular, nós, a equipa do mundo, começamos por perder a primeira parte por 2 – 3. Tínhamos os dedos dos pés todos comidos pelo campo e os adversários nada. Sem nos resignarmos, entramos na segunda parte com mais ganas e, já com o sol quase a ir embora, conseguimos ganhar por 5 – 4. Apesar da rivalidade acabamos o jogo contentes pelo bonito jogo de futebol realizado.

Chegados ao dia da partida, não podíamos deixar as pampas sem antes ouvir o despertar de toda aquela natureza: os mochos, as águias e tucanos, macacos, perus e muitos outros que fazerem os seus movimentos e “gritos” pela manhã. Também tínhamos planeado uma pesca de piranhas mas, como tinha chovido demasiado e a água do rio estava suja, com excesso de ácidos e com falta de oxigénio, a maioria já tinha morrido. Não havia piranhas para pescar mas havia toda uma fauna e flora para descobrir. Foi o que fizemos. Fomos descobrir mais uns animais, sons e um grande conjunto de cores que vai mudando conforme a hora e a claridade do dia. Finda esta última actividade, regressamos a Rurrenabaque, mas desta vez mais rápido.

Era dia 30 de Dezembro e estávamos praticamente nas vésperas do Ano Novo. Disseram-nos que a passagem de ano na cidade seria muito boa, mas nós estávamos mais inclinados para regressar a La Paz. Era também um excelente pretexto para rever a família que tão bem nos acolheu. Depois de nos decidirmos definitivamente pelo regresso, novo contratempo: o autocarro que deveria ter saído pelas 22h00 não apareceu, pelo que só conseguimos sair por volta da 1h da manhã e após termos trocado de companhia. A chegada a La Paz, no dia 31, deu-se já pelo fim da tarde, onde fomos recebidos com um grande sorriso da nossa “família adoptiva”.

Pampas em Rurrenabaque
Pampas
Rio Beni, Rurrenabaque
Rio Beni

Ao contrário da tradição que de vive em Portugal, onde há quase a obrigatoriedade em se vestir cuecas azuis, este ano a Bolívia enveredou pela moda do amarelo. Foi um excelente fim de ano, num país onde também se vivem muitas tradições e superstições. Para quem quer saúde, veste de branco; os que querem continuar a ascender na carreira sobem pelas escadas e esquecem o elevador; os que querem viajar – talvez a mais engraçada e única que também experimentámos – têm de entrar em casa, já depois da meia-noite, com uma mala de viagem, cartões de crédito e passaporte. A primeira a cumprir esta tradição foi a “nossa” avó. “Cheguei da minha viagem” – disse-nos mal passou a porta da rua. Foi o suficiente para deixar toda a gente a rir à gargalhada.

Próxima paragem, Lago Titicaca.