Independentemente do “tipo de viajante” que sejamos (é horrível colocar pessoas em gavetas e frascos, mas a verdade é que em viagem cada um de nós é motivado por coisas diferentes), mais cedo ou mais tarde o nosso itinerário irá levar-nos um lugar que ocupa a nossa imaginação desde muito novos; um daqueles locais que povoa as brochuras de agências de viagem, imagens de fundo dos nossos computadores ou a lista de locais a visitar antes de morrer de muita gente. Muitos desses locais são de longe sobrevalorizados, um caso bem-sucedido de marketing agressivo, mas também de expectativas demasiado altas; mas para outros esse estatuto tem uma boa razão de ser, mesmo sendo locais lotados de turistas de câmara em punho e vendedores de lembranças, conseguem surpreender e impressionar o mais calejado viajante. Com cerca de 6 milhões de visitas por ano o Taj Mahal é um desses locais.

Fotograficamente falando é um desafio enorme. Mesmo em época baixa, a probabilidade de se encontrar longas filas para entrar são grandes, e lá dentro haverá quase de certeza alguém a arruinar a composição do que parecia ser uma boa foto. Além disso, o que se poderá fazer que ainda não tenha sido feito? Deverão haver, pelo menos, largos milhares de fotos das suas brancas paredes de mármore.

A foto “clássica” do Taj Mahal, com os seus lagos e jardim mesmo em frente à fachada (e sem pessoas) implica uma boa dose de trabalho: chegar bastante cedo à porta menos concorrida (nascer-do-sol é a hora em que quase toda a gente entra), negociar os controlos de segurança e chegar rapidamente ao local a tempo. E no fim o que se consegue é exactamente isso: uma foto “clássica” do Taj Mahal, muito provavelmente igual à do outro fotógrafo que fez o mesmo trajecto e tirou a foto mesmo ao lado. Nesse caso qual é a alternativa para quem não queira fazer este contra-rrelógio ou esteja à procura de algo mais?

Aceitar as multidões

Se não conseguimos vencê-los porque não juntarmo-nos a eles? Se milhões de pessoas visitam o Taj Mahal todos os anos porquê deixá-las de fora da história? Porque não usar as pessoas à volta? Adicionar pessoas à foto torna a foto mais dinâmica, cria uma noção de escala a quem veja a foto, adiciona um contexto à composição ao torná-la em algo mais que a imagem de um edifício.

Brincar com longas exposições é outra excelente opção, uma maneira simples de capturar o movimento das multidões, bastando colocar a máquina num local estável (tripés são proibidos no Taj Mahal), ajustar para uma velocidade de disparo na ordem do 0,5 s a 1 s e com o temporizador fazer o disparo. Ou então prestar atenção às pessoas à volta, são um tema dentro do próprio tema, e que foi explorado tão brilhantemente pelo fotógrafo Martin Parr.

Dar a volta

Há planos que não nos saem da cabeça ou então há um guia que nos insiste em levar lá, mas não limitar a esse primeiro enquadramento, ao primeiro plano. Dar a volta, contornar, chegar mais perto, muito perto ou então mesmo muito longe (uma das minhas fotos preferidas de sempre do Taj Mahal tem um comboio no primeiro plano). Procurar ângulos diferentes, parar e olhar sem pensar na foto. Esperar e olhar outra vez, procurar pequenos detalhes intrincados de construção ou a silhueta da cúpula ao pôr-do-sol. Este é um daqueles casos em que uma pesquisa prévia permite criar atalhos. Ver fotos dos locais que iremos visitar ajuda a antecipar aquela foto que queremos fazer. Mas por outro lado nunca esquecer as dicas preciosas de habitantes ou que outros viajantes nos podem dar.

A vida fora das muralhas

Por muito dramática que seja a paisagem ou o monumento, nada conta melhor uma história que o elemento humano, e se as multidões de visitantes são sem dúvida um tema interessante, as pessoas que fazem das redondezas a sua casa são-no ainda mais. Adoro locais com história, mas em especial locais com história que são vividos com pessoas e que sejam mais que museus ao ar livre. No caso do Taj Mahal será difícil encontrar alguém com um rebanho de cabras ou a tratar de um campo de arroz. É necessário sair das muralhas para ter um vislumbre do quotidiano, mas apesar de tudo pode-se começar por não ignorar os trabalhadores que mantêm os relvados e lagos imaculados. Mas é no exterior que as coisas acontecem, a começar literalmente pelo exterior da muralha, onde junto ao rio Yamuna se juntam barqueiros, senhores de avançada idade a deixar pequenas velas como oferenda que irão calmamente a flutuar rio abaixo. E por fim, procurar a vida que acontece longe to Taj Mahal: as ruas e os becos de Agra, as bancas de comida e os mercados de rua. No fim de tudo percebe-se que há muito mais que apenas a bela fachada branca de um monumento icónico.