Situada num vale entre algumas montanhas da senhora Cordilheira, El Bolsón faz-nos lembrar a Suíça. Aliás, uma das boleias locais que apanhamos foi da Cristine, uma senhora Suíça que vive aqui há mais de 30 anos. Diz que tudo é muito semelhante à sua terra Natal, mas com mais liberdade.

Fomos com ela para a feira artesanal que se realiza duas vezes por semana. Uma feira lindíssima com vários tipos de arte entre as quais os chocolates locais – deliciosos – e a cerveja artesanal – sem palavras – com sabor a morango, cereja, picante, mel, chocolate, cassis, negra, vermelha, entre outras. Ah! Tinham também a loira.

Como disse no relato anterior, El Bolsón é conhecida como a cidade hippie da Argentina. Eu diria mais: como a cidade happy da Argentina. Uma cidade contente e civilizada. Muito igual e bonita no que diz respeito ao design e arquitectura das suas habitações. Construções básicas em pedra, cimento e madeira, mas todas elas lindíssimas e cada uma com um toque que a faz diferenciar das demais. Os próprios baloiços e as estações de autocarro são construídos em madeira. Plástico quase não se vê. As pessoas têm consciência do planeta em que vivemos e principalmente naquele onde não querem viver, mas para o qual estamos a caminhar.

Na primeira noite ficámos em casa de um guarda-florestal, que com um enorme sorriso e um sumo natural de ameixa, nos recebeu muitíssimo bem. Devolvemos a gentileza com um vinho local. A casa, pela qual nos apaixonamos desde logo, é magnífica e toda ela construída por ele. Prometeu-nos enviar a planta assim que mandássemos as fotos. Vamos, no entanto, deixa-las fermentar por algum tempo, para depois ter “mais gosto”.

No dia seguinte a recepção foi em casa da Patrícia. Uma senhora cheia de energia. Aliás, se já não tivesse a companhia da Catarina, ficaria com esta senhora para o resto da vida. Nesta casa tivemos de partilhar o espaço com um casal francês, que se encontrava a jantar com outro casal suíço, conhecido um ano antes no Tibete. Curiosamente o casal com o qual partilhamos a casa tinha um projecto de viagem semelhante ao nosso. A diferença é que vão viajar durante 3 anos de bicicleta. Diferença pouca… Já o outro casal, também ele a viajar de bicicleta há cerca de dois anos, é composto por um casal de reformados, ambos com 64 anos, que quando pedalam percorrem entre 60 e 80 quilómetros diários. De invejar. Tanto os quilómetros como a frescura da idade.

Parque central em El Bolsón
Parque central em El Bolsón
Anoitecer em El Bolsón
Início da noite na cidade

Ambos os casais serviram de fonte de inspiração para nós. O bonito da rede social couchsurfing é mesmo esta. Cada pessoa que conhecemos é uma janela. Chega sempre algo novo do lado de lá. E vice-versa. Cada um com os seus gostos e capacidades que, quando partilhados, ganham um brilho ainda maior.

Quanto às nossas actividades aqui em El Bolsón, resumem-se essencialmente a algumas caminhadas entre cascatas e cataratas, ao que se junta a observação de uma manifestação contra a construção de um campo de golf na região.

Numa viagem à Argentina, aconselhamos vivamente que por aqui passe. É que embora a simpatia dos argentinos seja comum em todas as regiões, aqui têm uma mística diferente. Mas o melhor é mesmo ver por si. Monte-se nas bicicletas, tal como fez o casal de reformados, e venham conhecer o mundo. Até lá, conheçam-no por aqui.