Três contos que se lêem num ápice, num cheirinho da Índia de finais do século XIX – dos lugares, das gentes e das canções (de enorme sabedoria). Dos contos – «Para lá da cerca», «O portão das cem mágoas» e «Na muralha da cidade» – talvez destaque os dois primeiros pelas imagens poderosas que transmitem. É dessas mesmas histórias que destaco algumas ideias, que aqui vos deixo.

“O amor não tem em conta a casta nem o sono uma cama dura. Fui em busca do amor e perdi-me.”
Provérbio Hindu

“Haja o que houver, um homem deve manter-se fiel à sua casta, raça e credo. Que o branco continue a ser branco e o preto, preto. Assim, o que quer que ocorra de mal faz parte do curso natural das coisas – não é repentino, nem estranho, nem inesperado.”

“Uma pulseira de vidro quebrada significa viúva hindu em toda a Índia, pois, quando o marido morre, as pulseiras são partidas nos pulsos de mulher. (…) A flor de dhak pode querer dizer ‘desejo’, ‘vem’, ‘escreve’ ou ‘perigo’, consoante os outros objectos que a acompanhem. Uma semente de cardamomo é ‘ciúme’, mas, quando qualquer coisa é duplicada numa carta-objecto, perde o seu significado simbólico e o seu número indica simplesmente uma dada hora, ou, no caso de incenso, iogurte ou açafrão também serem enviados, um lugar.”

“Muito do que foi escrito sobre a paixão e impulsividade orientais é exagerado e em segunda-mão, mas uma pequena parte é verdadeira; e, quando um inglês se dá conta desse pouco, é tão surpreendente como qualquer paixão da sua própria vida.”

“Se, a troco de uma moeda, posso chegar ao céu, porquê terem inveja de mim?”
Citação do fumador de Ópio

“[…] Nada vicia mais uma pessoa, se for branca, do que o Fumo Negro. Com um amarelo é diferente. Os efeitos do ópio mal se notam nele; mas os brancos e os negros sofrem imenso. Claro que há pessoas a quem o Fumo não toca mais do que o tabaco, ao princípio. Ficam um pouco sonolentas, como se fossem adormecer naturalmente, e no dia seguinte estão quase boas para ir trabalhar. […]”

Capa do livro Três Contos da Índia
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O Autor

De pais ingleses, Joseph Rudyard Kipling, nasceu a 30 de Janeiro de 1863, em Bombaim, na Índia. Foi neste país onde passou a sua meninice e onde, depois de ter estudado em Inglaterra, voltou em 1882 para se empregar como jornalista, em Lahore – hoje capital do estado do Punjab paquistanês.

Cedo se tornou célebre entre os súbitos do império na Índia, com os seus poemas e contos, e, logo depois, reconhecido na própria Inglaterra. Kipling foi o primeiro inglês a receber o Prémio Nobel da Literatura (1907), morreu em Londres e está sepultado na Abadia de Westminster.

«[…] o Kipling poeta e contista, e mais ainda este do que aquele, era de modernidade excepcional na energia de um impressionismo extremamente delicado e subtil. Por muito que sejam antipáticos, hoje, os pressupostos ideológicos — mística do “serviço”, missão apostólico-imperial da “raça” britânica, culto dos canhões como suprema razão, heroísmo como atitude vital, fascínio da força e da autoridade —, são inegáveis a intensidade da visão de Kipling, a sua maestria às vezes ostentosa mas sempre superior, a sua arte consumada de sugerir e criar atmosferas, o seu sentido dramático da solidão humana […]»
Jorge de Sena, in “A Literatura Inglesa”

Três Contos da Índia

de Joseph Rudyard Kipling

Colecção: Livros de Bolso
Edição / impressão: 2008
Editor: Biblioteca Editores Independentes / Cotovia
Tradução: José Luís Luna
Páginas: 96
ISBN: 9789899588325