Quanto a aproveitar a deslocação para um banhito na praia, esqueça. As correntes ali são traiçoeiras, e as ondas não são para brincadeiras. No parque de estacionamento junto à areia alguns veículos  testemunham a presença de um bando de audazes, conhecedores dos riscos e das características das águas, mas que mesmo assim aceitam o desafio, maioritariamente sobre uma prancha de surf.

Está a chegar a hora de pedirmos uma segunda dança à Dona Sorte, que naquele dia não nos deixou ficar mal. A subida que nos leva de Cofete até ao ponto panorâmico que dá as boas vindas aos visitantes que se aproximam, é ingreme e a qualquer momento podemos encontrar um carro em sentido inverso, mas a coisa corre bem. Lá em cima, páro. Subo a pé até ao morro mais alto. E é um momento inesquecível.

O caminho de regresso faz-se sem precalços, com um à vontade que nasce da veterania obtida há apenas algumas horas, quando trilhámos aquela estrada rumo ao desconhecido. Se à ida ia  concentrado na superfície de terra batida, buscando incessantemente aquela pedra pontiaguda que arruinaria estas férias, no retorno, já ciente da inexistência de papões naqueles 17 ou 18 km que me separavam do asfalto e da carícia benevolente da civilização, deixei-me embalar pela paisagem. Aqui e acolá erguem-se casas deixadas para trás, abandonadas ao seu destino. Propriedades com histórias para contar, mas que naquele dia permaneceram mudas à minha passagem. Mais adiante um par de burros fazia uma operação “stop” aos turistas que circulavam, pedindo uns pedaços de pão e o que mais houvesse para se trincar. Paguei o tributo e segui.

linha de costa de Cofete
A linha de costa de Cofete
veleiro na costa de cofete
Um veleiro solitário, que nos fez companhia durante algum tempo
estada para Villa Winter
Conduzir até à villa Winter não é para todos
vinhas em cofete
As vinhas que foram de Winter e ao longe a sua casa

Já na fase final do percurso, a paisagem muda. A envolvência agreste, desértica, dá lugar a uma verdura que evoca as costas irlandesas. No mar, um veleiro acompanha-nos, seguindo uma rota paralela. E nisto o som irregular do rodado sobre as pedras soltas e as saliências caprichosas de uma estrada com personalidade própria, cessa. O nosso carro segue agora com uma docilidade já esquecida… é o regresso ao asfalto e o acordar de um sonho que nunca aconteceu. Adeus Cofete.

Para mais informações sobre Gustav Winter e a sua casa misteriosa:
http://en.wikipedia.org/wiki/Villa_Winter
http://www.sunnyfuerteventura.com/villa-winter/index.html