cada um de nós tem os seus lugares mágicos. lugares onde se encontra. ou onde nunca se encontra. onde por vezes vai apenas e só para se perder. não vale a pena tentarmos explicar o sentido das coisas. há coisas que não se explicam, é assim como o amor. vive-se. sente-se. eu também tenho os meus. e são tantos. ás vezes estou lá. outras vezes, a maior parte não estou. mas é como se estivesse.

são tantos. neste nosso canto à beira-mar. mas também um pouco já por esse mundo. quando o sonho às vezes, senão quase sempre está na capacidade que temos em quebrar as nossas barreiras, as nossas rotinas e partir-mos. assim. sem mais nem menos. é sempre mágico esse passeio aqui na avenida. junto à ribeira de bensafrim. nestes dias em que o vento ainda assobia. tal como mágico é o mar da carrapateira. o comboio em tavira e esses jantares junto ao gilão. o alto da falésia na arrifana. santa luzia. o monte santa tecla. a cascata da senhora da peneda ou os penhascos em castro laboreiro. como é mágico sempre que atravesso o nosso alentejo. nesta altura em que os campos são ainda mais verdes.

ou sempre que passo a ponte em milfontes. e há sempre uma sensação de um paraíso plantado em pleno alentejo. ou a feira por alturas de são martinho no alvito. mágicas são os milhares de quilómetros de praia a perder de vista na costa da baia, rumo a um qualquer porto seguro. o vesúvio ao largo na rota de capri. a plaza del sol e umas tapas na plaza mayor. as ramblas e a place du capitole. a pont neuf. como também é mágica esse encontro de afectos, de sonhos, de vontades, de regresso às origens, sempre que me aventuro por terras andaluzes e pernoito em aracena, sevilha, córdoba, nerja. e me vem sempre à memória os poetas andaluces.

Leicester Square em Londres
Leicester Square em Londres.
© Agostinho Mendes

o mosteiro em rila. o pireu e os teus olhos de menina, quando tinhas uma ilha. uma ilha grega ao largo. santorini. um quarto em sofia. as areias do sal. o mar azul dessa terra de músicos e poetas. e de gente de afectos. que canta as suas mornas e tem como destino o nosso fado. ruka e o branco do tecto do mundo. do fim do mundo. firenze e os canais dessa terra de máscaras. as ruas de roma. que mourão-ferreira eternizou. a piazza navona. o soho. leicester square. num encontro de culturas. de gente de todo o mundo. de todas as cores.

um goulash nas ruelas de buda. sinaia. a maria na estação de brasov. cheia de sorrisos e encantos. os cárpatos. um capuccino em kosice num domingo cheio de sinais do tempo, nuvens escuras, chuva. como é mágico um capuccino em kosice num domingo de trovoada. dessas em que parece estar a desabar o mundo. como são mágicos os cárpatos nessas aventuras de caminho de ferro, por meio de aldeias perdidas, por entre monte e vales.

ás vezes estou lá. outras vezes, a maior parte não estou. mas é como se estivesse. porque as palavras. as minhas. as vossas. são o que também tornam todos estes lugares mágicos. e nos transportam.

ás vezes estou lá. outras vezes, a maior parte não estou. mas é como se estivesse. hoje estou. enquanto existirem palavras. enquanto existirem poetas. enquanto o sonho for livre. e nós queremos que seja sempre. estaremos sempre lá. sempre.