Confuso, levanto-me sem que me tenha apercebido imediatamente onde estava.

Bruxelas com sol?!

Estarei a sonhar?!

Lavei a cara veementemente, com água fria.

Sim, estava num hotel em Bruxelas. E o sol brilhava.

As esplanadas transbordavam de gente. Qualquer cantinho era aproveitado com mesas e cadeiras, onde pessoas famintas de sol tentavam aproveitar cada raio como se fosse um bem precioso.

O lindo dia de sol prometia um maravilhoso passeio pelo Parque de Bruxelas.

Este foi redesenhado em 1770 com fontes, estátuas e caminhos ladeados de árvores, onde outrora havia terrenos de caça medievais usados pelos duques de Brabante.

Apesar dos jardins estarem genialmente bem tratados, as árvores estavam despidas de folhas, quase que envergonhadas com a minha presença, a que não é alheio o facto de estarmos no Outono.

De fronte o Palácio Real. A residência oficial da monarquia Belga, onde estava hasteada a bandeira nacional, indicando que o rei permanecia no país.

Frente do palácio real em Bruxelas.
O Palácio Real, embora não seja usado como residência real, é onde decorrem os actos oficiais do rei.
© Jim Linwood ( CC BY 2.0 )

Do lado direito do Palácio Real, o Palácio das Academias construído em 1823 como residência do príncipe herdeiro, tem sido um edifício privado da Academia Real Belga desde 1876.

Do lado esquerdo a Igreja St-Jacques-sur-Coudenberg, uma das igrejas mais bonitas da cidade, com uma fachada clássica do século XVIII.

Os raios de sol, que continuavam a iluminar todo o esplendor arquitectónico que me circundava, apesar de fracos, permaneciam brilhantes.

Atravessei o parque, respirando devagar para permitir que os meus pulmões se deliciassem com a pureza da atmosfera.

Estátuas e estatuetas imóveis observavam-me à minha passagem. As árvores inertes pareciam mais habituadas à minha presença, deixando a vergonha de lado, apesar de continuarem despidas, talvez querendo desfrutar dos raros raios de sol.

Do lado oposto ao Parque, o Palácio da Nação, construído em 1783, é onde funcionam as duas câmaras do Parlamento Belga.

Ao fim da manhã afastei-me alguns quilómetros da cidade para visitar o Atomium, que se ergue a cento e dois metros de altura, sendo considerado o símbolo mais significativo da cidade.

Construído para a exposição Internacional de 1958, o seu design consistiu em ampliar a estrutura de um átomo em 165 biliões de vezes. Cada esfera que compõe o átomo tem dezoito metros de diâmetro, sendo ligada às outras através de escadas rolantes.

A vista lá de cima é simplesmente fantástica.

Atomium nos jardins do parque de Heysel em Bruxelas.
O Atomium, instalado em pleno parque de Heysel, no norte da cidade, foi construído em 1958 para a Expo 58.
© Christian K. ( CC BY 2.0 )

A escassos metros o Bruparck, um parque temático em miniaturas que retrata os mais importantes monumentos da Europa, contendo mais de trezentas construções a uma escala de 1:25.

Regressei a Bruxelas, e lá estavam novamente as nuvens, incapazes de se dissociarem.

Os chuviscos começaram também a cair, lentamente, para depois caírem com mais intensidade.

Passados poucos minutos a chuva parou finalmente, apesar do céu permanecer repleto de nuvens carregadas.

Dei por coincidência com o Mercado de antiguidades, existente desde 1873, onde se vende velharias e antiguidades.

Um senhor de certa idade, distintamente vestido, observa um candelabro com alguma atenção. Rodeia-o, toca-o, faz uma proposta, toca-o novamente, oferece um novo valor, e afasta-se pura e simplesmente.

Livros antigos são manuseados por mãos coleccionistas, pelas bancas de alfarrabistas que se estendem ao longo das ruas.

Alguns parecem papiros, de tão antigos que são. Não conseguindo calcular-lhes valor, tenho apenas a noção que terão sido importantes, que terão transmitido ensinamentos a um, a dois, ou a um milhar de pessoas.

Observador, deixo-me deslizar por entre as bancas e por este ambiente encantado dos livros. Folheio uns, leio outros e penso para mim que cada livro é um mundo.