Posso contar-vos um segredo? Mas têm de prometer que fica só entre nós, pode ser? Bom, então aqui vai: Akame.

Sim, só isto, Akame. Guardem este nome para quando planearem a vossa visita ao Japão. É o nome de um local mágico, que não consta pelo menos no guia da Lonely Planet, um dos mais famosos e completos de todo o mundo.

E o que há em Akame? Bom, um rio cheio de cascatas e um percurso pedestre que permite percorrer todo o rio e apreciar a beleza mística daquele local.

Akame fica na prefeitura de Mie, perto de Osaka. O seu nome, que significa olhos vermelhos, vem de um homem santo, En no gyoja, que habitou naquele local há 1300 anos. Dele, diz-se que encontrou ali Fudo-myoo, deus do Fogo, montado num boi com olhos vermelhos.

O curso do rio que ali se encontra é desviado e moldado por uma série de pedras que criam muitas cataratas, algumas com bons metros de altura, que proporcionam uma visão muito agradável e um ambiente místico que se pode aproveitar ao máximo, principalmente porque são poucas as pessoas que o visitam. Vão ler nas brochuras sobre as 48 cataratas de Akame, mas o número 48 é simbólico na história japonesa, da mesma forma que o 40 o é nos textos bíblicos, e significa apenas “muito”.

O ambiente é húmido e o percurso é sempre feito ao longo do rio, no meio de uma floresta cerrada. Conforme a estação do ano em que vão, podem ver cerejeiras a florir (na primavera), a verdura do musgo a crescer (no verão), as folhas a cair numa tonalidade única (no outono), ou a beleza do rio congelado (no pico do inverno). Comum a todas as estações é o silêncio. Ouve-se a água a correr e nada mais, se tivermos a sorte, como nós tivemos, de fazer o percurso com muito pouca gente.

No dia em que o fizemos, nem um único estrangeiro encontrámos. Algumas famílias estavam espalhadas pelas primeiras cataratas, e as crianças andavam entretidas com redes a tentar apanhar algum peixe, borboleta ou salamandra que por ali passasse, embora o principal propósito fosse mesmo a diversão, alguns casais passeavam de mão dada a apreciar a vista, e alguns fotógrafos pousavam o seu tripé e registavam a beleza da água a cair pela cascata.

Há cinco cataratas principais: Fudo, com 15 metros de altura e 7 metros de largura; Senjyu, também com 15 metros de altura e 4 de largura; Nunobiki, com 30 metros de altura e muito fina, parece uma corrente de lençóis igual às que as donzelas em apuros deitam das torres dos castelos; Ninai, a cascata dupla, cada uma com 8 metros de altura, que caem para uma lagoa muito grande, que convida bem a banhos; e finalmente Biwa, a cascata que tem 15 metros de altura e parece uma banheira feita de rochas.

Mas o local não é mágico apenas por causa das cataratas. A localização fechada e isolada do mundo (o local tem apenas um ponto de entrada e um de saída 4 quilómetros depois) e as características do terreno fizeram com que este fosse o local de eleição para o treino dos ninjas, agentes secretos japoneses que existiram entre os séculos XV e XVIII, e que treinavam neste local. Hoje em dia já não há ninjas, mas é possível alugar um fato e fazer o percurso com um fato de ninja, e fazer algumas atividades, com um custo extra, relacionadas com o treino dos ninjas.

Chegar a Akame não é segredo, mas também não é fácil. A partir de Osaka ou outros destinos à volta (nós partimos de Nara), é possível chegar de comboio até Akameguchi e depois apanhar um autocarro que serpenteia pelo meio da floresta até que desemboca numa pequena aldeia (é a última paragem, não tem que enganar). Meio perdidos, perguntámos como entrar nas cascatas e lá nos direcionaram para a entrada do parque, bem escondido no meio das árvores. O local é também um santuário de salamandras gigantes, que são monumento nacional no Japão. À entrada, é possível admirar alguns destes exemplares em pequenos aquários (alguns, pequenos demais para o tamanho das salamandras), e no rio será possível observar algumas delas ao vivo no seu habitat. Nós não tivemos essa sorte, mas com aquele tamanho devem ser fantásticas de ver.

Ao entrarmos, parece um daqueles caminhos que se fazem para entrar em Rivendell, na cidade dos elfos escondida no meio da floresta, ou em Machu Picchu, pelo Caminho Inca. A floresta é tão cerrada que é difícil ver o sol.

O caminho de cerca de 4 quilómetros é acessível a todos, apesar das subidas e descidas algo íngremes e escorregadias, e faz-se com tranquilidade. O espaço está preparado para receber visitantes, com casas-de-banho e pontos de descanso ao longo do caminho. O percurso demora 3 a 4 horas, porque o ponto de entrada e saída são o mesmo, principalmente para quem vai lá de transportes públicos ou carro particular, o que significa que os 4 quilómetros se transformam em 8. A grande vantagem de fazer o caminho duas vezes é que, à segunda, e no caminho em direção contrária, se repara em pormenores que escapam na primeira passagem, o que torna o percurso ainda mais bonito. Outra vantagem é que, se não pretenderem fazer o percurso todo por cansaço ou pouco tempo, basta voltarem para trás.

Quando forem ao Japão, farão bem em largar as linhas do Shinkansen (o comboio bala) e entrar pelo país dentro. As vantagens, como esta, vão deixar-vos surpreendidos.

Informações práticas sobre Akame:

Morada: Akame-cho Nagasaka, Nabari City, Mie
Telefone: 0595-63-3004 (Akame 48 waterfalls Keikoku Hoshokai)
Horário de funcionamento: 8:30-17:00
Bilhete: 400 yen (adultos e estudantes do secundário); 150 yen (alunos do ensino elementar e segundário)
Encerra: de 28 a 31 de dezembro
Direções: 10 minutos no Miekotsu Bus da estação de Akameguchi (1h30 da estação Shin-Osaka) até Akamedaki. De carro são 30 minutos da Hari Interchange na autoestrada nacional Meihan (é possível estacionar à porta, mas tem custos, dependendo do local).
Mais informações: http://ninja-valley.com