Avaliação do editor

Um espaço rico em história e muito fiel à pujança gastronómica beirã.

7
Ambiente
7
Atendimento
7
Comida
8
Preço/Qualidade
6
Localização

Resultantes do engenho e saber das gentes, que através dos séculos souberam inovar e preservar os sabores genuínos da região, há hoje uma enorme profusão de espaços que se assumem como guardiães da cultura gastronómica beirã.

Nos compêndios e edições da especialidade, há uma repetida evocação que sustenta a ideia em que nas Beiras se come demasiadamente bem, na companhia de generosos vinhos e onde quase sempre se paga muito pouco. Embora os tempos sejam outros e o desenvolvimento gastronómico também aqui tenha chegado, contribuindo para que alguns espaços tenham encerrado por dificuldades de adaptação, a verdade é que a região beirã é mesmo especial. Existem excelentes templos que, em troca de um quinhão de poucos euros, se podem revelar em experiências gastronómicas dificilmente superáveis. Não menos verdade, e tal como em qualquer outra parte, há também espaços merecedores de especial atenção; um deles é o restaurante Zé Pataco, instalado em Canas de Senhorim.

Aberto ao público desde 1977 pela mão de José da Costa Santos, o restaurante Zé Pataco resulta da experiência acumulada do seu fundador em vários hotéis e restaurantes da região. Começando por ser um pequeno snack, particularmente apreciado pelos trabalhadores das Minas da Urgeiriça e da Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos, rapidamente fez furor junto da população da região, o que impôs a introdução constante de melhorias, culminado, já em 1998, com a mudança para as actuais instalações. Constituído por um restaurante, um salão para eventos e um jardim com interessantes recantos, acompanhado por uma relva imaculadamente tratada, o complexo é nos dias de hoje também muito utilizado para festas e banquetes.

O restaurante é constituído por duas salas contíguas, ambas de grande dimensão, sendo que a segunda só abre quando a primeira se encontra repleta e a afluência é elevada. No interior, que é desafogado e sem grandes obstáculos naturais, as paredes são construídas por enorme blocos de granito e os tectos, totalmente forrados a madeira, assentam sobre uma complexa estrutura de traves, também utilizada para suportar o extenso conjunto de candeeiros de ferro forjado. Sobre as portas, existem cortinados de cores garridas – vermelho, amarelo e verde –, quase como que a representar as cores nacionais.

De destacar ainda a existência de uma parede totalmente construída em tijolo de vidro, à direita da entrada que, embora em dias encobertos não tenha a finalidade para que porventura foi arquitectada, em dias de sol seguramente representará um elemento importante na luz natural que invade o espaço.

As mesas de madeira rustica, tal como as cadeiras, dispõem de dimensões abundantes e apresentam-se revestidas por toalhas de pano imaculadamente branco.

Já sentado, enquanto se ambienta à luminosidade do espaço e vagueia sobre o extenso rol de opções que o cardápio tem para lhe oferecer, poderá mordiscar uma das variantes de pão – centeio, sementes e broa – disponíveis no cesto que lhe acabam de trazer, bem como entreter o ímpeto voraz do seu estômago com uma verdadeira morcela ou chouriça beirã. Para os menos convencidos com os produtos do fumeiro, estão disponíveis opções como as excelentes amêijoas à Bulhão Pato, o camarão gigante na plancha ou um delicioso queijo fresco, temperado com azeite, orégãos e alho bringido. Este último é um tanto inesperado, mas recomenda-se e é uma verdadeira delícia.

jardim do restaurante zé pataco
Seja antes ou depois da refeição, o jardim do complexo convida ao descanso.
Sala de refeição no restaurante Zé Pataco
As salas são desafogadas e têm uma decoração rústica.

Os mais sensíveis à pujança da gastronomia beirã poderão começar por forrar as paredes do estômago com uma canja de galinha do campo, servida em prado de grandes dimensões, com fundo em forma de ovo e na quantidade que lhe prouver. Rica em gordura, mas não em excesso, e em abundante carne e miúdos, que revelam a origem do animal, o sabor é forte e carregado de recordação, a fazer lembrar os tempos da infância e da sopa da avó.

Passando para os principais, poderá começar pela cabidela de galinha do campo, uma verdadeira iguaria que só por si vale uma visita à casa de José Santos. Confeccionada com sangue e animais provenientes das quintas da região, facto confirmado pela rigidez e gosto característico da sua carne, a cabidela é apresentada em doses fartas, com arroz suficientemente malandro e com um toque a vinagre que se aveluda na boca.