Bruce Chatwin – Na Patagônia

Na década de 1970 o viajante e escritor inglês, Bruce Chatwin, chegou ao auge de suas viagens nômades ao passar diversos meses descobrindo e conhecendo a longínqua Patagônia. Em 1974, tem início a jornada que,  três anos mais tarde levaria a publicação do best-seller “Na Patagônia”. Inspirado por inquietações de sua infância, por um espírito nômade que o autor carregava desde sua juventude, Chatwin, larga seu emprego no jornal Sunday Times e descobre belezas e surpresas de uma região da América Latina que conta com a presença de colonos britânicos, e com isso vai conhecendo mais de si mesmo em cada uma das pessoas que encontra pelo caminho.

Além disso, o livro é um exemplo do como uma narrativa de viagem podem ser em si uma forma de ficção, é possível notar que o tempo todo ao longo do texto há uma variação entre descrições detalhadas da viagem, sempre intercaladas com digressões que trazem histórias, anedotas e casos  ocorridos na Patagônia, onde muitas vezes o leitor fica com uma certa dúvida se eles ocorreram de fato e sobre como o autor tem informações suficientes para narrar de maneira tão precisa. Da mesma forma ao longo da narrativa o autor vai se transformando ao passar pelos lugares, enxergando, descrevendo e acrescentando características particulares a ele mesmo e também a narrativa.

Outro aspecto que dá um caráter especial à leitura do livro são as longas e precisas descrições feitas por Chatwin, nelas se pode transportar ao local narrado e se imaginar presente nas cenas. Vejamos:

“A esposa do espanhol preparou-me um almoço de costeletas frias, e caminhei em direção ao norte, atravessando uma região interrompida por ravinas e mesetas, onde as cores mais improváveis tinham sido escarradas em sua superfície. Em determinado lugar, as rochas eram alternadamente lilases, rosadas e verde-musgo. Numa garganta, de um amarelo-vivo, jaziam eriçados os ossos de mamíferos extintos. Ela dava no leito seco de um lago, rodeado de rochas púrpuras, onde crânios de vacas afloravam de uma crosta de lama alaranjada e escamosa”.

É importante notar a forma como o autor é capaz de enxergar as diferentes camadas do tempo nos lugares em que ele vai passando. E a forma encontrada por ele para colocar isso na narrativa são justamente as digressões que trazem fatos históricos marcantes por ele pesquisados ou ainda outros casos que falem da região. Vejamos mais um trecho:

“No dia 29 de janeiro de 1910, o comissário de polícia Milton Roberts escreveu à Agência Pinkerton, em Nova York, enviando as descrições dos assassinos de Llwyd ApIwan. Evans tinha por volta de 35 anos e cerca de 1,70 de altura. Era entrocado, com cabelos ruivos, provavelmente pintados. Wilson era mais jovem, teria uns 25 anos, media 1,75, era esbelto, de cabelos claros, queimado de sol e tinha nariz curto e reto. Caminhava com o pé direito voltado para fora (é preciso lembrar também que quem tinha pontaria certeira era Wilson, não Evans).

Robert acrescentou que Wilson fora companheiro de Duffy (Harvey Logan) na Patagônia e em Montana, onde haviam assaltado um trem. Só pode ter sido o assalto ao Trem Wagner, no dia 3 de junho de 1901. Era a seguinte composição da quadrilha: Harvey Logan, Butch Cassidiy, Harry Longabaugh, Bem Kilpatrick, ‘O Texano Alto’, com O.C. Hamks e Jim Thornhill encarregados dos cavalos.

Ainda assim, é impossível harmonizar a existência da sepultura em Río Pico com o relato de Lula Betenson sobre o regresso de seu irmão, a menos que o que se segue seja verdade: Butch Cassidy teria confessado a seus amigos de Utah que Sundance Kid fora abatido a tiros na América do Sul […]”.

Há outra característica do livro que o faz especial, a narrativa direta, objetiva e descritiva, aliada a seus capítulos curtos e cheios de histórias que prendem o leitor aos fatos de uma forma que este não percebe o tempo passar ou as páginas se virando. Todos esses aspectos particulares fazem da narrativa de Chatwin uma das mais conhecidas e renomadas narrativas de viagem. Sem dúvida alguma mostra como muitas vezes é possível viajar sem sair de sua casa. Se você já esteve na Patagônia algum dia vai ter prazer em relembrar alguns dos lugares que visitou ao longo das páginas deste livro, caso ainda não conheça o extremo sul do continente latino-americano estas linhas farão com que você comece a planejar imediatamente sua viagem.

:: Escrito de acordo com a ortografia brasileira ::

Na Patagónia

(edição portuguesa)
de Bruce Chatwin

Edição: Maio 2008
Páginas: 400
Editor: Quetzal Editores
ISBN: 9789725647721

Livro Patagónia de Bruce Chatwin à venda em Portugal
Capa da edição portuguesa.

Na Patagônia

(edição brasileira)
de Bruce Chatwin

Edição: Dezembro 1988
Páginas: 320
Editor: Companhia das Letras
ISBN: 9788535907940