Quando ousamos rasgar oceanos e nos decidimos abrir ao mundo, além das especiarias e novos víveres até então desconhecidos, soubemos fazer embarcar nas naus alguma cultura e arte gastronómica. Aos produtos de origem mediterrânica, do mar e das muitas regiões nacionais, juntaram-se sabores que contribuíram para desenvolver a culinária como símbolo da nossa racionalidade enquanto portugueses.

A nossa genética gastronómica é detentora de uma riqueza, onde a explosão pirotécnica de sabores, cheiros e cores se faz com mestria. Ao longo dos tempos, os nossos artesãos da panela e colher de pau, souberam fazer desta mistura uma das gastronomias mais ricas e fascinantes do mundo. A comida e doçaria tradicional portuguesa é hoje um património secular e alvo de estudos com a mais diversa proveniência. Contudo, não deixa de ser aflitivo quando muitos de nós não sabem defender ou atribuir o merecido valor e esta riqueza colectiva que, em muito casos, é o expoente da ousadia e da capacidade de adaptação que tão bem caracteriza o povo português.

Não querendo desvalorizar o que a nova geração de empresários, cozinheiros e gastrónomos, têm feito pela gastronomia portuguesa, gostava de relembrar que a boa comida nem sempre de faz da agora tão afamada cozinha molecular, dos espaços da moda com projectos de arquitectura premiados, de funcionários de laçarote que caminham compassadamente, sem pressas e por vezes de sorriso forçado, ou de modas e tendências criadas por pseudo opinion makers. Um verdadeiro “manjar do deuses” pode estar ao virar de cada esquina, nos lugares menos improváveis ou onde a ruralidade profunda ainda predomina. Para os encontrar, basta que cada um de nós se predisponha a rasgar não os oceanos do passado, mas os montes e vales que se agigantam um pouco por este país que, apesar do pessimismo reinante, é fascinante e pertença de cada um de nós.

Já agora, onde vai almoçar no próximo Sábado?