Os ciganos do mar chamados de “Chao nam” são os únicos que apanham os ninhos de andorinha, uma das iguarias preferidas dos Chineses.

Phi Phi Ley permanece desabitada e quase virgem. As pinturas da gruta Viking são uma das grandes atracções. A gruta também possui ninhos de gavião comestíveis, usados na sopa de ninhos. A recolha é feita por homens que se apoiam em estacas de bambu, para recolherem os valiosos ninhos, que são guardados por homens armados. Em Ao Maia há excelentes recifes de coral.

À sombra do coqueiral, da varanda do meu bungalow, olho o mar transparente à minha frente, como se não existisse, apesar dos barcos estarem lá, suspensos. Os barcos típicos são de madeira, e têm amarrado na proa tecidos coloridos.

Espera-me um dia de mergulho, com mais quatro pessoas, dois Australianos e dois Polacos.

O barco desliza calmamente pelo mar tranquilo, enquanto passamos por penhascos recortados, devido à acção das ondas que provocam a erosão na base das rochas, abrindo fissuras que séculos mais tarde se transformaram em grutas.

Atracamos numa zona coralina. O mar é tão límpido, que sou induzido em erro com a profundidade do local.

Barbatanas nos pés, deixo-me cair para a água morna. Coloco os óculos de mergulho e testo a impermeabilidade.

Olho para o fundo, e não posso acreditar no que vejo. Um fundo multicolorido, com peixes de todas as cores a nadarem alegremente.

Os recifes são compostos de milhões de animais marítimos minúsculos, da família das anémonas e das medusas, crescendo a um ritmo muito lento. Um metro de coral poderá demorar mil anos a formar-se. Servem de fonte de alimento, e abrigo à base do ecossistema marinho.

A base do recife é composta por esqueletos calcários duros. O cimo do coral é macio como uma planta, servindo de abrigo a milhares de plantas e animais que vivem à volta do recife de coral.

Este espectáculo grandioso deverá ser preservado. Uma das recomendações que nos é dada antes do mergulho, é a de não tocar, apenas observar e memorizar.

Lá em baixo, não nos apetece subir à superfície, tal a variedade de fauna e flora única que está submersa.

Cruzei-me com um tubarão-leopardo. A pulsação aumentou imediatamente, no entanto foi-me sinalizado que era inofensivo. São muito vulgares entre os recifes, e pelo sim pelo não, optei por afastar-me um pouco mais daquela zona, nunca se sabe quando um tubarão inofensivo pode não estar nos seus dias.

De vez em quando, aparecia à janela do coral uma cabeça de moreia. Este predador voraz impõe respeito, com os seus dentes afiados.

Milhares de peixes de cores vivas olham para nós curiosos. De vez em quando uma Xaputa aproxima-se, intrigada vai vigiando os meus “passos”.

Senti uma sombra por cima de mim, pensei por momentos que fosse o barco que nos viria buscar. Quando olho para cima, uma raia enorme a planar. Deveria ter entre três a quatro metros de diâmetro, e passeava-se vagarosamente.

Recolhemos ao barco. Entusiasticamente contávamos histórias, tentando cada um sobrepor a sua voz à do outro, como se a sua história fosse a mais importante, perante o sorriso embevecido do chefe do barco.

Zarpámos, para outro local. O dia seria dedicado por inteiro ao fascinante mundo submerso.

É incrível a sensação de paz que se sente, perante paisagens tão soberbas. Quaisquer palavras, serão sempre insuficientes para descrever aquilo que os meus olhos viram.

Recomendam-me umas barbatanas, verde fluorescente. Calço-as, e não pude deixar de reparar no sorriso malicioso do chefe.

“Deverão estar a preparar-me alguma praxe”, pensei.

“Nada com elas, e terás uma experiência inesquecível”, disse o chefe da embarcação.

De sorriso amarelo, agora mais que nunca, tinha a certeza que estavam a preparar alguma.

Mil e um peixes cruzam-se comigo, e olham absortos para os meus movimentos, talvez pensando que não somos tão delicados dentro de água como eles. Peixes-palhaço são às centenas colorindo o mar azul, de uma transparência que quase parece a atmosfera.

Peixes azuis, laranjas, verdes, vermelhos, amarelos, pretos rodeiam-nos e não nos temem. Alguns mais destemidos até vêm comer-nos à mão. Senti-me envolvido numa aventura exótica.

Enquanto nado, vejo o sinal de um colega de mergulho. Um dos Polacos, apontando com o dedo para trás de mim. Olho para trás, e vejo uma nuvem de peixes verdes, quase da tonalidade das barbatanas, eventualmente atraídos pela cor e movimento dos pés. Seguiam-me num enorme pelotão, e com uma enorme curiosidade. Não sei quantos eram, mas seguramente várias centenas.

Tive o privilégio de viver uma experiência única, talvez aquelas barbatanas fossem mágicas.

De regresso à praia, no final do dia, sento-me a ver o dia declinar.

O mar assume os tons de prata, enquanto vai beijando ao de leve a areia, com uma delicadeza de namorados.

Gostaria de poder traduzir por palavras o que os meus olhos viram. De ter a capacidade de escolher os adjectivos adequados e construir as frases perfeitas, mas jamais o conseguirei fazer.

Preferi não a descrever. Escondi todas as frases perfeitas e os adjectivos, naquele pedaço de paraíso. Enterrei-os numa praia deserta, como se fosse um tesouro escondido.