Para me proteger do frio, sento-me a tomar algo quente no café rotativo. Observo calmamente a panorâmica da cidade durante cerca de trinta minutos, o tempo que demora a dar a volta completa.
Uma majestosa obra neoclássica espelha o símbolo da cidade, a “Porta de Brandeburgo”. Uma escultura de seis metros de altura representa a quadriga romana, conduzida pela Deusa Vitória. A imagem de marca de Berlim, aquela que se vê em todos os postais, muito mais deslumbrante ao vivo. Foi neste local que os Berlinenses se juntaram para celebrar a unificação em 1989.
Uma multidão ciranda pelas ruas, sem destino num frenesim constante. A cidade transpira vida num corrupio inquieto.
Palmilhei até “Hunter den Linden” ali próximo, uma das ruas mais famosas da cidade pelas suas fachadas barrocas. Contemplei-a por algum tempo, deixando-me por fim arrastar por uma pequena multidão de Berlinenses, que vagueavam sem rumo nem direcção. Com tempo para gastar, quis saber para onde se dirigiam, num final de tarde.

© Agostinho Mendes
No meio do caos urbano uma lufada de ar fresco. Teiergarten, é um parque paisagístico dos mais belos que já vi. Outrora uma propriedade de caça real, foi transformado num parque com lagos e ribeiros em 1818. A Segunda Guerra Mundial danificou-o muito, tendo sido recuperado posteriormente. As suas avenidas são ladeadas de estátuas, estando dispostas na Avenida Triunfal estátuas de governantes e estadistas.
Algumas pessoas lêem sentadas em bancos de jardim, enquanto outras treinam sozinhas. Outras há que simplesmente olham o vazio à sua frente, não sei se relembrando o passado ou projectando o futuro.
Gentes de várias culturas e cores, diferentes línguas e vestes, continuam a cruzar-se comigo.
Sentando num banco de jardim, apenas observo esta multidão imutável que simplesmente deambula, só eles sabem para onde.
Ao mesmo tempo parecem-me tristes, não sei se pelo passado recente ou pela vida quotidiana, mas andam cabisbaixos, sem companhia, com poucas conversas, e os seus olhares raramente se cruzam com o meu.
O muro dividiu-os, despertando medos e traumas difíceis de ultrapassar. O muro caiu, e hoje a liberdade impera, os anos passaram e o ventre deu à luz uma multidão solitária.
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