Dou por mim a ler a banda desenhada do Tintim e as suas famosas aventuras com a cadela Milu até à lua.

A Banda desenhada é uma paixão Belga, sendo conhecida a vocação dos seus artistas, famosos em todo o mundo.

Há em Bruxelas um Museu de Banda Desenhada, situado num edifício de arte nova desenhado pelo arquitecto Vítor Hugo, onde se realizam permanentes exposições dos heróis de banda desenhada Belgas, como o Tintim ou os Estrunfes.

Tomei uma cerveja numa “brasserie”, depois outra noutra, e assim sucessivamente, sem ter sequer a ambição de provar as cerca de 350 variedades de cerveja existentes.

A Bélgica é indiscutivelmente a capital da cerveja.

Vagueava pela cidade, cruzando-me com uma multidão de todas as raças, de todas as cores. Não podia deixar de pensar na imagem da “cidade cinzentona” que quiseram transmitir-me.

Para qualquer lado que olhasse só via cores, gentes e sons.

Como seria possível não terem visto as mesmas cores que eu?

Terá sido a forma como olharam?

As nuvens continuavam cá, a chuva permanecia desde o primeiro dia, mas a cor também, em cada recanto, em cada momento.

Por entre a multidão vislumbro um homem louro com o cabelo arrebitado à frente, acompanhado de uma cadela branca, que seguia de costas para mim, na direcção contrária.

Hesitei, tentei focar novamente a imagem.

“Tintim” saiu-me disparado por entre os lábios trémulos.

Apressei o passo para segui-lo, mas desapareceu numa esquina. Espreitei quando lá cheguei, mas apenas vi o ombro desaparecer na esquina seguinte. Quando cheguei à esquina seguinte, espreitei novamente, mas não havia vestígios de gente.

Corri numa e noutra direcção, mas nada.

Tenho a certeza que era o Tintim e que estaria algures a passear pelas ruas de Bruxelas.

Nas ruas o movimento é habitual, de gentes a andar em todas as direcções. Numa esquina alguém tocava, enquanto uma senhora idosa desenhava rostos de perfil com um lápis de carvão.

Uma bela jovem permanecia estática à sua frente, enquanto a senhora preparava o tripé e mudava a folha de papel.

Os seus olhos, de um azul vivo fixavam por entre as rugas vincadas, os contornos do rosto da jovem, com uma pele reluzente, tão macia como a seda.

Breves traços, que mais pareciam gatafunhos, começam a sair das suas mãos, para breves segundos depois começarem a ser perceptíveis a todos os que a rodeavam.

Não tinham passado três minutos e o desenho estava completo, numa perfeição incrível e retratando fielmente toda a beleza da jovem.

Simples traços, a preto e branco.

Quem disse que a beleza precisa de cor?