PHabitualmente preparas as tuas viagens de forma a estabeleceres um plano prévio ou abraças a aventura e deixas que o instinto faça o resto?

RCostumo ter um plano, porque para mim as viagens são sempre trabalho e há que as rentabilizar. Mas os planos têm de ser suficientemente flexíveis para permitir mudanças radicais. Por vezes fico frustrado quando opto por fazer reservas antecipadamente e depois quero mudar de planos, por isso sempre que possível planeio mas não reservo quase nada. É o melhor dos dois mundos.

PConsegues identificar o que de melhor o mundo tem para nos oferecer?

RAs pessoas, sem dúvida. Já me despedi de muitos lugares com lágrimas nos olhos.

PQual ou quais os países mais fascinantes que já visitaste? Porquê?

RProvavelmente o Irão, pelas pessoas, a Mongólia, pela vastidão das estepes e o modo de vida semi-nómada dos mongóis, e a Nova Zelândia, pela Natureza. Mas há muitos outros países que poderia incluir numa lista de destinos favoritos, como o Vietname, a Indonésia, as Filipinas, Myanmar, a Bolívia ou até o Brasil, onde nunca me canso de regressar.

PMas há alguma viagem que te arrependas ter feito?

RAs que me ia arrepender não fiz. Já estive de mochila pronta à porta de casa e, por motivos pessoais fortes (como os primeiros meses após o nascimento da minha filha), desisti à última hora da viagem.

PE há coisas que hoje terias feito de maneira diferente?

RSim. Ter-me-ia despedido e começado mais cedo a trabalhar na área do jornalismo de viagens.

PConsegues isolar o episódio ou situação que positivamente mais marcou as tuas viagens?

REpisódio, não. Mas, como disse antes, consigo indicar o projecto que mais me influenciou na decisão de mudar de vida e dedicar às viagens: o de um norte-americano que criou o primeiro blog a sério de uma volta ao mundo chamado Vagabonding. E consigo indicar a pessoa que mais marcou o meu trabalho de cronista de viagens, com quem mais aprendi e a quem até hoje tenho uma dívida de gratidão por saber dizer “não” nos momentos certos, mesmo com modos bruscos de transmontano: o jornalista Pedro Garcias, que era o editor da revista Fugas quando dei a minha primeira volta ao mundo.

PE negativamente?

RO momento emocionalmente mais difícil em todas as minhas viagens foi simultaneamente um momento muito positivo em termos de crescimento profissional, por isso não sei se encaixa na tua pergunta. Mas foi fazer a cobertura fotográfica do tsunami de 2004, primeiro na Tailândia, depois no Sri Lanka. Na altura, escrevi uma reflexão curiosa sobre o poder da lente fotográfica.

Filipe Morato Gomes em Bcharre
Durante uma viagem a Bcharré, interior montanhoso do Líbano
Filipe Morato Gomes a fotografar em Petra
Fotografar faz parte do trabalho de cronista: no caso em Petra, Jordânia

PQuando preparas as tuas viagens, em termos de segurança, há alguma regra de ouro?

RHá. O bom senso.

PEm viagem, o que é que não pode faltar na tua bagagem?

RPor motivos profissionais, não pode faltar equipamento fotográfico e o computador portátil. Quanto ao resto, tento ser um viajante light.

PHá alguma coisa de que sintas verdadeiramente falta quanto não estás em Portugal?

RAlgumas comidas e, se a viagem for longa e estiver a viajar sozinho, de falar em português.

PAlguma vez te passou pela cabeça mudares de “armas e bagagens” para um dos locais ou países que visitaste?

RAinda não, senão já o tinha feito. Mas pode acontecer. Aliás, já me passou pela cabeça viver em itinerância permanente.

PRevisitar um lugar já te trouxe alguma vez um amargo de boca?

RQue me recorde, não, até porque não tenho o hábito de voltar muitas vezes aos mesmos lugares (regra geral volto aos países, mas não aos mesmos lugares). Há tanto mundo para conhecer!

PAcreditas que algum dia o teu futuro pode passar ao lado das viagens? Até quando pensas fazer este tipo de vida?

RTalvez seja um defeito, mas é raro fazer planos a longo prazo. Daqui a 20 anos, tanto posso estar a escrever reportagens na minha casa em Portugal como a vender água de coco numa barraquinha de praia algures no Brasil (risos). Basicamente, não faço ideia do que o futuro me reserva, mas desconfio que estará sempre ligado às viagens.