Exploradas as ruas de Manola, um passeio pelo campo. Passa por nós um casal, desgastado por anos de convívio, separados umas dúzias de metros entre si. Devem ter ido à vindima. Há por ali muita uva. O passeio acaba numa das pontas da ilha, onde se encontra um velho convento ortodoxo, abandonado mas não em ruínas. A vista ali é de cortar a respiração, porque, sendo um dos extremos da ilha, é também dos pontos mais altos. O mar está lá em baixo, muito ao fundo. E Manola surge distante, já uns meros pontinhos brancos no topo daquela falésia sem fim.
Vão-se fazendo horas de iniciar a jornada de regresso, até porque há que apanhar o barco no porto de Manolas, e isso implica descer uma infinita sequência de escadas, até à zona onde nos meses de Verão os turistas são deixados para uma refeição num dos restaurantes que ali existem. E essa é outra das funções daquelas escadas… manter os visitantes confinados ao pequeno porto, sem coragem para lidarem com os milhares de degraus que se aliam aos quarenta e tal graus de Agosto.
Volto a atravessar Manolas, desta feita com as suas gentes já bem despertas, mirando-me, com alguma surpresa. Descubro que todo o caminho do topo até ao nível da água está a ser calcetado, e o pior é que os homens não querem que eu passe por cima do que andam a fazer. Passo o trecho mais complicado pelo lado de fora, agarrado ao corrimão, com um precípicio do meu lado direito e uma faixa com alguns centímetros onde colocar os pés, calmamente, um após outro, passo a passo. Quando posso regressar à segurança da escadaria o alívio é enorme.
Numa plataforma do porto, uma visão surreal: um velho Suzuki Samurai foi ali deixado, sem possibilidade de ir a lado algum, porque não há nenhuma ligação entre o porto e outras partes para além das escadarias. A tarde está calma. Foi um dos dias marcantes de duas semanas pelas ilhas gregas. E, contudo, baseado numa receita tão simples.


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