Descobri Itacaré quase por acaso, durante a pesquisa para a nossa viagem ao Brasil em família. Fiquei logo curiosa com a descrição do lugar: pequena vila de pescadores a cerca de 70 km de Ilhéus, no estado da Bahia, Brasil, rodeada de Mata Atlântica, de ambiente hippie muito especial e cheia de praias a que os surfistas chamam de paraíso.

Como só começou a despertar para o turismo na última década, talvez por estar um pouco afastada das grandes cidades e do ambiente ser até um pouco alternativo, Itacaré é por agora um lugar pouco massificado.

É certo que não se encontram grandes infra-estruturas, muitos resorts ou lojas de marcas internacionais, mas é um lugar excelente para viver experiências diferentes das que tradicionalmente surgem nos roteiros turísticos, ficando assim mais próximo da realidade brasileira.

Por lá conhecemos um empregado de restaurante que ainda se lembra muito bem do “tempo antes de 2000”. Disse-nos que, antes de trabalhar na restauração, já tinha conhecido outras profissões: “Eu fiquei, mas muitos foram para a Europa à procura de trabalho. Aqui, antes de 2000, ou se trabalhava na pesca ou na Prefeitura. Não havia mesmo mais nada”.

Transeuntes numa estrada da cidade de Itacaré junto a um restaurante.
Restaurante numa das ruas principais de Itacaré.
Carrinha Volkswagen Pão de Forma pintada com motivos hippies estacionada nas ruas de Itacaré, Brasil.
“Pão de Forma” pintada com motivos hippies.

E o tal ambiente hippie? Sim, é perceptível no ritmo, nos horários de funcionamento, nas ruas, nas praias, nos restaurantes e nas pousadas. E já que falo de alojamento, aproveito para deixar um pequeno esclarecimento aos leitores portugueses: pousadas, no Brasil, é um tipo de alojamento muito mais descontraído, estando por isso longe do conceito de luxo que utilizamos em Portugal. Na pousada familiar onde pernoitamos, por exemplo, começaram logo por nos mostrar um mapa na parede, explicando que em Itacaré existem 2 tipos de praias: as urbanas e as rurais.

Assim, para quem está no centro e não quiser percorrer grandes distâncias, pode deslocar-se às praias urbanas de Resende, Tiririca, Costa e Ribeira (ficam todas a 5 minutos a pé entre elas) e ainda à mais agitada e central de todas elas, a praia da Concha. Há ainda a praia da Coroa, mesmo no centro, mas esta quase não conta porque não é boa para banhos, já que serve principalmente como ancoradouro para os barcos de pesca.

E depois há as outras, só acessíveis por trilhos dentro da Mata Atlântica ou de carro, que são conhecidas como as praias rurais – Pontal, Piracanga, Siriaco, Prainha, São José, Arruba, Jeribucaçu, Engenhoca, Havaizinho, Itacarezinho e Patizeiro.

As praias são todas diferentes, quase sempre com características e estruturas muito particulares. E apesar de só termos conhecido algumas, fiquei com a sensação de que têm uma coisa em comum: são todas muito bonitas!

Mesas no meio de coqueiros da praia da concha em Itacaré.
A praia urbana da Concha é a mais central da vila.

Itacaré, que é sede de um município com pouco mais de 25 mil habitantes, o que para a realidade brasileira é uma dimensão reduzida, é apenas atravessada por três ou quatro ruas principais: a Avenida Beira-Mar, que fica junto à praia da Coroa; a rua comercial de nome Pituba, onde se encontra a grande maioria dos restaurantes e das lojas (que apenas abrem portas a partir das 16h, pois até lá a grande maioria das pessoas encontra-se quase exclusivamente nas praias); a Passarela da Vila (continuação da Pituba); e ainda o Caminho das Praias, que vai do centro da localidade às quatro praias urbanas. A grande maioria das estradas é em terra batida e quando chove, infelizmente, ficam quase sempre enlameadas e cheias de enormes buracos.

E se apesar de quase tudo ainda estar ao nível das condições básicas, observa-se bem o esforço comercial que existe na oferta para famílias. Ou seja, há muito por onde entreter e cativar miúdos e graúdos: os restaurantes têm pizzas, massas, hambúrgueres e menus infantis; há cafetarias com muita variedade de bolos; as agências de turismo organizam vários passeios e visitas na região; e nas praias existem aulas de surf, paddle surf e estruturas de arvorismo. Há ainda uma recente proliferação de novos espaços – restaurantes, lojas e alojamentos – onde tem havido uma clara aposta na decoração e diferenciação.

Já no que respeita à segurança das pessoas, devo dizer que ninguém quis garantir-me se é importante ter algum cuidado acrescido, sempre que durante a noite haja necessidade em cruzar caminhos mal iluminados e afastados do centro.

O estilo de vida em Itacaré é sem dúvida especial e muito descontraído. Foi por lá que vimos a vida desenrolar-se devagar e do jeito simpático que só os baianos sabem fazer. Observamos crianças descalças a jogar à bola na rua, a praça principal cheia de pessoas que ali se instalam o dia inteiro, pescadores que oferecem peixe a quem passa, pontos de moto-táxis ou lojistas à porta dos seus estabelecimentos, sentados em cadeiras, como se de uma esplanada se tratasse. Fica a faltar um grande momento! Foi também em Itacaré que assistimos – conjuntamente com um grande grupo de pessoas sentadas no chão, ao ritmo de música improvisada – a um extraordinário pôr-do-sol, onde a grande estrela daquele fim de tarde teve direito a uma entusiástica e ruidosa salva de palmas assim que desapareceu do céu.

Pôr-do-sol em Itacaré, Bahia, Brasil.
O pôr-do-sol é um dos momentos altos do fim de dia em Itacaré.

Durante a nossa estadia, as conversas informais com a gerência da pousada tornaram-se diárias, sempre ao balcão da recepção ou numa das mesas do restaurante. Do nosso lado queríamos saber mais sobre Itacaré e das gentes que a habitam, enquanto da parte dos responsáveis da pousada, jovens apaixonados pelo surf, também havia grande curiosidade em saber mais sobre as praias e as ondas portuguesas. Será também por isso que, quando nos despedimos, foi sem surpresa que surgiram os abraços e as promessas de uma visita em breve.