tem nome de oração católica em honra da santíssima virgem maria. tem nome de cidade lá longe. de cidade da terra das pampas. tem nome de mulher. de mulher forte. rosário é um nome forte. nome de duas palavras. porque as mulheres são sempre rosas. são sempre rios. rosário é uma pequena aldeia na beira do tejo. na beira deste rio que nos une. que une esta nossa margem esquerda de afectos.

uma pequena aldeia dessa terra onde se diz de bem estar à beira-tejo. dessa terra também de toiros. touradas. da festa brava. onde nas rotundas encontramos a homenagem a uma cultura que divide. uma cultura de paixões e ódios. nesta aldeia não temos festa brava. não temos garraiadas. pelo menos por estes dias. o que nos resta é o silêncio. o silêncio das águas. das gaivotas na busca do sustento. da areia branca. da areia branca desta praia de rio. o que nos resta é o silêncio quando observamos ao longe a cidade. bebe-se um café. faz-se um aceno. metemos conversa. invariavelmente metemos conversa. num fim de tarde. propício aos encontros. a todos. nesta pequena baía. todos os encontros são propícios. na meia dúzia de pequenas e estreitas ruelas. nos largos. no jardim. no coreto. no pátio. no pátio que é um encontro com a história. com as estórias de gente que também resiste. no pátio que fala da liberdade.

não está ninguém. mas sente-se. sente-se o madeiro no dia de reis. as crianças aos saltos na fogueira em alturas de santos populares. a sardinha assada. os arraiais. as pequenas prendas que se trocam na vizinhança. o magusto por alturas de são martinho. não está ninguém. mas sentem-se os namoros às escondidas. o encontro na tasca. a sueca. a bola ao domingo. sente-se. que talvez pelo nome. aqui houve uma mão qualquer. uma espécie de mão invisível que colocou cada peça no seu sitio. não está ninguém mas sentem-se. as carpideiras em horas mais tristes. as conversas de circunstância. o olhar desconfiado a quem passa. sente-se esses passeios nas faluas que por aqui se cruzam. nas faluas que também dão cor a esta aldeia. que nos trazem a alegria de tocar nos dias quentes de verão, estas águas ainda reluzentes.

sente-se que esta é uma praia de gente nobre. nobre no carácter. na honra. nas rugas que transporta na face. fruto de trabalho árduo. quando o sustento vinha da labuta da construção. da construção desses navegantes rio abaixo, rio acima. coloridos com flores. sereias. santas. o que mais impressiona é a cor. rosário é uma terra pintada de todas as cores. uma terra que a todos abraça. neste braço do tejo. rosário também faz parte da minha paleta de cores. invariavelmente. há um bom punhado de anos. invariavelmente.