Passar onze dias em Buenos Aires, Argentina, começando no dia 30 de dezembro, me pareceu uma ótima oportunidade pra praticar um pouquinho de espanhol fazendo imersão no idioma, mas foi uma ilusão. Se pedia informação na rua, percebia pelo sotaque de quem respondia que a pessoa era brasileira tentando falar espanhol; se cumprimentava meu colega de quarto num albergue, percebia pelo “hola!” respondido que ele também tinha português (brasileiro) como primeira língua; se entrava numa loja e perguntava o preço de algo, muitas vezes o atendente notava que eu era brasileiro e respondia em português; se ligava o rádio, quase sempre estava tocando Michel Teló ou Gusttavo Lima. Às vezes nem parecia que eu estava fora do meu país. Por causa da semelhança entre as duas línguas eu sempre ficava em dúvida sobre qual língua estava realmente falando. Ainda bem que o Portunhol está aí, para unir pelés e maradonas, eternos amigos e rivais.

Clarabóia e plantas num terrado de um edifício em Buenos Aires.
Terraço do hostel Telmotango.

Como ficaria lá quase duas semanas, o melhor seria economizar pelo que normalmente encarece qualquer viagem, que é a hospedagem. Então Carmen e eu nem cogitamos ficar em hotel e escolhemos o Hostel Telmotango, no bairro de San Telmo. Ficámos em quarto de casal com banheiro privado, cuja diária hoje custa $380,00 (pesos argentinos – o símbolo utilizado para identificar a moeda é igual ao utilizado para o dólar americano). Ótimo, se pensarmos que que San Telmo é um bairro cheio de atrativos (porém, meio sujinho) e localizado próximo a outros lugares tão interessantes em Buenos Aires. Ficar em albergue também permite com que o viajante economize com o jantar, já que o uso da cozinha é liberado e fica mais barato comprar a comida em supermercado e você mesmo prepará-la. Não foi o que fizemos nessa viagem, já que a cidade tem muito pra se fazer à noite, como comer no Café Tortoni, bar mais antigo de Buenos Aires, onde também acontecem shows de Tango. Caso você não vá pra assistir ao espetáculo, não é bom ir no horário de pico, entre 19h e 21h, senão poderá ficar até uma hora na fila esperando uma mesa ser liberada, como foi o nosso caso. O passeio vale a pena não pelo preço, mas pela beleza do lugar e por saber que você está comendo no bar mais antigo da cidade, que foi frequentado por Carlos Gardel, o argentino que imortalizou o tango.

Pombos no cais e edifícios modernos junto ao Rio da Prata em Puerto Madero.
Rio da Prata em Puerto Madero.

Como tínhamos acabado de chegar e eu acho que no primeiro dia é sempre bom fazer um programa mais leve, não entremos logo em grandes correrias. Há que ir entrando no clima da cidade, respirando o novo ar, dando passos preguiçosos e ouvindo das pessoas os lugares imperdíveis de se visitar. Antes do Café Tortoni, fomos a Puerto Madero, onde é muito bonito de ver o sol se pôr, e onde voltámos no dia seguinte para passar a virada do ano, acompanhados de dois casais de amigos brasileiros, todos ouvindo Michel Teló, que não parava de tocar em nenhum lugar da cidade. Esse encontro foi combinado, mas não se assuste se encontrar ao acaso com algum amigo, como aconteceu comigo, que encontrei um ex-colega de república, ao acaso, enquanto caminhava por Puerto Madero no início da tarde. Acredito que esse é o melhor lugar da cidade para se estar na virada de ano, pois há queima de fogos na beira do rio e música.

Vegetação e monumentos na praça das nações unidas em Buenos Aires.
Plaza de las Naciones Unidas.

Só sentimos falta de vendedores ambulantes vendendo cerveja em lata e de um banheiro. O segundo problema resolvemos fácil, entrando de penetra em uma festa fechada. Só não deu pra beliscar nada, porque uma garçonete reparou que não usávamos pulseirinha e veio falar com a gente, mas o fato de sermos estrangeiros e de “não” compreendermos a língua contou a nosso favor: fizemos uma cara de confusos e saímos de fininho. Já o ambulante com a cerveja só foi aparecer lá pelas duas da manhã, depois de já termos comprado cerveja cara. Nessa hora também começou a esfriar um pouco. Buenos Aires é um forno no Centro, mas venta muito no porto, então, para a madrugada, é bom ter uma manguinha comprida. Em Puerto Madero há uma ponte chamada Puente de La Mujer, cuja forma foi pensada para lembrar um casal dançando tango. Se você não conseguir enxergar isso ao olhar para a ponte de todos os ângulos possíveis, não fique se sentindo idiota (ou boludo, como eles dizem), porque nem mesmo os argentinos conseguem enxergar isso no monumento. Eu mesmo perguntei a alguns.

Neste texto, ao falar o preço de alguma coisa, falarei em pesos e aí você calcula com a moeda do seu país. Toda vez que pagávamos a conta de alguma coisa, pensávamos em reais, e não em peso, e percebíamos que, mesmo com a moeda desvalorizada, não podemos afirmar que Buenos Aires é um lugar tão barato. Pra comer, é sempre mais barato na rua, com os vendedores ambulantes. Um bom choripan, que vale por uma refeição, pode sair a $16,00; um Pancho, a $14,00. Pancho é como um cachorro quente sem graça, que só tem a salsicha seca sem molho, e, de vez em quando, uma batata palha. Choripan é pão com vinagrete e chorizo, que não é o mesmo chouriço que se conhece no Brasil, é só uma linguiça.

Não se preocupe em adquirir muitos pesos argentinos ainda no seu país. Caso você desembarque no aeroporto de Ezeiza, não vá a nenhuma casa de câmbio. As tarifas de troca mais favoráveis para turistas estão no Banco de La Nación, que tem uma agência no aeroporto. Se sua grana acabar antes do previsto, também não há razão pra desespero, porque as tarifas do mercado negro também são muito boas.

Grupo de dançarinos e músicos que actuam para o público num bar del Caminito em Buenos Aires
Apresentação de dança cultural argentina num bar de Caminito,