Depois da grande vencedora, a Grande Rio – última escola a desfilar naquele dia – trabalhou um tema baseado no carnaval do ano anterior, pois dias antes sofreu um grande incêndio nos seus armazéns e viu-se forçada a preparar tudo de novo. Tratou-se de um tema onde foi encarnada a “superação das dificuldades”, ou seja, algo que tem muito a ver o incidente ocorrido. Entre outros, trouxeram ao desfile o Ronaldo, conhecido entre os brasileiros como “o fenómeno”; o Lula da Silva, durante muitos anos analfabeto; o David e o Golias; e os Judeus, exemplo de grande superação no pós guerra.

Depois de uma noite memorável que se estendeu até de manhã, chegamos a casa com um sentimento de missão cumprida. O Carnaval do Rio marcou-nos profundamente, pelo que não querendo desrespeitar outras experiências que já tivemos oportunidade de viver ao longo das nossas vidas, temos que reconhecer que em termos de espectáculo, esta foi das melhores, senão mesmo a melhor de todas. Várias escolas de samba como milhares de pessoas a desfilar, a dançar e a tocar o mesmo ritmo, onde se juntam quase cem mil pessoas na assistência em quase delírio, é verdadeiramente arrepiante.

No dia seguinte, terça-feira, a rua continua a chamar pelas pessoas para o encerramento desta grande festa. Embora não o tenhamos feito muito cedo, chegamos, ainda assim, a tempo de conhecer o carnaval nocturno das praias de Copacabana e Ipanema, também ele com uma alma muito própria, mas muito diferente do que se faz mais para o centro – a zona da Lapa é um bom exemplo dessa diferença. Nas imediações das praias as pessoas são outras, a música é outra e o clima que paira no ar é também ele outro. Parece-nos uma festa menos genuína e mais comercial, pelo que não temos dúvidas sobre a nossa preferência. Estamos muito mais sintonizados com a festa tradicional, onde o samba contagia pessoas de todos os credos e raças, imbuídos do mesmo ritmo e espírito. Assim, e tal como fizemos nos dias anteriores, regressámos à Lapa. Talvez a comparação seja algo excessiva, mas arriscaríamos dizer que o carnaval da Lapa é como as festas do Santo António de Lisboa, em Alfama. Encontramos algumas pontes entre as duas celebrações, se bem que no Rio em ritmo de samba e em espaços de muito maior dimensão.

O carnaval no Brasil foi uma experiência fantástica, a qual não vamos esquecer até ao fim das nossas vidas. Agora que já conhecemos o Rio do Carnaval, vamos dedicar o nosso tempo a conhecer a cidade do Rio de Janeiro. São inquestionavelmente rios diferentes; rios que desaguam em mares muito próprios.

homem no carnaval da Lapa
No Bairro da Lapa a festa é mais tradicional.
Carnaval na Lapa no Rio de Janeiro
O samba contagia pessoas de todos os credos e raças.