“Estás com medo? Parecias atento aos procedimentos de autodefesa hoje de manhã”, questionou-me com ares de chacota.

“E estive. Gostava de ver os ursos, mas não na minha margem”, respondi inseguro.

“Até seria giro! Vamos não sejas medricas”, e puxou-me detentora de uma confiança que não tinha no inicio da conversa.

“Seja o que Deus quiser”, sussurrei para mim.

Durante o percurso, apresentámo-nos, soubemos o que cada um fazia nos respectivos países, tendo sido uma caminha bem animada. O primeiro quilómetro, passou sem que tivéssemos dado por ele.

“Olha estão ali. Estas a vê-los?”, sussurrou.

Era uma fêmea, acompanhada de duas crias.

Que beleza, nunca tinha visto ursos no seu habitat natural. As crias são como se vêem na televisão. Constantemente a correr e a brincarem umas com as outras, parecem peluches telecomandados.

Naquela zona o lago era realmente estreito, a outra margem não deveria estar a mais de oito metros. Qualquer urso não teria a menor dificuldade em atravessar.

“Sabes? Ainda há pouco, quase morri de medo. Mas agora sinto-me segura”, desabafou.

Esbocei um sorriso. Sentia-se segura devido à minha presença, mal sabia a Penélope que tinha mais medo que ela. Não o manifestei, para não se perder o encanto, e para que continuasse a sentir-se segura. Não havia necessidade nenhuma de estarmos os dois com medo, mal por mal, preferia ser o único a sentir receio.

Ficámos seguramente mais de trinta minutos, sentados no chão à beira do lago, a apreciar as tropelias dos pequenos ursos, perante a paciência da mãe. Foi como se tivéssemos uma janela aberta para a National Geographic, criando uma sensação de leveza que nos levou a esquecer os medos, e o facto de estarmos vulneráveis a qualquer outro urso, que também pudesse estar a espiar-nos.

Metemo-nos novamente no trilho, caminhando na direcção do lago Prosec. Ao longo das margens vislumbramos mais ursos espalhados aqui e ali, por entre a floresta olhando para nós com alguma curiosidade.

Como deve ser bom, ser urso em Plitvice.

A cada curva, fomos surpreendidos com paisagens diferentes, com algo encantador que nos fazia ficar de boca aberta de espanto, como se tivéssemos a ideia de que estas paisagens são imaginárias, só possíveis em postais turísticos.

Chegados ao ponto que tínhamos estabelecido como destino, depara-se diante de nós uma cascata imponente com cerca de vinte metros de altura, fazendo-nos sentir pequeninos, tamanha é a nossa insignificância.

Cansados, mas orgulhosos, brindámos a nossa conquista como se tivéssemos descoberto algo de valioso, em época de descobertas.

Foi descoberto um tesouro, que deveria ser divido por toda a gente.

Plitvice é um tesouro, de valor incalculável, oferecido pela natureza a quem o quiser visitar.

Croácia é um país fabuloso pela sua história, pelas suas gentes, pela sua gastronomia, pelo mar Adriático, pelas suas cidades apaixonantes, pelos seus parques naturais deslumbrantes.

Croácia apaixona-nos e cria em nós o desejo incessante de lá voltar sempre.