Depois de 26 horas de viagem para chegarmos a Puerto Natales e dois dias com duras caminhadas no Parque das Torres del Paine, saímos bem cedo em direcção ao nosso próximo destino: El Calafate – cidade argentina mais próxima do Parque Nacional dos Glaciares, onde se encontra o mítico Perito Moreno.
Durante a viagem, quando estávamos a passar a fronteira para entrarmos na Argentina, tivemos um pequeno percalço: três indianos que seguiam no autocarro e que necessitavam um visto especial para entrar no país, mas como não o tinham, tivemos de voltar para trás. Atrasámos a viagem uma hora, mas o que é uma hora neste país imenso?
Já em El Calafate, continuámos para o Glaciar Perito Moreno. Chegados lá, e como íamos em tour, fizemos a volta de barco. Vendo agora, não a deveríamos ter feito. É dinheiro mal gasto. Mas mesmo assim tirámos o máximo proveito. “Disparámos” um milhão de fotografias! É impressionante ouvir a rotura do glaciar, que faz um barulho incrível. Um bocado como o das pistolas que se ouvem na televisão. Continuámos o tour de modo a passarmos mesmo para a frente do glaciar. Que imponente! Que magnífico! Perde-se de vista, este glaciar situado entre duas montanhas.
Regressados a El Calafate, o Fred manifestou as saudades que já sentia deste país. De ver as gentes espalhadas em grupos num domingo pela tarde, partilhando o seu mate e ouvindo o relato de futebol na rádio. Na Antena 1 local, suponho.
A ideia era agora ir até Chaltén, para vermos a montanha chamada Fitz Roy. Mas ainda estamos doridos das Torres de Paine, pelo que fazer uma nova super-caminhada, com um tempo que não está a nosso favor, não era a ideia que mais nos fascinava. Contudo, o principal problema nem era tanto o estarmos de rastos, mas o facto de só daqui a quatro dias é que o tempo melhoraria para ver Fitz Roy. E esses dias, nós não tínhamos. Ainda que não pareça muito tempo, quatro dias em cinco meses só para uma viagem destas, são demasiados. Assim, mudámos um pouco o plano. Parados é que não podemos estar. Nem sequer queremos. O plano passou por ir à boleia até Bolsón, mas a distância é imensa e levar-nos-ia bastante tempo. Abandonámos o plano e fomos antes comprar o bilhete de autocarro. Conseguimos um descontinho, não sem antes chorarmos um bocadinho, pois é única forma de se conseguir qualquer coisa.
Voltámos para o hostel. E aqui sim… Pela primeira vez comemos uma comida dita caseira. Fizemos uma massa à bolonhesa. Claro que não tivemos a possibilidade de fazer tudo separado, nem de deixar apurar a comida como o faríamos em casa, mas ficou maravilhoso. Soube pela vida, como se costuma dizer. De barriguinha cheia, e com o banho tomado é hora da cama. O Fred estava com a garganta inflamada. Habituou-se depressa ao frio da tenda. Quando foi para dormir num hostel, que estava demasiado quente, ressentiu-se e teve esta repercussão. Mas está a ser tratado.
Como o autocarro só partia às 16h00, pedimos para fazer um tempo no hostel. Claro que quando chegou a hora do almoço, deliciámo-nos mais uma vez com uma massa improvisada. Depois de comer, saímos e fomos ver a cidade. É pequena, recatada e cheia de turistas. Tantos que, pela primeira vez, vimos uma família de Portugueses que andavam a passear por estes lados. Chegou a hora de partir e de mais 25 horas de viagem. Apesar de muito longas, já nos habituámos a estes números aqui na Argentina. É o preço a pagar para ver baleias, as torres e os glaciares. Para nós, em casa, é demasiado tempo. É certamente uma viagem para ser feita de avião. Por aqui, as condições de autocarro são bastante boas e a vista é sempre a mesma.
Na Rota 3, que atravessa toda a parte Este da Patagónia, o piso é totalmente plano e a paisagem sempre igual. A sensação que temos é que ao olhamos pela janela, em plena tarde, vemos os verdes, castanhos e roxos da vegetação, acompanhados com montanhas, nuvens e o céu, por vezes azul, por vezes coberto. Entretanto chega o pôr-do-sol, aproveitamos para ver o filme que passa ao início da noite, escrevemos um pouco mais e adormecemos. Quando voltámos a acordar, olhamos pela janela e a vista é exactamente a mesma da tarde anterior. Parece que não saímos do mesmo sítio. A certeza em que o autocarro se move só chega quando olhamos para as placas com os quilómetros que faltam para as cidades que se aproximam. Está certo. Estivemos a viajar. São os contrastes do Oeste e do Este da Patagónia. De um lado os Andes, do outro o Atlântico.
Próxima paragem, Bolsón. A cidade hippie na Argentina.
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