Depois de horas de caminhada, chegou finalmente ao ponto bem lá em cima, com uma vista deslumbrante sobre o imenso vale e onde as enormes casas são agora pequenos pontos distribuídos meio ao acaso. A emoção é quase comovente e você sente que concretizou o seu grande desejo. Mas qualquer coisa se passa: você sente-se fraco, começa a ter uma enorme dor de cabeça e parece balancear quando dá alguns passos. Entretanto apercebe-se que está com dificuldades em respirar e parece que vai sufocar. Será que está a ter um enfarte do miocárdio? Será que está a morrer? Não, caro leitor! Embora as notícias não sejam muito animadoras, você está a sofrer os efeitos da doença da altitude.
A doença da altitude – também conhecida por síndrome de altitude, mal da montanha ou ainda el Soroche – é um distúrbio causado pela fraca oxigenação do sangue e muito comum em deslocações a grande altitude. A doença é consequência dos efeitos produzidos pela diminuição da pressão atmosférica em altitudes elevadas, depende muito da rapidez da subida, do quão alto se pretende chegar e ainda de alguns factores intrínsecos ao corpo de cada um. Habitualmente são poucos os efeitos perceptíveis abaixo dos 2200 metros, mas reveladores cima dos 2800 metros, sobretudo se a ascensão for demasiado rápida.
Para a generalidade dos casos, a aclimatação até altitudes de 3000 metros é bem conseguida em poucos dias, mas para altitudes mais elevadas, poderão ser necessárias semanas. Este período depende sobretudo da capacidade que o nosso organismo tiver para aumentar a produção de glóbulos vermelhos, que deste modo baixam a alcalinidade do sangue e aumentam a capacidade do transporte de oxigénio até aos tecidos. Aliás, a comum alteração para tons azulados da pele, está precisamente relacionada com a dificuldade no transporte de oxigénio e água até aos tecidos do corpo.
Mas afinal quais são os sinais de alarme da doença da altitude?
De entre outros sinais de menor importância, você deve estar especialmente alerta para tonturas, tremores vários, náuseas, vómitos, dificuldades no equilíbrio ou coordenação, dores de cabeça, perca de apetite e sonolência.
Embora cada caso seja um caso, é bom sublinhar que este tipo de distúrbio benigno, muito raramente ultrapassa o desconforto e que na maioria dos casos, a não ser que estejamos a considerar altitudes muito elevadas, é ultrapassado em poucos dias. A sintomatologia é ainda mais comum nos jovens que nos idosos.
O que deve ser feito para minimizar os efeitos da doença da altitude?
A respiração, transpiração e o esforço a elevada altitude, contribuem para uma rápida perca de humidade do corpo, que caso não seja rapidamente controlada pode resultar em desidratação. É pois muito importante que procure hidratar-se com pelos menos cinco litros de água por dia, mesmo que não tenha qualquer sede. Deve ainda evitar o sal, as bebidas alcoólicas e optar pelo consumo frequente de pequenas refeições, ricas em hidratos de carbono, ao invés de “grandes repastos”.
Se desconfiar que se encontra desidratado, prefira a ingestão de água morna, chá ou sopa, pois o seu organismo terá maior facilidade na absorção. Para a reposição de sais minerais, caso não disponha de qualquer produto comercial, pode juntar 3,5g de sal e 40g de açúcar a um litro de água.
Mantenha-se em boa forma física antes de embarcar para as suas férias na neve ou para aquele trekking que sempre desejou. A falta de resistência física pode potenciar os efeitos da doença da altitude.
Ao nível do mar, o oxigénio existente no seu sangue deverá rondar os 98 por cento, mas a 3000 metros pode ser reduzido para valores na ordem dos 89 por cento. Não será pois difícil concluir que muito esforço a esta altitude, poderá contribuir para o nível baixar do mínimo que lhe permite estar consciente. Adapte-se à altitude – por vários patamares se for o caso – e não tenha pressa em chegar ao destino porque ele não foge. Depois de chegar, procure descansar e não efectuar grandes esforços durante as primeiras 24 ou 48 horas.
Se voar directamente para um aeroporto a grande altitude – La Paz, na Bolívia é um bom exemplo – e não tiver oportunidade para se preparar e aclimatar, consulte o seu médico na consulta do viajante e esclareça se existe alguma contra indicação em tomar Acetazolamida, vulgo Diamox – fármaco habitualmente prescrito nestas circunstâncias. Se em outras ocasiões já lhe foi diagnosticado edema pulmonar provocado pela altitude, o seu médico poder-lhe-á ainda prescrever nifedipina. Já para o alívio de dores de cabeça provocadas pela altitude, utilize ibuprofeno, pois hoje em dia é relativamente consensual que este composto é mais eficaz que outros fármacos.
O descanso e restabelecimento do seu corpo são vitais para o seu bem-estar em altitude. Procure dormir, se possível, entre 9 a 10 horas por noite e sempre bem aquecido. Se tiver frio, vista mais roupa, optando sempre por aumentar o número de camadas e não por uma ou duas peças muito espessas. Se o frio for localizado nos membros inferiores, pode sempre optar por despejar a mochila e enfiá-la sobre o extremo do seu saco-cama.
Use o senso comum e evite constipar-se. Uma constipação irá atacar-lhe os brônquios e deste modo reduzir a capacidade de captação de oxigénio, capacidade essa que já se encontra reduzida pelo factor altitude.
Não tome medicamentos em altitude sem que lhe sejam prescritos por um médico. À semelhança do álcool, o efeito dos medicamentos é largamente potenciado, pelo que as consequências além de imprevisíveis podem ser nefastas ou até letais.
A doença da altitude pode-se tornar letal?
Em alguns casos, a doença da altitude pode evoluir para estágios mais graves e de consequências nem sempre previsíveis. O leitor deve por isso estar alerta e na impossibilidade em controlar a sintomatologia inicial, deve procurar ajuda médica imediata. Lembre-se que em casos extremos e de grande gravidade, as consequências podem ser letais.
Algumas das evoluções comuns passam pelo edema da altitude; hemorragia retineana; doença da altitude elevada sub-aguda; doença crónica da montanha, também conhecida pela doença de monge; edema pulmonar; edema cerebral.
O edema pulmonar, habitualmente acompanhado por respiração ofegante, batimento cardíaco muito acelerado e tosse violenta, bem como o edema cerebral, acompanhado de náuseas, vómitos, perca de apetite súbita, dores de cabeça muito fortes ou até alucinações, são sem sombra de dúvida as consequências mais graves da doença da altitude. Em qualquer um dos casos a subida deve ser imediatamente interrompida e o caso acompanhado por um especialista. Deve ainda ser preparado o transporte para uma altitude mais baixa e em casos verdadeiramente graves, o doente pode ser tratado com dexametasona – corticosteróide poderoso – durante o período de transporte. É importante reter que qualquer retardo nesta medida, pode ser fatal.
Mais informação sobre a doença da altitude poderá ser encontrada no portal da saúde.
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