A pequena mancha cinzenta da malha urbana de Iquitos é apenas um grão de pó na vastidão da Amazónia. Percebendo-se a sua localização, no coração daquela enorme mancha verde, não se estranha que esta seja a maior cidade do mundo inacessível por estrada. À capital da região do Loreto Peruano só se pode chegar de barco (uma aventura de quase uma semana pelo rio Amazonas) ou de avião. A determinada altura o meu plano de viagem chegou a contemplar a primeira hipótese, mas a falta de tempo impôs a viagem pelo ar. Fiz a ligação por Lima. Depois de enfrentar a altitude dos Andes, o cansaço das caminhadas e a aridez do deserto de Ica, chegava a altura de lutar contra a humidade, o calor e a bicharada. Apetrechado de dois tipos de repelentes, roupa comprida e uma carrada de vacinas aterrei em Iquitos.

Quando as rodas do avião (surpreendentemente maior e mais moderno do que esperava) tocaram a pista de alcatrão e espreitei pela janela, percebi aonde me tinha metido. Não pude deixar de sentir um excitamento fora do comum. Estar no pulmão verde do planeta, um dos mais remotos lugares do mundo, era algo que não imaginava acontecer há alguns anos atrás e a adrenalina começava a segregar abundantemente das minhas glândulas supra-renais. Imaginava que o bafo quando saísse do avião fosse mais intenso. Ir ao Peru no final da época das chuvas continuava a trazer-me benefícios. O calor era intenso, mas não insuportável, como era o que lidei na Índia ou no Sudoeste Asiático.

Iquitos significa “as pessoas” na língua local e pessoas não faltam. Vivem cerca de meio milhão de habitantes neste que é o principal porto fluvial do país. A cidade é bem diferente das restantes cidades peruanas. O isolamento, quase insular, assim o dita. Os “motocarros” (semelhantes aos tuk-tuks tailandeses) dominam as estradas. São poucos os carros e os autocarros são do mais podre que pode haver.

Caminhei pelas ruas durante algumas horas. Depois de duas semanas em território de montanha, onde vive a etnia qechua, ver o povo da Amazónia foi fascinante. Um taxista de Lima, depois de perceber que ia embarcar para Iquitos, disse-me: “Sabes qual a principal razão que leva as pessoas da capital a visitar Iquitos?”. Seria a natureza? Os animais? A tranquilidade? A comida? “Não”, respondeu ele. “As mulheres”. As mulheres de Iquitos são muitos diferentes das da costa e os traços índios são um motivo suficiente para uma visita à capital do Loreto para muitos peruanos e não só. Já Mario Vargas Llosa, no seu livro “Pantaleón y las visitadoras”, descrevia as mulheres de Iquitos como “incrivelmente afrodisíacas”. Nem mesmo o personagem central do livro, o general Pantoja, casado e bom rapaz, resistiu aos encantos das mulheres iquiteñas.

A afamada beleza das mulheres de Iquitos confirmava-se nas ruas da cidade. Mais aperaltadas do que nas restantes cidades peruanas, as iquiteñas não andam, bamboleiam., como que desfilando numa passerelle amazónica. O calor da selva invade a cidade e as libidos desta gente. Para o turista acabado de chegar nem tanto, mais preocupado em hidratar-se e afugentar mosquitos.

Outra vantagem de ir à Amazónia nesta altura é o facto do caudal do Amazonas estar no máximo, o que, em termos de turismo, é favorável para conhecer o bairro de Belén. Chamada de a “Veneza da América Latina” (porque têm sempre de chamar a todas as cidades na água de Veneza?), Belén, com as suas casas flutuantes, é a zona de Iquitos mais interessante de ser visitada. Tinha apenas uma tarde para Belén, por isso apanhei um barco-táxi e fui conduzido pelos “canais”. Uma experiência inesquecível, nesta que é a maior cidade do mundo a viver num (subjectivo) isolamento, mas bem no centro doutro mundo: a Amazónia.