O terceiro dia estava destinado para chegar a Aguas Calientes: cidade de onde se parte para Machu Picchu. Para este terceiro dia estava também reservada uma actividade durante a parte da manhã, que consistia em fazer seis escalões de slide. Embora o “filme nos soasse muito bem”, o certo é que já tínhamos feito o rafting, por isso, optamos por antes por fazer uma caminhada. Melhor, essa era a nossa intenção! Mas como o Fred se tinha magoado no dia anterior nos ligamentos da perna direita, optamos antes por pedir boleia até ao início do santuário de Machu Picchu, para que não fossem feitos grandes esforços físicos. Entretanto o resto do grupo foi chegando e o almoço foi realizado já dentro do santuário. Seguiram-se nove quilómetros da caminhada durante a tarde mas, antes de partir, um dos guias optou por esfregar um medicamento qualquer  sobre a perna magoada do Fred para que também ele conseguisse fazer esta parte do percurso.

Subimos um pouco e logo tivemos a primeira visão sobre Machu Picchu, bem lá em cima e onde ainda mal dava para reconhecer a cidade perdida dos incas. Os nove quilómetros foram percorridos por um belo trilho, quase sempre junto à linha do comboio – outra das hipóteses para quem quer ir a Machu Picchu –, de onde se obtêm vistas magníficas. Chegados a Aguas Calientes estava tudo mais do que ansioso para o nosso “grand finale”. Por mim, Catarina, estava um pouco preocupada com a perna do Fred e ele também, pois a subida final é a mais complicada de fazer, mas no fundo é também o principal objectivo e desafio de toda esta caminhada. Quando acordamos pelas 4h da manhã, o Fred já tinha tomado uma decisão e optado em subir.

Depois de concluir os preparativos, avançamos em direcção aos mil e oitenta degraus da escadaria que nos aguardava, onde curiosamente o Fred caminhava com menos dificuldade que em trilhos e caminhos planos. Fomos parando de vez em quando, mas a vontade em chegar lá a cima era muita. No nosso pensamento persistia a ideia de que “quando chegarmos ao ponto em que olhamos para baixo e virmos a nuvem a rodear a montanha, vamos ainda ter mais força”. Os ponteiros do relógio avançavam e o pensamento era sempre positivo: “mais um bocadinho”; “estamos quase”; “Machu Picchu é já ali”! Até que chegamos à entrada, mas infelizmente era ainda só a entrada! Teríamos de subir um pouco mais… Chegados, ali estava ela! A cidade perdida, envolta num nevoeiro que lhe dava um ar misterioso. Aliás, misterioso continua a ser também o destino dos últimos habitantes de Machu Picchu, pois desconhece-se o local para onde se terão refugiado. Embora os arqueólogos que se dedicam à restauração da cidade, encontrem quase todos os dias novos indícios, o certo é que muito pouco tem contribuído para a descoberta de novos factos.

Na cidade proliferam construções extremamente bem posicionadas e pensadas para a prevenção de desastres naturais, do culto ao sol ou o estudo das estrelas. A par dos Maias, também os Incas edificavam consoante a posição dos astros e o templo do sol prova bem isso. Este é constituído por duas janelas – viradas para este e para sudeste – que em cada solstício, marcam o início das épocas de seca e de chuva, respectivamente. Para além disso, toda a cidade foi construída nos sentidos Este e Oeste, para que desta forma a terraças agrícolas pudessem receber o sol necessário à produção de alimentos em quantidade para todos.

A civilização Inca não pode nos dias de hoje ainda ser caracterizadas a 100%, visto não existirem dados escritos sobre como se encontrava organizada. Além disso, os próprios incas souberam esconder a sua cultura dos espanhóis, para que esta não se perdesse. Quem sabe se escondidos no meio da selva ainda não existem descendentes? Ou até se muitos desses descendentes não se encontram no meio da civilização onde hoje vivemos?

Machu Picchu quer dizer montanha velha, reflecte esta ideia de antiguidade nas construções que hoje ainda sobrevivem, pois não foram descobertas pelos espanhóis nos tempos da conquista. A descoberta deste maravilhoso lugar estava guardada para o ano de 1911, quando Hiram Bingham, guiado por um pastor e um rapaz de 12 anos, deu a conhecer a cidade perdida ao mundo.

Nós não nos ficamos apenas pelo passeio pela cidade, queríamos mais. Assim, decidimos subir a Huayna Picchu, a montanha icónica das fotos de Machu Picchu. Disseram-nos que seria uma subida bem pior do que a efectuada no início da manhã, mas não foi. Se calhar já estávamos mais susceptíveis à subida. Depois de mais 800 escadas, chegamos ao topo e fomos presenteados por uma paisagem verdadeiramente sublime. Além da magnífica imagem de Machu Picchu, há uma maior noção das montanhas que a rodeiam e até o duro trilho desde Aguas Calientes é possível avistar.

elevador sobre rio Urubamba
Um prático meio de transporte sobre o rio Urubamba

Aqui é tempo de parar, sentar, respirar fundo, tirar umas fotografias e, principalmente, apreciar esta cidade bela. Há muitas perguntas nos vêm à cabeça como, por exemplo, o porquê em ter sido escolhido este lugar para construir a cidade e não outro qualquer? Como terá sido possível mover pedras tão grandes e de onde é que elas vieram? Hoje sabe-se que mesmo entre os Incas, não era todos os que sabiam da existência de Machu Picchu. Apenas a família real e os nobres tinham conhecimento da cidade maravilhosa.

Caminhamos muito, mas não ficamos exclusivamente pela montanha. Achámos que teríamos de explorar um pouco mais e voltamos a subir, mas desta vez, para ver a construção de uma ponte. E se, por um lado, ficamos bastante impressionante pela maneira como a fizeram, por outro, foi um pouco decepcionante pois estávamos à espera de uma ponte, feita de cordas ou algo parecido, que conectasse as duas montanhas. De qualquer modo saímos dali com um sorriso na cara e com espírito de missão cumprida. Era hora de regressar a Cusco e curar as dores musculares. Não iria revelar-se fácil e rápido, sobretudo pela grande viagem de alguns dias de barco até Pucalpa, a primeira paragem na Amazónia, mas alguma coisa tinha mesmo de ser feita.

Já em Cuzco, antes de partirmos, almoçamos uma vez mais em grupo, onde acabamos por provar o prato típico andino peruano – o Cuy. Trata-se nada mais, nada menos, que um porquinho-da-índia, mas desta vez na versão assado. Estava bom, mas não bate a carne de llama.