Foi em Manaus que nos foi introduzido o Samba no Brasil. Por cada dia da semana que aqui permanecemos, há uma correspondente noite de folia, onde o Rodrigo nos levou a conhecer outros tantos bares típicos. Na primeira noite assistimos ao ensaio da escola “Aparecida”, em preparação do desfile que veio a acontecer, já depois na nossa partida, no sambódromo de Manaus. É arrepiante ouvir mais de 100 pessoas a tocar o mesmo ritmo. A televisão não dá para ter uma ideia. Só mesmo no local é perceptível o beat que nos chega até às entranhas. E se estávamos em Manaus, o que seria no Rio de Janeiro!? O mais interessante é que os ensaios são feitos na rua, não só para o público assistir livremente, mas também para se venderem grandes quantidades de bebidas e assim custear as despesas do carnaval, sobretudo com os coloridos e exuberantes fatos. Aqui não há interesses pessoais e quem lucre individualmente com as actuações. Quem está dentro, está porque gosta e porque ama incondicionalmente a música. Aliás, o povo brasileiro vive para a música e não dela.

Cachoeira em Presidente Figueiredo
Cachoeira na zona de Presidente Figueiredo

Nos vários espaços onde marcamos presença em cada uma destas noites, e ao contrário do que é comum em outras paragens fora do Brasil, não há ninguém a passar CDs, MP3 ou qualquer outro suporte a conteúdos musicais. Aqui todos os bares dispõem de um grupo de amigos, que tocam de borla ou a troco de umas quantas bebidas. E como não há um conjunto fixo ou oficial, com o avançar das horas, há uma troca constante de vocalistas e músicos. O mais engraçado é que canta quem quiser cantar. Chegando a sua vez, aproximam-se e pedem apenas para os músicos começarem “em Ré menor”. Não há necessidade em dizer o nome das músicas e tudo se encaixa na perfeição, quase como de telepatia se tratasse. Em terra de Samba há também a dizer que ninguém permanece muito tempo quieto. Ao som da música há um obrigatório “Samba no pé”, facto ao qual não pudemos ficar alheados, se bem que tenhamos de reconhecer alguma falta de destreza para a dança que é considerada uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.

Foi com enorme pena que, após uma semana de magníficas experiências, tivemos de deixar a Amazónia rumo ao Rio de Janeiro: uma passagem do interior para o litoral; uma viagem da estação invernal amazonense para o verão tórrido da cidade que nos recebe com o Cristo de braços abertos.