Um pequeno tornado formou-se ao fundo, aumentando de tamanho a cada segundo que passava. Rodopiando estabelecia uma ponte entre o céu e o mar, e apesar de ainda estar longe, dirigia-se na nossa direcção.

No veleiro tudo permaneceu tranquilo, até alguém se ter apercebido do facto e ter dado o alerta. O comandante, por sua vez, acalmou os passageiros dizendo que era normal por estas paragens, não havendo lugar a preocupações.

Fazíamos o caminho de regresso da Ilha Saona, um portento da natureza perdido no meio das Caraíbas. O dia tinha decorrido da melhor forma possível, com muito sol, comida, bebidas tropicais, muita música, e ainda mais diversão.

A ilha é inesgotável em recursos naturais, desde pequenos lagos, a cascatas e um sem número de coqueiros, deslumbrou desde o primeiro minuto em que coloquei o pé em terra firme.

O sol presenciou-nos durante todo o dia, abençoando-nos desde que subimos a bordo do veleiro, todo ele construído em madeira e cujas velas tinham sido recolhidas, devido à ausência de vento.

Algumas nuvens cobriram o céu, não se sabe vindas de onde, mas num repente que me deixou admirado, como se alguém tivesse soltado no céu milhões de balões, cobrindo-o quase por completo.

Um rodopio gigante formou-se lá ao fundo, girando como um peão com que brincava na minha infância.

As suas proporções aumentavam, e vagueava sem direcção certa, ora para a esquerda ora para a direita, unindo o céu ao mar como se fosse uma nuvem vertical.

O céu enegreceu-se num impulso, começando a trovejar rancorosamente.

Raios cintilantes rasgaram o céu cinzento, ramificando-se em todas as direcções, lançando o pânico no veleiro.

Enquanto as pessoas tentavam proteger-se como podiam da abundante chuvada, os seus rostos denunciavam o terror que lhes corria pelas almas.

O comandante manteve a calma, tentando navegar o mais rapidamente que pôde até à costa, mas a tripulação manifestava sinais de nervosismo, na execução das suas tarefas. Hastearam as velas e corrigiram rotas. Talvez surpreendidos com a tempestade traiçoeira.

Mantive-me acocorado junto à proa, enquanto o espectáculo de relâmpagos e trovões dilacerava os céus, até há pouco calmos e azuis.

Traços de luz branca projectados pelo céu, iluminavam-nos com se fossem antigas candeias, criando um ambiente assustador, e sem possibilidades de fuga.

Embora receoso considerei-me, no momento, um privilegiado por estar a viver aquela situação única, desejando poder chegar a “bom porto” são e salvo.

O tornado foi-se desvanecendo e acabou por enfraquecer, até se dissolver nas águas do oceano.

Os ameaçadores trovões deixaram de roncar num ímpeto, enquanto os relâmpagos nos abandonaram, tão rapidamente como tinham surgido.

Aproximadamente uma hora depois de ter iniciado a tempestade, as nuvens desapareceram e tudo voltou à normalidade. Talvez o senhor que lançou os balões, os tenha puxado todos em simultâneo para terra, descobrindo novamente o céu azulado, que se escondera por detrás da tempestade.

Como se tivéssemos vivido um sonho real, a chuva deu lugar ao sol, que continuava a brilhar altaneiro. Parecia sorrir, depois de ter conseguido espreitar por detrás das nuvens.

Debrucei-me sobre o convés e fixei a linha o horizonte, onde as aguas calmas se confundiam com a linha do céu.

Depois da tempestade, vem sempre a bonança.